A Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com a Academia Chinesa de Ciências e o Comitê pela Erradicação da Pobreza da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), promoveu nos dias 9 e 10 de dezembro, em Pequim (China), a Conferência Internacional “Science-Based Solutions for Poverty Eradication and Sustainable Development: Science Academies working together to tackle SDGs 1 and 10”. O encontro, que reuniu representantes de Academias de Ciências das Américas, África, Ásia e Europa, discutiu a utilização da ciência e da inovação tecnológica para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades.
Criado em 2013, o Comitê pela Erradicação da Pobreza da IAP é presidido pela ABC. O grupo tem por objetivo debater estratégias visando engajar as Academias de Ciências do mundo nos esforços em prol da erradicação da pobreza e redução das desigualdades, no âmbito da implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU)
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Na cerimônia de abertura, o presidente da ABC Luiz Davidovich destacou a importância da reunião, tanto do ponto de vista da ciência como da ética. Segundo ele, encontros como este tornam possível a troca de visões e experiências sobre a utilização da ciência e da inovação tecnológica para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades.
“Desde 2013, quando da realização da Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP) no Rio de Janeiro, a ABC vem buscando conclamar as Academias do mundo a inserirem este tema em suas agendas”, afirmou. “É com grande satisfação que vejo a Academia Chinesa de Ciências sediando uma reunião sobre este tema – a segunda, tendo-se em conta a realizada em Manaus em 2014”, acrescentou Davidovich.
Vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências, Zhang Tao saudou os participantes do evento e chamou a atenção para o fato de que, na China, tanto a Academia de Ciências como o governo abraçaram fortemente o compromisso de mobilizar a comunidade científica nacional para contribuir com os esforços de redução da pobreza no país.
“A China entende claramente o papel central que a ciência e a tecnologia cumprem no desenvolvimento nacional. Graças aos esforços realizados, o país removeu milhões de cidadãos para fora da linha de pobreza”, disse Zhang Tao.
Segundo ele, ainda restam 40 milhões de chineses vivendo abaixo da linha de pobreza, mas a meta do governo é que num horizonte de poucos anos todos estes sejam incorporados a uma cidadania mais plena. “Não se pode deixar nenhum cidadão para trás”, defendeu Zhang Tao.
O vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências fez questão ainda de ressaltar a liderança da ABC no esforço de mobilização das Academias de Ciências do mundo, através do Comitê pela Erradicação da Pobreza. Ele colocou a Academia de Ciências da China à disposição para contribuir com este esforço.
Os debates que se desenvolveram na conferência em Pequim foram guiados por dois eixos. O primeiro procurou discutir o desafio de “Como pode a ciência contribuir para acabar com a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares” (Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 1) e, o segundo, se debruçou sobre a questão de “Como pode a ciência contribuir para reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles” (Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 10).
Para os representantes das Academias de Ciências presentes no evento, já é evidente que as Academias contribuem de forma efetiva em temáticas relacionadas a vários dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), tais como na atuação em frentes como segurança alimentar e hídrica, saúde, educação, energia, mudanças climáticas, biodiversidade. No entanto, não parece ser tão claro ainda o potencial de contribuição da ciência para o alcance dos objetivos de se acabar com a pobreza (ODS 1) e de se reduzir a desigualdade no mundo (ODS 10).
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Ao reconhecer serem estes os objetivos os de maior relevância, tanto do ponto de vista da sustentabilidade do planeta como como do ponto de vista ético, a ABC tem liderado globalmente um esforço de sensibilização das Academias de Ciências. Nesse sentido, a instituição tem convocado as Academias a se envolverem nos processos nacionais de implementação e monitoramento dos ODS. A ABC tem também pedido para que as Academias deem atenção especial aos ODS 1 e 10, que usualmente não estariam no campo de intervenção mais direta das Academias de Ciências do mundo.
Para ajudar na identificação de estratégias que permitam às Academias intervirem nestes dois desafios fundamentais, o Comitê pela Erradicação da Pobreza tem mobilizado cientistas naturais e sociais. Esta é uma característica inovadora, pois envolve, num mesmo processo, comunidades que não têm por hábito ou cultura trabalharem em sintonia, apesar da óbvia necessidade desta articulação, para que se possa fazer frente ao enorme desafio de combate à pobreza e desigualdade em diversos países e regiões do planeta.
A importância desta interação foi destacada pela Acadêmica Elisa Maria da Conceição Pereira Reis, que também representou a ABC na conferência de Pequim. Segundo Elisa, se é verdade que a especialização disciplinar é crucial para fazer avançar o conhecimento científico, sem uma efetiva colaboração transdisciplinar não estaremos preparados para responder aos desafios que confrontamos. “Erradicar a pobreza e reduzir as imensas desigualdades, que afetam tanto os países mais pobres como os mais ricos, exige de nós diálogos intensos e extensos”, defendeu ela.
“Se podemos e devemos falar de uma comunidade científica é tanto porque nossas diversas disciplinas se justificam pelo mesmo princípio ético da responsabilidade social, como porque reconhecemos que nossos problemas e nossas propostas de solução demandam de nós efetiva colaboração”, acrescentou a Acadêmica.
Ações acordadas
A reunião de Pequim aprovou as seguintes ações:
(1) Elaboração de uma “Carta de Pequim”, conclamando as Academias de Ciências a se engajarem efetivamente nos processos nacionais e regionais referentes aos ODS, dando especial atenção para os desafios de erradicação da pobreza e diminuição das desigualdades.
(2) Publicação no website da Rede Global de Academias de Ciências (IAP) informações referentes às duas reuniões já realizadas pelo Comitê pela Erradicação da Pobreza – Manaus (dez 2014) e Pequim (dez 2017).
(3) Organização de documentos sobre Pobreza e Desigualdade produzidos por diferentes Academias de Ciências e Redes Regionais de Academias de Ciências, disponibilizando este material na área do comitê no website do IAP.
(4) Produção, no médio prazo, de uma declaração da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), conclamando a comunidade científica internacional a se mobilizar e engajar nos esforços de implementação da Agenda 2030, especialmente no que diz respeito à implementação dos objetivos de erradicação da pobreza e redução das desigualdades.
(5) Promoção, no final de novembro de 2018, de um simpósio internacional sobre Ciência para a Erradicação da Pobreza e Redução das Desigualdades, reunindo especialistas de renome internacional, visando dar repercussão e visibilidade a estes temas.
(6) Formação, desde já, de um comitê científico para organizar o simpósio internacional de 2018. Participarão deste grupo os membros do Comitê pela Erradicação da Pobreza do IAP, representantes das Academias de Ciências da China, Índia e África do Sul, e a diretoria executiva do “Improving Scientific Input to Global Policymaking Project”, iniciativa do IAP financiada pela Carnegie Corporation of New York.
Em breve, será disponibilizado no site da ABC um relatório mais detalhado da reunião, com a síntese das conferências proferidas.