350-sergios.png O Acadêmico Sérgio Mascarenhas de Oliveira escreve sobre o amigo, colega, físico e Acadêmico, Sergio Machado Rezende e sua recente descoberta publicada na Nature Physics.

“Meu encontro com Sergio Machado Rezende foi um dos eventos mais relevantes que tive na minha vida como cientista e gestor de ciência, tecnologia inovação e educação. Em importante entrevista, quando recebeu o Prêmio Conrado Wessel (2013), ele também prefere se classificar profissionalmente da mesma maneira.

A diferença entre político e gestor é muito relevante. Ha políticos que fazem gestão estratégica e há gestores que fazem política no sentido eleitoral, mas não pelas mesmas vias e ideais. Rezende sempre foi brilhante como estudante, acadêmico, líder científico e gestor da ciência tecnologia, inovação e educação.

Quando membro do CNPq, propus a criação de um Programa Nacional de Centros Emergentes para atender a enorme desigualdade que concentra o desenvolvimento na região Sudeste. Tive apoio inclusive da Capes e Finep, através do então Ministro João Paulo dos Reis Velloso e de José Pelúcio, ambos grandes visionários do desenvolvimento nacional pela via da ciência, tecnologia, inovação e educação. Um dos meus focos preferenciais era Recife, de onde tinham emigrado grandes cientistas brasileiros, como Mário Schemberg e José Leite Lopes.

Na busca de um líder para o projeto, para o qual eu já contava com brilhantes jovens do próprio Recife e decidido apoio do então reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcionilo Lins, convidei Sergio Rezende, então recentemente retornado do MIT (Boston, EUA), onde terminara brilhantemente seu doutorado em engenharia elétrica e de materiais magnéticos. Rezende é o modelo ideal de transdisciplinaridade entre física e engenharia, entre ciência fundamental e aplicada. Tudo aliado a uma personalidade vibrante e criativa. Ele já tinha posição garantida na Puc-Rio e na Unicamp. Apesar dessa zona do conforto, aceitou o desafio e foi para a UFPE, onde em pouco tempo mostrou a sua enorme capacidade de formador de novos líderes e sua liderança como gestor.

A convite do então governador Miguel Arraes, Rezende tornou-se o primeiro secretaário de Estado de Ciência e Tecnologia e criou a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), nos moldes da Fapesp. Em pouco tempo, o Departamento de Física da UFPE tornou-se um dos melhores centros de física do Brasil e da América Latina. Ainda levou à criação do Departamento de Química, com Sérgio Ferreira e equipe, em moldes semelhantes. Em suma, um florescimento espetacular da ciência no Nordeste brasileiro.

Mais recentemente publicada em 2 de abril de 2018], destaca-se uma contribuição de altíssima relevância mundial de Rezende e sua equipe: na [Nature Physics, uma das principais revistas científicas globais, anuncia a descoberta experimental de que fonons podem ter spins magnéticos.

Uma explicação detalhada da descoberta exige conhecimentos avançados de física quântica e magnetismo, mas vou tentar simplificar: Einstein e de Haas tinham demonstrado, com o efeito que leva seus nomes, que um material macroscópico magnético pode interagir com um campo externo, através de seus momentos magnéticos. Mas nunca havia sido provada a origem atômica molecular dessas interações. Na estrutura microscópica, com elétrons e átomos em vibração (‘fonons’, na linguagem da física), surgem interações nas quais os átomos em vibração se acoplam aos spins magnéticos e levam aos conceitos de ‘magnons’ e de fenômenos da chamada ‘spintronics’, fundamentais para memórias de computadores e outras aplicações, inclusive na ótica quântica com os lasers.

Rezende e equipe mostraram experimentalmente, pela primeira vez, que o acoplamento dos fonons com os spins pode dar origem a existência de fonons com spins – conceito anteriormente não existente na ciência! A descoberta coloca o Brasil na longa e acidentada história do desenvolvimento cientifico mundial, considerando que desde o experimento ‘Einstein-deHaas’ em 1915 até o que passo a chamar o ‘Efeito Rezende’ em 2018 passaram-se um século e três anos, o que ilustra a dificuldade e importância da descoberta.”

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