Convidada a fazer uma palestra especial durante o Simpósio e Diplomação de Novos Membros da ABC 2018-2011 da Regional RJ, a antropóloga e Acadêmica Yvonne Maggie de Leers Costa Ribeiro decidiu não falar sobre sua pesquisa com jovens estudantes de escolas de ensino médio e mudar o tema. “Após a tragédia ocorrida com o Museu Nacional, achei mais adequado falar da minha trajetória nas ciências sociais, do contexto da minha geração e enfatizar a importância dessa área na história brasileira. Estudei no Museu Nacional e isso provocou uma grande mudança na minha visão de mundo e, especialmente, do Brasil.”

Ela relatou que veio de uma família de cientistas, pois é filha do famoso físico Joaquim Costa-Ribeiro, que foi membro da ABC e ativo participante da modernização das instituições científicas centrais do país. “Aprendi desde cedo que as instituições são feitas por pessoas e que não andam sem o empenho e a luta diária de uns poucos heróis, que carregam um pesado fardo. Conheci muitos.”

Emocionada, ressaltou que no dia 2 de setembro um pedaço fundamental dessa história foi consumido pelas chamas e que, com elas, desapareceram infindáveis coleções que haviam sido recolhidas e doadas ao longo dos últimos 200 anos, para formarem um riquíssimo acervo universal.

“Esta morte significa que nunca mais teremos a possibilidade de estudar os milhares de ossos de grupos humanos que viveram aqui antes e durante o descobrimento. Não teremos como estudar as inúmeras espécies que compunham a coleção in vitro. Não veremos mais a cabeça do dinossauro, o trono africano, a múmia da princesa egípcia, única no mundo. Nem a enorme coleção etnológica, com objetos e até gravações de línguas extintas, ou a coleção das religiões africanas, além de outras das quais não se tinha o mínimo registro ainda”, pontuou Yvonne.

A antropóloga relatou que entrou na faculdade em tempos sombrios: 1965. Muitos dos melhores professores tinham sido cassados em 64 e outros o foram em 68. “Este período me fez aprender sobre solidariedade. Os amigos que fiz naquela época perduram até hoje”, observou.

Sua família era de uma linha do catolicismo racional, muito focada nas ciências exatas. Contrariando a tradição, já que a família queria que ela fosse estudar química em São Carlos, Yvonne foi estudar antropologia no Museu Nacional e redescobriu, então, o Brasil. Ela diz que aprendeu lá uma outra forma de ver o mundo. “Estudei religiões africanas e, com isso, abandonei a visão totalizadora do meu catolicismo infantil. Queria pensar por mim mesma e ‘aprendi’ o Brasil de um ponto de vista individual e corajoso.”

Ela diz que ser antropólogo é ter um tesouro nas mãos, assim como a delicadeza de pensar as pessoas a partir de seus próprios termos, “e não impor o que eu penso sobre elas”. Assim, ela passou  a estudar o racismo, o significado da cor da pele para os brasileiros e, então, a educação. “Estes aspectos se relacionam porque o racismo impede a entrada dos negros na universidade. No Brasil, já dizia meu irmão Sergio, se trabalha com a pedagogia da repetência”, salientou Yvonne, observando que isso desestimula os jovens. E o desestímulo se dá, também, porque a escola, em suas palavras, é chata. A antropóloga aponta que existem tantas outras formas de aprendizado hoje em dia que a escola está perdendo terreno. E acrescenta que a estrutura da escola é tão tradicional quanto a dos terreiros. “Ambas trabalham com a existência de uma entidade superior que sabe tudo e que vai nos recompensar com dinheiro ou sabedoria”, reiterou.

Mas estar naquela cerimônia,  diante de cientistas de excelência com menos de 40 anos, revisitando sua história pessoal lhe acende a esperança. “Sou otimista. Acho muito importante valorizar os jovens que lutam por uma vida melhor que a de seus pais. E vocês, novos membros afiliados da ABC, podem ajudar nisso”, ressaltou a Acadêmica.

Yvonne Maggie concluiu destacando a importância de ampliar a área de ciências sociais na ABC, que é a mais recente na Academia e ainda pequena. “Precisamos revitalizar a área.”

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