Nascido em Pernambuco e criado em Santa Catarina, Daniel Lazaro Gallindo Borges ainda iria passar por engenharia, física, química e medicina nas possíveis escolhas de carreira que surgiram no ano do vestibular. Hoje, o novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) optou por Santa Catarina para morar e química para pesquisar. Mais especificamente, pelo ramo da química analítica.
Durante a infância nos anos 80 e 90, Daniel cresceu em Recife (PE) e em Blumenau e Florianópolis (SC). Ele tem boas lembranças dessa época, quando gostava de brincar ao ar livre e jogar bola, mas lembra que a sua brincadeira favorita era a de dar aula: “Passava um bom tempo com meu pequeno quadro verde e giz brincando de dar aula e, claro, aplicando provas para estudantes imaginários, desde que tinha, talvez, 8 ou 9 anos”.
Desde cedo, também, o gosto pela química já se manifestava, “Fiquei encantado quando recebi um kit de experiências de química, era fascinante observar as mudanças no aspecto dos materiais ao misturar diferentes substâncias”, relatou Daniel Borges. As experiências estendiam-se à extração de pigmentos de folhas e flores que encontrava pelo caminho, sempre preocupado em manter as observações em arquivos que classificava como “confidenciais”.
Na escolha da faculdade, Daniel optou pelo curso de química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Realizada entre 1999 e 2003, o cientista lembra com entusiasmo dos tempos da graduação: “O curso de química é consideravelmente difícil e o currículo era (e permanece) bastante rígido e ‘denso’. Mas todo o esforço e cansaço eram atenuados pela satisfação de ampliar os conhecimentos em uma área da ciência que era particularmente fascinante para mim. Creio que aí está uma das muitas verdades da vida: qualquer processo é facilitado quando se está fazendo algo que lhe é interessante e prazeroso de fato”.
No mesmo ano em que se formou, Borges ingressou no mestrado em química analítica na UFSC, concluído em 2005. Logo em seguida, realizou o doutorado na mesma área e na mesma universidade, com período sanduíche no National Research Council Canada. “Durante a pós-graduação, tive a oportunidade de participar de eventos científicos, inclusive em outros países, e de conduzir parte dos experimentos de minha tese de doutorado no Canadá, trabalhando com instrumentos que representavam o ‘estado da arte’ em termos de tecnologia”, contou o químico.
Atualmente, o Acadêmico atua como pesquisador e professor adjunto na UFSC. Dedicado à área de química analítica, Borges trabalha na investigação e no desenvolvimento de técnicas e métodos para a separação, identificação e quantificação de substâncias químicas nos mais variados tipos de amostras.
Sobre o trabalho que realiza com o grupo de pesquisa, ele explica: “Os métodos desenvolvidos em nosso grupo têm sido aplicados, por exemplo, em processos para classificar resíduos sólidos, auxiliando na escolha de processos de disposição e tratamento, na investigação de poluentes atmosféricos e na análise de alimentos, dentre outros. Nosso principal foco é desenvolver métodos que sejam rápidos, simples, ambientalmente corretos e que permitam determinar quantidades pequenas dos elementos químicos em diferentes materiais”.
O químico contou que sempre teve interesse em fazer novas descobertas e entender o “porquê” dos fenômenos que nos cercam, e por isso, acabou seguindo a carreira científica. “A ciência é fascinante por nos permitir entender os processos da natureza e do homem e, sempre que possível, aplicá-los para solucionar problemas do mundo e das pessoas, desenvolvendo a tecnologia de que dispomos no mundo moderno”, relatou o Acadêmico.
Ao falar sobre a honra de receber o título de membro afiliado da ABC, Borges destacou que esta é uma conquista coletiva, em parceria com a UFSC e o Departamento de Química. O cientista também reforçou que, como membro da ABC, pretende incentivar os jovens pesquisadores e os que estão em formação, além de fomentar a discussão acerca das políticas de investimento na investigação científica no Brasil.