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A Academia Brasileira de Ciências (ABC) diplomou na tarde de quarta-feira, 29 de novembro, os novos membros afiliados da Regional Nordeste e Espírito Santo para os períodos de 2017 a 2021 e 2016 a 2020. Eles receberam as boas-vindas do presidente da ABC, Luiz Davidovich; do vice-presidente da Regional Nordeste e Espírito Santo, Cid Bartolomeu de Araújo; e do pró-reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal Pernambuco (UFPE), Ernani Rodrigues de Carvalho Neto, que representou o reitor Anísio Brasileiro. A cerimônia aconteceu no auditório do Instituto de Física da UFPE.

Participaram do encontro Andrey Chaves (ciências físicas – Universidade Federal do Ceará), Eduardo Santana de Almeida (ciências da engenharia – Universidade Federal da Bahia), Fágner Dias Araruna (ciências matemáticas – Universidade Federal da Paraíba) e Francisco Anacleto Barros Fidelis de Moura (ciências físicas – Universidade Federal do Alagoas). Além deles, recebeu o diploma a única afiliada eleita nesta região para o período de 2016 a 2020, Elizabeth Soares (ciências biológicas – Universidade Ceuma/MA). Também eleito, o cientista Amauri Jardim de Paula (ciências químicas – Universidade Federal do Ceará), que está fazendo estágio de pós-doutorado nos Estados Unidos, não pôde comparecer à cerimônia.

Em clima de confraternização, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, felicitou os jovens cientistas por terem sido escolhidos como novos membros afiliados da Academia. Ele também lembrou ao grupo a importância e responsabilidade do novo título. “Contamos com vocês para defender a ciência brasileira junto com a Academia. Especialmente neste ano que está por vir, com perspectivas de novos cortes no orçamento e grave risco à ciência nacional. Desenvolvimento não se reduz a ajuste fiscal. Desenvolvimento é ciência, tecnologia, inovação e educação de qualidade para todos”, afirmou Davidovich.

O presidente destacou ainda que gostaria que os novos membros encarassem a afiliação não apenas como um reconhecimento honorífico às suas carreiras, mas como uma oportunidade de participar desse centro de reflexão sobre o Brasil que é a ABC. “O país precisa com urgência de um projeto nacional. Nós sabemos que a ciência, tecnologia e inovação são essenciais para o desenvolvimento de qualquer país e não seria diferente com o Brasil”, disse Davidovich.

Davidovich relatou que a ABC está finalizando a produção de um estudo que envolveu 150 cientistas de 15 áreas distintas e que apresenta propostas para o desenvolvimento do país. “O documento Um Projeto de Ciência Para o Brasil será distribuído aos governos federal, estaduais e municipais e aos parlamentares. Nele, vamos mostrar o que a ciência pode fazer pelo Brasil”, disse Davidovich. “Gostaria muito que os novos membros participassem desses debates que vão construir o Brasil. Este é um projeto de nação que falta ao país”, acrescentou ele.

Antes de passar a palavra para o pró-reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-graduação da UFPE, Ernani Rodrigues de Carvalho Neto, o presidente fez questão de ressaltar a firme mobilização da Acadêmica Mayana Zatz, convidada a conduzir a palestra magna da diplomação, na luta pela ciência nacional. Davidovich também lembrou à plateia da presença do Acadêmico e ex-ministro de Ciência e Tecnologia (2005 a 2010), Sérgio Machado Rezende. “Devemos a ele muitos dos laboratórios que existem no Brasil hoje”, frisou.

Em sua fala, o pró-reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-graduação da UFPE destacou a necessidade das universidades e as associações de ciência se unirem em defesa dos recursos para a manutenção dos institutos de ensino e pesquisa do país. Ernani Neto sugeriu a criação de um escritório de lobby em Brasília para a defesa dos interesses da ciência e da educação. “A ciência, como um todo, precisa se organizar. É preciso que tenhamos um controle de todos os projetos de lei que envolvam a ciência brasileira e que estejam tramitando na Câmara e no Senado”, disse o pró-reitor, ressaltando a importância da pressão social junto aos parlamentares.

Palestra Magna: GenÉTICA

mayana.jpg Professora titular de Genética do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) a Acadêmica Mayana Zatz é coordenadora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e células-tronco (CEGH-CEL) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – e do Instituto Nacional de Células-Tronco em doenças genéticas. Mayana optou por trazer uma apresentação leve, descontraída, mas bastante reflexiva sobre os desafios éticos que envolvem a pesquisa na área da genética. Para ela, cientistas, médicos, juristas e toda a sociedade precisam começar a pensar sobre os caminhos, legais e morais, que os usos dos estudos na área de genética deverão seguir.

