Cinco membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) foram contemplados na primeira Chamada Pública do Instituto Serrapilheira: Alexander Birbrair (UFMG, 2018-2022), André Melro Murad (Embrapa, 2013-2017), Daniel Martins-de-Souza (Unicamp, 2017-2021), Pedro Henrique Cury Camargo (USP – 2017-2021) e Roberto Braga Figueiredo (UFMG -2017-2021).
sem_titulo-2.jpgProfessor do Departamento de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recém-eleito membro afiliado da regional Minas Gerais & Centro-Oeste da ABC, para o período de 2018 a 2022, Alexander Birbrair comemorou a aprovação de seu projeto no edital.
Ele conta que, atualmente, a palavra-chave em seu laboratório é “microambiente tecidual”. Segundo o professor da UFMG, ele e sua equipe buscam desvendar a função de cada componente celular nos tecidos sob várias condições fisiológicas e patológicas. “Uma das linhas de pesquisa que o meu laboratório desenvolve é estudar o microambiente do tumor. Sabemos que qualquer tecido no corpo humano tem um microambiente, que controla o funcionamento das células daquele tecido específico. Se cortamos um tumor, vemos muitas células tumorais. Mas, não é só isso. Sabemos que além das células tumorais há muitas células além das malignas”, diz Birbrair.
“Qual é a função de todas essas outras células na progressão do tumor? Será que estas células poderiam servir como alvos terapêuticos antitumorais?”, questiona o pesquisador, que afirma que mesmo ao eliminar as células malignas elas já criaram um microambiente modificado que facilita o retorno do câncer.
Segundo Birbrair, o atual interesse dele e de seu grupo de pesquisa é entender a função das inervações, presentes em todos os tecidos do corpo, na progressão tumoral. “Este estudo pode abrir janelas para milhares de terapias no combate ao câncer. E o edital do Serrapilheira vai contribuir para a expansão dessas pesquisas”, afirma o pesquisador, que propôs também no projeto o estudo do papel das células de Schwann, presentes no sistema nervoso periférico, no microambiente tumoral.
“Queremos avançar com essas informações até chegar em dados fortes o suficiente para levar nossas descobertas para a clínica. Por isso é que essa verba é tão importante. Os melhores projetos aprovados terão a possibilidade de ganhar R$ 1 milhão, um recurso substancial e fundamental para a expansão da pesquisa”, acrescenta o cientista, que conta com o apoio de uma rede de pesquisadores espalhados em universidades do Brasil e dos Estados Unidos.
andre_melro_murad_crop.jpgDoutor em ciências genômicas e biotecnologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), o pesquisador do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen/Embrapa), André Melro Murad foi outro contemplado no edital do Instituto Serrapilheira. Ele explica que a introdução de plantas transgênicas resistentes a insetos foi um avanço para a agricultura. No entanto, os insetos começaram a mostrar resistência adaptativa nas culturas geneticamente modificadas. De olho nessa realidade, ele e sua equipe buscam novos recursos moleculares capazes de conferir resistência às culturas.
“As enzimas digestivas presentes no intestino das larvas de insetos são essenciais para seu desenvolvimento e representam um potencial alvo para o desenvolvimento de novas moléculas inseticidas. O uso de inibidores de enzimas digestivas já mostrou resultados promissores contra alguns insetos. Neste projeto, propomos o desenho racional de inibidores para enzimas encontradas no intestino das larvas de Anthonomus grandis (Bicudo do algodoeiro)”, explica Murad.
daniel_martins_de_souza_crop.jpgDaniel Martins-de-Souza, professor no Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (Unicamp), também ganhou recursos no edital. Segundo o pesquisador, no Laboratório de Neuroproteômica ele e sua equipe trabalham para identificar proteínas produzidas nos cérebros de pacientes com distúrbios como esquizofrenia e depressão que possam ser responsáveis pelo estabelecimento da doença. “Procuramos ainda identificar proteínas que estejam no sangue destes pacientes que possam nos indicar qual o medicamento que cada um deve tomar a fim de se ter um tratamento efetivo”, afirma Martins-de-Souza.
pedro_henrique_cury_camargo_crop.jpgProfessor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Henrique Cury Camargo dedica-se, principalmente, ao design e síntese de nanomateriais metálicos e bimetálicos. O projeto aprovado pelo Instituto Serrapilheira está ligado às propriedades ópticas que alguns metais nobres apresentam na região do visível, como ouro e prata.
Camargo explica que essas propriedades são observadas como resultado da excitação de ressonância plasmônica de superfície nesses materiais pela luz, e tem possibilitado aplicações em imageamento e desenvolvimento de sensores, por exemplo. Recentemente, tem sido demonstrado que essas propriedades ópticas espetaculares também podem contribuir para mediar ou acelerar diversas reações químicas. Essa área, denominada catálise plasmônica, possibilita, inclusive, a utilização de luz visível (como a luz do sol) como uma fonte de energia limpa e abundante para a ocorrência de transformações químicas.
“Nesse projeto eu e minha equipe buscamos não apenas a otimização de performances, mas também uma correlação precisa entre estrutura e propriedade que permitirá novos insights em termos dos mecanismos responsáveis pelas atividades observadas e a descoberta de novas reatividades”, afirma o pesquisador. Ele explica que esses estudos abrem caminho para o desenvolvimento de uma próxima geração de catalisadores que permitam a utilização de luz visível como fonte de energia.
