Em homenagem ao Acadêmico Manuel Mateus Ventura, o também membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), professor Isaac Roitman, escreveu um artigo relembrando a trajetória de Ventura. A matéria foi publicada no site da Universidade de Brasília, onde o falecido Acadêmico atuou por grande parte de sua carreira. Confira a seguir:

Faleceu no dia 31 de dezembro de 2018, aos 97 anos, o professor emérito da Universidade de Brasília Manuel Mateus Ventura. Nasceu em Fortaleza no dia 21 de junho de 1921. Formou-se em Agronomia em 1943 na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sua primeira atividade acadêmica foi como Professor de Química Orgânica no curso de agronomia da UFC. Suas primeiras atividades em pesquisa procuraram entender as correlações entre propriedades físico químicas em séries homólogas de compostos orgânicos, assim como no cálculo de propriedades termodinâmicas a partir de dados de espectroscopia infravermelha. Tornou-se professor titular e estimulou jovens para a pesquisa tendo como tema a biologia vegetal abordando questões como ação de inibidores metabólicos na abertura e fechamento de estômatos e na ação de antibióticos no crescimento de plantas superiores. Desempenhou um papel importante na criação em 1958 do Instituto de Química e Tecnologia (IQT/UFC) tendo sido seu diretor até 1968.

Em 1970 foi convidado para a UnB que ainda estava se recuperando da crise de 1965 e que foi registrada no livro de Roberto SalmeronUniversidade Interrompida: Brasília 1964-1965 (editora Universidade de Brasília).

O Instituto de Ciências Biológicas (IB) no início da década de 1970 era constituído de quatro departamentos. O primeiro era o Departamento de Psicologia, que no final da década de 1980 foi transformado em Instituto de Psicologia. A principal ligação desse departamento com as áreas da biologia era realizada pelo grupo de psicologia experimental liderado pelo professor João Claudio Todorov, que se tornou mais tarde decano de Pesquisa e Pós-Graduação, vice-reitor e posteriormente reitor da universidade.

Os outros três departamentos, Biologia Celular, Biologia Animal e Biologia Vegetal, foram criados por se contar no quadro do IB com lideranças capazes de servir como referência para esses departamentos. O Departamento de Biologia Celular era chefiado pelo professor Manuel Mateus Ventura, expoente no campo da físico-química. O Departamento de Biologia Animal era chefiado pelo saudoso professor Wladimir Lobato Paraense, liderança na área de Malacologia. O Departamento de Biologia Vegetal era chefiado pelo saudoso professor Luiz Fernando Gouveia Labouriau, um nome de expressão na Fisiologia Vegetal e que passou um pequeno período na administração superior da UnB ocupando o cargo de decano de Pesquisa e Pós-graduação. Exilou-se na Venezuela e retornou à UnB na década de 80.

O professor Ventura, como era chamado, criou o Laboratório de Biofísica e desempenhou um papel importante na criação do primeiro curso de Biologia Molecular no Brasil, juntamente com os Professores Carlos Médicis Morel e Eugen Gander.

Nas suas atividades de pesquisas dedicou-se aos estudos físicos – químicos, principalmente relacionados a interação proteína-proteína. Nessa época (década de 70), os seguintes professores faziam parte do Laboratório de Biofísica: o saudoso Lauro Mohry (que se transferiu posteriormente para o Laboratório de Bioquímica, onde montou um grupo de estudo de química de proteínas, tendo sido reitor da UnB), Hiroaki Ikemoto (aposentado), Kumiko Mizuta (aposentada), Jefferson Aragão (aposentado) e Celina Martins (aposentada).

As qualidades didáticas do professor Ventura eram excepcionais. As suas brilhantes exposições da área de físico-química eram encantadoras. O Laboratório, graças a visão o professor Ventura era equipado com os mais avançados equipamentos nos estudos físicos e químicos de proteínas. Publicou inúmeros trabalhos, principalmente nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu inúmeras homenagens como a Ordem Nacional de Mérito Científico na categoria de Grã-Cruz, o Prêmio Anísio Teixeira e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

O professor Ventura deixa saudades e um belo legado que passa a fazer parte da história da Universidade de Brasília e da Ciência brasileira.