Flávia Gomes e Stevens Rehen na cerimônia de recebimento do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência
Na última quarta-feira, 11 de julho, o auditório do Museu da Vida, em Manguinhos, foi palco da cerimônia de entrega do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência. O prêmio possui duas categorias, “Neurociência e infecção por Zika vírus” e “Neuroinflamação e distúrbios de neurodesenvolvimento”, e reuniu um conceituado comitê científico para avaliação dos projetos inscritos, formado por especialistas da área de saúde de instituições de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, França, Argentina e Uruguai.
Os ganhadores são dois ex-membros afiliados da ABC, a pesquisadora Flavia Gomes (membro afiliado entre 2011 e 2015), do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e Steven Rehen (2008-2012), pesquisador da UFRJ e do Instituto D’or. Flávia foi a premiada na divisão de distúrbios de neurodesenvolvimento e receberá com 120 mil euros (aproximadamente, R$ 543 mil), divididos em três anos, e Stevens receberá 30 mil euros (aproximadamente, R$ 136 mil), na divisão sobre Zika vírus.
Zika vírus e Microcefalia
Rehen iniciou a pesquisa em 2016 e identificou, de forma inédita, a relação entre a presença do vírus Zika e o desenvolvimento de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas durante a gestação. Para mostrar esta relação, a equipe liderada por ele utilizou organoides cerebrais, também conhecidos como minicérebros, que são um modelo importante para estudar o desenvolvimento do sistema nervoso central humano. “Células epiteliais foram retiradas da urina de voluntários e, em laboratório, fizemos com que voltassem ao estágio de células-tronco embrionárias, isto é, um estágio em que elas têm o potencial de se transformar em qualquer tipo celular. Depois, demos instruções a essas células para que se tornassem células do cérebro”, explica o cientista. As células foram cultivadas por cerca de dois meses até formarem pequenos aglomerados de cerca de cinco milímetros. Embora não possuíssem a complexidade de um cérebro humano formado, os organoides eram suficientes para fornecer pistas valiosas sobre o desenvolvimento cerebral. Quando infectados pelo vírus Zika, os minicérebros tiveram seu crescimento comprometido.
Esta pesquisa faz parte de um esforço colaborativo entre o Instituto D’Or, a UFRJ, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outras instituições para compreender o vírus Zika e seus impactos sobre a saúde humana. O trabalho contou com apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, da Fundação Capes, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da organização norte-americana Pew Charitable Trusts.
Novas terapias para doenças neurais
O grupo de pesquisa coordenado pela Profa. Flávia Gomes estuda como as células gliais contribuem para o desenvolvimento do cérebro e para o aparecimento e progressão de doenças do sistema nervoso. Para isso, o grupo tem utilizado diferentes abordagens experimentais, incluindo cultura de células humanas e de roedores e modelos experimentais pré-clínicos de doenças. O grupo demonstrou de forma inédita que astrócitos humanos, um tipo de células gliais conhecidas por dar suporte metabólico aos neurônios, ajudam a regular a formação das conexões neurais através da produção de uma série de moléculas. Mais recentemente, o grupo demonstrou, de forma pioneira, que disfunções astrocitárias estão associadas a diversas doenças, incluindo Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, encefalopatia séptica, dentre outras. Atualmente, o grupo busca manipular as vias de sinalização dos astrócitos e suas funções como uma nova perspectiva para orientar a busca de novos alvos terapêuticos para doenças neurais.
O trabalho envolve a colaboração entre diversos grupos de pesquisa do Brasil com o objetivo de entender o papel das células gliais no desenvolvimento e doenças do sistema nervoso. O trabalho contou com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Medicamentos contra o câncer
O evento também celebrou a assinatura do termo de cooperação técnico-científica para pesquisa de produtos naturais. A Servier e Fiocruz desenvolverão em conjunto um plano de trabalho que visa identificar compostos bioativos contra o câncer. As unidades da Fiocruz envolvidas neste projeto são o Instituto René Rachou (IRR), em Minas Gerais, e o Instituto de Tecnologia em Fármaco (Farmanguinhos), no Rio de Janeiro, que mantém uma extratoteca com amostras de produtos de origem natural de plantas, fungos, entre outros com potencial para o desenvolvimento de medicamentos inovadores sintéticos e semi-sintéticos.