“Testes genéticos são cada vez mais importantes, mas temos dilemas éticos. Até onde vai nossa responsabilidade e direito de intervir?”, disse Mayana, listando uma série de exemplos hoje já vividos pelos médicos e cientistas. “Na Síndrome de Prader-willi, que envolve a obesidade mórbida, sabemos que o cromossoma atrelado à doença é paterno. Sabendo disso, temos o seguinte fato: uma família decide realizar o teste para evitar que o filho tenha essa síndrome. No momento que fazemos o teste, identificamos que a criança não era filho do pai que o cria. Será que devemos contar ou não?”, questionou a pesquisadora. “Não existe jurisprudência para esses casos e temos que usar o bom-senso. É importante saber que a incidência de falsa paternidade vai de 3% a 10% dos nascidos”, disse a Acadêmica.

“E sobre o Mal de Alzheimer: será que todos nós gostaríamos de saber previamente se teremos ou não a doença? Se nós pudéssemos saber, esses dados deveriam ser públicos ou privados? As seguradoras devem ou não exigir testes genéticos para prever doenças como essas em seus segurados e, assim, estabelecer o preço das apólices? Será que teríamos condições de impedir isso?”, perguntou Mayana.

A Acadêmica levantou ainda outros questionamentos que deixaram a plateia bastante curiosa: “Nós, brasileiros, somos felizes por causa do sol, futebol e carnaval ou por causa dos genes? Sabemos que a análise genética pode apontar sim para características de personalidade. Mas, será que as escolas ou empregadores teriam direito de pedir nossos testes genéticos para identificar tendência criminal, otimismo ou pessimismo?”, questionou a pesquisadora.

E os desafios éticos não param por aí. Além da análise genômica ajudar a diagnosticar a propensão de um paciente ter câncer de mama, como foi o caso da atriz Angelina Jolie, ela pode ser usada para testar o desempenho nos esportes, bem como a inteligência. E mais, a manipulação gênica pode levar, inclusive, à possibilidade de escolhermos embriões saudáveis ou filhos com determinadas características, sejam físicas, intelectuais ou emocionais.

E se pudéssemos não apenas selecionar, mas editar os genes? Isso seria fundamental para evitar doenças genéticas. Mas é ético ou não? Mayana ressaltou que a edição do genoma pode ser feita tanto para melhoramento da saúde, quando da beleza, da inteligência e da aptidão para esporte.

“A medicina do futuro será preditiva, personalizada e participativa. Como os médicos vão se preparar para isso? Como a tecnomedicina vai revolucionar a medicina? Quais serão os limites? A morte será uma escolha e não o nosso destino? Saberemos lidar com essa revolução?”, disse a geneticista.

Mayana acredita que as pessoas morrem antes do seu limite genético, que nos permitiria viver até os 150 anos. “As alterações genéticas vão permitir, sim, o prolongamento da vida. Mas esbarramos numa questão de ética sempre. Será que os juristas vão nos apontar caminhos?”, concluiu a Acadêmica.

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Confira aqui o perfil dos novos membros da ABC na regional Nordeste & Espírito Santo

Entrou de gaiato e adorou o navio
Químico de formação, Amauri Jardim de Paula viu o interesse pela ciência surgir tarde: entrou desavisado na atividade profissional e hoje coordena um grupo de estudos que se dedica a gerar superfícies inteligentes de metais e polímeros para reduzir infecções em hospitais.

Físico precoce
Professor adjunto do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará e pesquisador associado da Universidade de Columbia, Andrey Chaves foi atraído para a física ainda na infância, mas quase mudou de caminho na graduação.

Um vizinho, um computador e um admirável mundo novo
Professor associado da Universidade Federal da Bahia, Eduardo Santana de Almeida apaixonou-se pela ciência da computação ainda na década de 90, quando viu pela primeira vez um jogo rodar num computador. Hoje ele se dedica ao desenvolvimento de software reutilizável.

Quando a fruta cai perto do pé
A bióloga Elizabeth Soares Fernandes encontrou no pai farmacêutico a inspiração para seguir a trilha da ciência. Ela pesquisa a relevância de determinadas proteínas e suas contribuições para a progressão de doenças, no Uniceuma.

Das tabuadas caseiras aos sistemas distribuídos
O matemático e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba Fágner Dias Araruna estuda “sistemas distribuídos”. Ele defende a presença constante da matemática no cotidiano da população.

Entre violões e bandolins, a física quântica
De um número de circo, nascia uma certeza. Físico e pesquisador da Ufal, Francisco de Moura hoje se divide entre a ciência e a paixão pela música, que vem desde os tempos de faculdade.