barral_crop.jpgO dia 3 de abril de 2018 marca o lançamento de uma iniciativa inovadora no campo da educação: o Doutorado para o Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS), que faz parte do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biociências e Biotecnologia, conduzido pelo Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e com forte participação dos cursos de pós-graduação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) e do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos).

Nesta entrevista ao Campus Virtual Fiocruz, o vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral, comenta os diferenciais deste doutorado. Ele destaca a participação da indústria, a oferta por demanda em vez de por turmas, e também a flexibilidade na composição das disciplinas para atender às necessidades do projeto, que será desenvolvido como solução para responder a uma situação real.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): O Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS) é uma área reconhecidamente estratégica da atuação da Fiocruz. A necessidade de qualificação é, portanto, evidente. O senhor pode comentar então quais são os principais desafios na formação a serem enfrentados neste setor?

Manoel Barral: A Fiocruz é uma instituição fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS) e isso passa, necessariamente, pelo CEIS, já que a saúde tem um papel importante para o crescimento econômico, a competitividade e o desenvolvimento do país. Na prática, estamos falando do Complexo que garante a oferta de vacinas, medicamentos, derivados de sangue e testes para diagnóstico; do mercado de equipamentos e materiais médicos e do segmento de serviços e assistência à população.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): O que isso representa em termos econômicos?

Manoel Barral: Este segmento demanda investimentos de aproximadamente 11% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e de cerca de 12% da mão-de-obra qualificada do país com 15 milhões de postos de trabalhos diretos ou indiretos. Além disso, a saúde representa cerca de 35% do esforço nacional para o desenvolvimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I)*.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): E quanto ao desenvolvimento social?

Manoel Barral: Por ser um sistema, o SUS agrega vários agentes, com o enorme desafio de criar condições de saúde e vida digna para a população em todo o país. No campo educacional, o esforço precisa ser variado, com atenção à diversidade do pessoal que atua em cada segmento. Para superar problemas agudos e crônicos, precisamos estruturar, fortalecer e ampliar as políticas públicas. Isso significa nos empenharmos para dar respostas efetivas. No caso da saúde, como mencionei, além de formar e qualificar recursos humanos nos mais diversos níveis (do técnico à pós-graduação), temos que investir na consolidação da indústria nacional e na oferta de serviços e ações de assistência.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): Quais os diferenciais desta iniciativa?

Manoel Barral: Além de qualificar profissionais com conhecimentos técnicos, científicos e também sobre ética, o doutorado é centrado na busca por soluções de problemas enfrentados pelas empresas do setor industrial. Ou seja: os doutorandos deverão ser capazes de desenvolver pesquisas, produtos, processos e metodologias para atender às demandas do Complexo Econômico e Industrial da Saúde. Por isso, os candidatos poderão ser de diferentes áreas do conhecimento.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): Como se dará esta articulação da Fiocruz com a indústria?

Manoel Barral: A Fiocruz está em colaboração com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) nesta iniciativa. Convidamos o Senai a participar do processo de identificação da demanda das empresas, o que grou um interesse institucional de participar de forma mais intensa. Desde o início, integramos os institutos do Senai no Rio, em Santa Catarina e na Bahia. O curso de pós-graduação do Cimatec (instituto do Senai na Bahia) é o parceiro da pós-graduação que catalisa a participação dos demais institutos nesta fase. A ideia é que o projeto de doutorado seja construído em parceria, envolvendo uma unidade produtiva do Complexo Econômico e Industrial da Saúde e a Fiocruz. A partir de uma demanda da indústria, será proposta uma solução do problema a ser resolvido.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): E qual o perfil dos alunos desta pós-graduação?

Manoel Barral: Os candidatos podem ser empregados da indústria ou selecionados a partir da divulgação da oportunidade relacionada ao tema do projeto. A proposta abrange todos os níveis da pós-graduação. Ou seja, o projeto será elaborado de forma a equilibrar a sua complexidade com o nível correspondente: especialização, mestrado profissional ou doutorado profissional. O aceite do aluno será condicionado à disponibilidade de orientadores potenciais no programa, e também de supervisores nas empresas parceiras dispostos a trabalhar no projeto de tese construído a partir da demanda, obedecendo, é claro, aos critérios de qualidade científica.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): Este programa permitirá ingresso em fluxo contínuo. Qual a importância de adotar esta estratégia?

Manoel Barral: Este é um ponto importante, pois permite agilizar a execução do projeto. Nós atuaremos para identificar rapidamente um ou mais potenciais pesquisadores-orientadores e eles entrarão em contato com o responsável pelo problema na indústria.

Flávia Lobato (Campus Virtual Fiocruz): E como será a seleção?

Manoel Barral: Vamos lançar um portal do Programa para divulgar as oportunidades. A identificação dos potenciais candidatos será feita pela Fiocruz e também poderá ser feita pelos institutos do Senai, com a possibilidade de participação de outros parceiros.

*Os dados são do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde, vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde e da Rede Alice do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Acesso em março/2015).