Em sua edição de domingo, 20 de agosto, o jornal “O Globo” publicou matéria sobre como as dificuldades financeiras atuais podem afetar o Programa de Submarinos da Marinha (Prosub), bem como o Programa Nuclear da Marinha (PNM). Consultores técnicos da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha do Brasil, os Acadêmicos Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho e Renato Machado Cotta fazem uma análise sobre a importância dos programas. Confira abaixo:
Esses programas são, sem dúvida, os de maior arrasto tecnológico já desenvolvidos em nosso País e têm uma relação sinérgica com o Programa Nuclear Brasileiro, como descrito na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – ENCTI 2016-2019.
O Programa Nuclear da Marinha conquistou para o País o domínio completo do ciclo do combustível nuclear ao desenvolver, por meios próprios, a tecnologia de enriquecimento isotópico de urânio por ultracentrífugas de levitação magnética.
Graças a esse domínio, o Brasil consolidou a produção de combustível nuclear nacional, necessário para alimentar os diversos tipos de reatores nucleares de potência, de pesquisa e de produção de radiofármacos.
O PROSUB tem a missão de construir quatro submarinos convencionais – S-BR e um a propulsão nuclear – SN-BR. Ele é um programa importante para a assimilação de novas tecnologias de construção de navios e para o desenvolvimento da tecnologia de construção de reatores nucleares de pequeno porte (Small Modular Reators – SMR).
Além dos projetos dos submarinos e do reator, que têm avançado bastante, prossegue a construção em Itaguaí de um estaleiro e de uma base naval, e de um complexo radiológico destinado ao SN-BR, com impacto importante na economia local e nacional, ao prover empregos na região e encomendas para indústrias em todo o País.
A construção de um submarino requer engenharia sofisticada. Trata-se de uma estrutura em que todos os espaços são aproveitados de maneira otimizada, resistente a altas pressões, com boa navegabilidade e que busca minimizar as chances de detecção. No caso do SN-BR, os requisitos de engenharia são ainda mais restritivos. Dominar as tecnologias envolvidas qualifica recursos humanos e empresas no mais alto padrão da engenharia moderna, em suas diferentes especialidades.
A construção do protótipo de uma planta de propulsão nuclear, que inclui um reator de pequeno porte, instalado no Laboratório de Geração Nucleoelétrica – LABGENE, no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo – CTMSP, é um desafio de grande complexidade. Reatores desse porte permitem utilização dual, suprindo energia para propulsão naval, mas também para produção de eletricidade em regiões isoladas, dessalinização de água por cogeração e até como módulo para estações de maior potência.
A persistente atividade da Marinha na área nuclear tem alavancado apoio ao Programa Nuclear Brasileiro, como no caso do Reator Multipropósito Brasileiro – RMB, destinado a garantir a autonomia nacional em produzir radioisótopos para diversas aplicações, como os radiofármacos para uso em medicina nuclear, e feixes de nêutrons para pesquisas e caracterização de materiais. O RMB será construído também em Iperó, em terreno cedido pela Marinha à CNEN/MCTIC, contíguo ao Centro Industrial Nuclear de Aramar – CINA, e será utilizado pelo LABGENE e por grupos de pesquisa em todo o País para avaliação de materiais irradiados.
Toda a área nuclear da Marinha está a cargo da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico – DGDNTM, chefiada pelo Almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior. Nela atuam dois acadêmicos, Carlos Aragão e Renato Cotta, como consultores técnicos para, entre outros temas, assessorá-lo na criação de uma Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade.