jose-marengo.jpgDeclaração da Parceria InterAcademias (IAP) articulada por grupo de cientistas de Academias do mundo todo teve representação brasileira do Acadêmico José Antonio Marengo Orsini, professor titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
Declaração da Parceria InterAcademias (IAP)
O Marco de Sendai para Redução de Riscos de Desastres 2015-2030, assinado pelas nações do mundo em março de 2015, busca estimular a pesquisa em ciência e tecnologia para lidar com os riscos de desastres naturais e seus impactos. É necessário o desenvolvimento de estratégias para prever o evento, gerenciar a emergência no momento em que ocorrer e, garantir a recuperação efetiva depois da ocorrência e fortalecer a resiliência.
Com o crescimento populacional e a concentração de populações em áreas urbanas, no entanto, os impactos dos desastres naturais estão aumentando, especialmente em regiões com desenvolvimento descontrolado e fraca infraestrutura de engenharia. Há ainda a questão de quanto as mudanças climáticas estão exacerbando a frequência e intensidade dos furacões no Atlântico, por exemplo.
Durante a elaboração deste documento, inclusive, diversas regiões do planeta foram devastadas por desastres naturais: deslizamento de terras em Serra Leoa e Colômbia, enchentes em Bangladesh, os furacões Harvey, Irma e Maria nas ilhas do Caribe e no continente americano, terremotos no México e na fronteira Irã-Iraque, e incêndios florestais na Califórnia, entre outros.
“Como esta Declaração da IAP [Parceria InterAcademias] aponta”, diz Krishan Lal, co-diretor indiano da IAP para Ciência, “é a população mais pobre, especialmente de países em desenvolvimento, que são mais afetadas pelos desastres naturais. Como sociedade, estamos falhando no investimento em infraestrutura e outras intervenções que salvariam vidas e meios de sustento, assim como economizaria recursos.
A Declaração em si foi elaborada por um time de especialistas nomeados pelas Academias que são membros da IAP, liderados pelo Conselho de Ciência do Japão (SCJ, na sigla em inglês). Como ressaltou Shigeko Haruyama (SCJ), líder do grupo de trabalho: “Mesmo num país rico e bem preparado como o Japão, estamos sempre aprendendo e lutando para melhorar nosso preparo e respostas para desastres naturais. O terremoto Tõhoku, o tsunami e o desastre nuclear ocorridos no leste do Japão em 2011, por exemplo, nos ensinaram muitas lições valiosas. Tentamos integrá-las nas recomendações desta declaração da IAP.”
As quatro principais recomendações da Declaração do IAP
1. Promover e fortalecer o desenvolvimento de uma plataforma comum em nível nacional por meio da qual as partes interessadas e cientistas mantenham diálogo constante nas línguas locais. O objetivo é o apoio aos esforços dos governos e cidadãos na redução de riscos de desastres e resiliência pela criação de laços inter e transdisciplinares.

Aqui a Declaração propõe maior uso de dados de satélites terrestres de observação; o uso de tecnologia de big data; ampliar a compreensão das populações sobre os procedimentos em desastres, especialmente grupos vulneráveis que vivam em áreas de risco, por meio de esforços educativos; e o desenvolvimento de orientações para plataformas nacionais para coordenação dos preparativos e respostas aos desastres naturais.
2. Atribuir papel importante na redução de riscos de desastres à ciência de desastres, engenharia de mitigação de desastres, ciências ambientais e ciências sociais, particularmente sociologia, geografia e economia, ciências da saúde, ciências da terra, observação terrestre e outras áreas relevantes. Estas áreas devem criar uma estrutura colaborativa para garantir esforços interdisciplinares para aumentar a resiliência das comunidades locais a desastres naturais.

Aqui a Declaração propõe o desenvolvimento de procedimentos operacionais padrão para o aconselhamento científico e comunicação no momento das situações emergenciais de desastres; fornecimento de informações que facilitem o investimento necessário para a construção de sociedades mais resilientes; informação aos cidadãos sobre os riscos de desastres por meio de avisos preventivos antecipados sobre os possíveis impactos e mapeamento dos riscos; desenvolvimento de sistemas de aviso e resposta portáteis que possam ser aplicadas a diversas localidades.
3. Promover pesquisa científica e tecnológica em níveis local, nacional e internacional para estabelecer plataformas nacionais inclusivas, efetivas e sustentáveis para apoiar os esforços em redução de risco de desastres e resiliência, por meio de cooperação transdisciplinar.

Aqui a Declaração propõe o uso mais efetivo de dados de pesquisa, especialmente de países em desenvolvimento; construção de redes e troca de experiências bem-sucedidas entre os países; e o desenvolvimento de métricas apropriadas de modo que os países possam documentar e monitorar seus progressos.
4. Para a implementação efetiva do conhecimento existente no processo de desenvolvimento e no cotidiano das pessoas, é preciso criar ciência por demanda para segurança, especialmente em países em desenvolvimento onde segurança não é necessariamente uma prioridade para o governo ou para a população.

Aqui a Declaração aponta que a demanda pode ser criada por meio do fortalecimento da comunicação de risco e transformando em bem público a demanda das pessoas por moradias seguras, cidades seguras, energia confiável, bom gerenciamento de água e ar limpo; traduzir a demanda por segurança em benefício econômico; e implementando regulamentação para códigos de construção, padrões de segurança e uso da terra.
“A Declaração oferece uma série de recomendações e uma agenda de ações para reduzir o impacto dos desastres naturais”, confirma o alemão Volker ter Meulen, que é o outro co-diretor da IAP. “Os governos nacionais têm que fazer mais para honrar o compromisso que assumiram com o Acordo de Sendai, mas as academias de ciências e outras instituições científicas também podem ajudar, criando núcleos que possam coletar informação científica relevante e disponibilizá-la para os formuladores de políticas públicas de maneiras compreensível e acessível, para subsidiar a tomada de decisões.”
A divulgação desta Declaração está sendo coordenada pelo Conselho de Ciência do Japão e foi lançada oficialmente em 25 de novembro de 2017, na “Conferência Internacional de Ciência e Tecnologia para Sustentabilidade 2017 – Fórum Global de Ciência e Tecnologia para resiliência a Desastres 2017″ , realizada no Japão entre 23 e 25 de novembro.
As Declarações da IAP só são divulgadas depois de aprovadas por um Comitê Científico Executivo e após seu conteúdo ser endossado por mais da metade dos membros da IAP. Assim, o conteúdo desta Declaração da IAP é apoiado pela credibilidade e independência da maioria das Academias de Ciências do mundo.
Sobre a IAP
A Parceria InterAcademias (IAP) foi formalmente lançada em março de 2016, na África do Sul, e trouxe consigo três redes globais estabelecidas de academias de ciências, medicina e engenharia.
A Parceria InterAcademias conta com mais de 130 academias nacionais e regionais como membros, trabalhando juntas para apoiar o papel especial da ciência e eus esforços para buscar soluções par aos mais desafiantes problemas globais. Em particular, a IAP aproveita a experiência dos líderes mundiais – cientistas, médicos e engenheiros – para avançar em políticas, promover excel~encia em educação científica, melhorar a saúde pública e alcançar outros objetivos críticos para o desenvolvimento.
A IAP para Ciência, fundada em 1993 como Painel InterAcademias, envolve 113 academias das 130 que são membros da Parceria InterAcademias.
Veja a Declaração original aqui.