Helena Nader denuncia desmonte da ciência nacional
Em tempos de desmonte das políticas públicas de educação, ciência e tecnologia é fundamental debater o papel e a importância do setor para o país. No domingo (08), foi celebrado o Dia Nacional da Ciência (Lei nº 10.221, de 18 de abril de 2001) e o Dia Nacional do Pesquisador (Lei nº 11.807, de 13 de novembro de 2008).
Helena Nader, professora titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex- presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 2011-2017, explica como, mesmo com pouco investimento o Brasil já é referência mundial em pesquisa.
“Entre as áreas mais relevantes, as que o Brasil se destaca, temos a engenharia aeronáutica, a Embraer é a terceira empresa de construção de aviões do mundo. Nunca ninguém tinha feito a associação entre a síndrome da microcefalia e o vírus da Zika, isso é uma descoberta dos cientistas brasileiros”. Ela cita, ainda, que a criação da urna e do sistema de automação bancário no brasil são parâmetros internacionais.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a professora enalteceu a produção científica nacional, que, para ela, é um setor que se mostra avançado, mesmo diante da pouca idade da acadêmia brasileira. A primeira instituição de ensino superior do Brasil, a Escola de Cirurgia da Bahia, foi criada em 1808, seguida das Faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em 1827.
Ela também cobrou mais investimentos no setor “Qual a grande diferença entre os chamados países desenvolvidos e nós, países em desenvolvimento? A educação e a ciência. A Ciência no Brasil, para os governos, é considerada gasto”.
A professora explica que o Brasil não têm política de Estado para a Ciência e Tecnologia, que sofre com as mudanças de governos ficando à mercê dos governantes “entra governo, saí governo, começa uma nova política”.
Ela cita como exemplo a Emenda Constitucional 95, implementada em 2016 pelo golpista Michel Temer, que limita o teto dos gastos públicos por 20 anos, congelando gastos essenciais como a educação, até 2036: “Ela tira o sonho, ela tira o futuro. E ninguém que aprovou essa emenda foi eleito para fazer isso”.
Para a cientista, é necessário lutar para que a educação e a ciência não estejam mais na Emenda Constitucional 95. “Não podemos jogar a toalha e deixar estes que estão aí fazerem tudo como eles acham que tem que ser. Eu prefiro achar que dá para mudar. Eu vou continuar achando que dá para mudar. Eu sou vou deixar achar ou por que mudou, ou por que eu morri”.
Para denunciar esse desmonte, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) convocou toda a comunidade científica e apoiadores a participar das Marchas Pela Ciência, que aconteceram em diversos estados pelo Brasil, em apoio à pesquisa científica.