“Isso pode estimular revoluções na indústria química, meio ambiente e energia, tais como a utilização de processos mais verdes; maior eficiência para a fabricação de produtos químicos e fármacos; conversão de gás carbônico, metano e derivados da biomassa em combustíveis líquidos ou produtos químicos de alto valor agregado, por exemplo”, destaca Camargo.
roberto_braga_figueiredo_crop.jpgDoutor em Engenharia Mecânica pela Universidade do Sul da Califórnia, com estágios de pós-doutorado realizados nas universidades de Southampton, Federal de Minas Gerais e do Sul da Califórnia, Roberto Braga Figueiredo é professor da UFMG desde 2011, onde leciona disciplinas na área de materiais. Ele também foi contemplado com o edital Serrapilheira.
Figueiredo se dedica a estudar novos materiais que, para serem utilizados em engenharia, precisam se comportar de forma previsível quando submetidos a estímulos como força e calor. “Materiais com função estrutural precisam ser capazes de suportar alguns níveis de tensão sem quebrar”, explica ele. É importante também que o material seja capaz de deformar plasticamente antes de quebrar, para permitir dar forma a componentes e também para absorção de energia em caso de impacto. “Um dos focos do meu projeto de pesquisa é o desenvolvimento de materiais a base de magnésio, com elevada capacidade de deformação plástica e capacidade de suportar maiores tensões”, esclarece o cientista.
Segundo o Acadêmico, estes materiais poderiam ser utilizados para a fabricação de componentes estruturais mais leves. “Outro foco do meu trabalho é o desenvolvimento de materiais a base de magnésio que apresentem degradação controlada em meio fisiológico, para permitir a fabricação de implantes biodegradáveis. O desenvolvimento destes novos materiais terá como princípio o controle da estrutura do magnésio e sua mistura mecânica a outros materiais para melhoria das propriedades”, afirma.
Sobre o edital Serrapilheira
Instituição privada de apoio à ciência, o Instituto Serrapilheira escolheu ao todo 65 projetos, do universo de 1.955 propostas recebidas. Concorreram ao edital pesquisadores de 331 instituições diferentes, espalhadas por 26 unidades federativas do país. Ainda de acordo com o Instituto Serrapilheira, predominaram projetos de pesquisa em ciências da vida (60%), seguidos por engenharias (13%), química (9%), ciências da terra (6%), ciência da computação (5%), física (5%) e matemática (2%).
A chamada previa que os pesquisadores classificassem seus projetos segundo sete grandes temas propostos. Dos 65 projetos selecionados, prevaleceram, pela ordem, pesquisas relativas a informação, tempo, energia, identidade, matéria, forma e espaço. Confira aqui a relação final dos aprovados na primeira Chamada Pública do Instituto Serrapilheira.
Voltada para jovens doutores que tenham recebido a titulação a partir de janeiro de 2007 – ou para mulheres com filhos que concluíram o doutorado em 2005 e 2006 – , a primeira Chamada Pública do Instituto Serrapilheira ofereceu apoio a projetos de pesquisa nas áreas de ciências da computação, ciências da terra, ciências da vida, engenharias, física, matemática e química. Os interessados tiveram de 15 de agosto a 15 de setembro para cadastrar as propostas.
O edital deu destaque especial à capacidade do cientista em promover a divulgação de seu projeto em uma linguagem acessível, visando à popularização da ciência. Além disso, os pesquisadores foram desafiados a justificar seus projetos com base nos seguintes temas: energia, espaço, identidade, forma, tempo, informação e matéria.
Num primeiro momento, seriam selecionados até 70 projetos com subvenção máxima de R$ 100 mil. Depois de um ano, de 10 a 12 projetos dentre os 70 iniciais serão contemplados com aportes de até R$ 1 milhão para três anos de pesquisa. Parte desses recursos serão condicionados a políticas de diversidade, que promovam a inclusão.
Um Conselho Científico avaliou os projetos, que precisaram ser encaminhados em inglês. Os recursos aos projetos começarão a ser pagos em janeiro de 2018. O primeiro ciclo de apoio dessa Chamada Pública do Instituto Serrapilheira será encerrado em dezembro de 2021.
O Instituto Serrapilheira
instituto-serrapilheira-copia_edit-3.jpgCom sede no Rio de Janeiro, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada organizada sob a forma de associação civil e sem fins lucrativos. Operará com recursos oriundos de um fundo patrimonial constituído por doação em caráter irrevogável de Branca e João Moreira Salles, no valor de R$ 350 milhões.
A instituição propõe atuar de forma complementar às agências de fomento dos governos federal e estaduais no estímulo a grupos de pesquisa. A ideia é estimular grupos jovens, ousados e criativos, que possam desenvolver pesquisa de ponta, competitiva em nível internacional, com potencial para ocupar espaço significativo nas melhores revistas científicas de cada sub-área das ciências naturais.
O Instituto Serrapilheira nasceu em 2014, mas foi oficialmente lançado em 22 de março deste ano. Para construir a instituição, os fundadores visitaram organizações semelhantes no Brasil e no exterior, promoveram debates em torno da ciência brasileira e se aconselharam junto à comunidade científica do país.
Após uma clara definição de objetivos, foi aberto um edital para a escolha da diretoria executiva, que, uma vez definida, participou dos arranjos ainda necessários para definir a estruturação da organização. A instituição tem hoje o geneticista francês Hugo Aguilaniu como diretor-presidente e o Acadêmico Edgar Dutra Zanotto como presidente do Conselho Científico.
O Conselho é composto por 12 cientistas de renome internacional, dentre os quais o presidente da ABC Luiz Davidovich , o vice-presidente da ABC para a região São Paulo Oswaldo Luiz Alves , o membro correspondente da ABC Étienne Ghys , a Acadêmica Mayana Zatz , a Acadêmica Cristina Pinheiro de Campos e o ex-membro afiliado da ABC (2008-2012) Stevens Rehen.