A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia de Ciências da Alemanha-Leopoldina lançaram na quarta-feira, 28 de junho, a publicação “How Do We Want to Live Tomorrow? Perspectives on Water Management in Urban Regions” (Como queremos viver amanhã? – Perspectivas na gestão de águas em regiões urbanas). O documento é o resultado das discussões desenvolvidas por um grupo de 26 jovens cientistas dos dois países, que se reuniram em um workshop, em outubro de 2016, na Alemanha, para debater os principais desafios para a pesquisa na área de recursos hídricos, visando a construção de um futuro mais sustentável para os centros urbanos.
O estudo apresenta reflexões sobre a integração das bacias hidrográficas em áreas urbanas, os impactos sobre os lençóis freáticos, o saneamento básico e o sistema de águas pluviais, o reuso de água, a gestão e o controle de nanopartículas e micropoluentes, invisíveis aos métodos convencionais de detecção e remoção, e a importância da comunicação e do envolvimento da sociedade com as questões a respeito dos recursos hídricos e sua gestão.
As ideias que compõem a publicação foram elaboradas durante o workshop, realizado no Centro de Pesquisas Hídricas e Ambientais da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha. O Brasil foi representado por 13 jovens pesquisadores e pelo Acadêmico José Galizia Tundisi. Fundador do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, Tundisi foi um dos palestrantes do evento.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS), Fernando Mainardi Fan foi um dos cientistas brasileiros que participou do encontro. Segundo ele, o workshop foi uma excelente oportunidade para propor objetivos não somente de pesquisa, mas de rumos a serem tomados no desenvolvimento de trabalhos e no investimento de recursos para o gerenciamento de recursos hídricos urbanos no Brasil.
“De fato foi uma grande honra fazer parte de um processo de pensar em objetivos sobre como queremos viver o amanhã no que tange os recursos hídricos urbanos. A ideia de reunir jovens pesquisadores foi excelente, pois, além da empolgação relacionada com o fato de todos os participantes estarem nas etapas iniciais de suas carreiras, criou-se uma rede de contato entre eles que, certamente, já expandiu a interação acadêmica entre as instituições onde atuam”, diz Fan.
Para o professor da UFRGS, conciliar as distantes realidades vividas na Alemanha e no Brasil, a fim de se construir um parecer científico único, foi um dos principais desafios proporcionados pelo encontro. “Espero que o documento final produzido, que considero de alta qualidade, auxilie na tomada de decisão para recursos hídricos urbanos, que é justamente o objetivo para o qual ele foi desenvolvido”, afirma.
Professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Rodrigo Manzione acredita que a publicação pode orientar tomadores de decisão a melhorarem seus sistemas hídricos, além de rever investimentos e até mesmo adotar novos instrumentos de gestão para atender as novas demandas. “Acadêmicos e interessados encontrarão no documento um reflexo do que Brasil e Alemanha têm produzido em termos científicos de cabeças pensantes sobre um tema tão multidisciplinar e ao mesmo tempo tão integrados como a água”, avalia.
Já o doutor em engenharia civil na área de Recursos Hídricos e Saneamento, pelo Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Matheus Martins de Sousa, destaca a experiência desafiadora e enriquecedora de se trabalhar dentro de uma equipe multinacional. “Olhar o futuro e tentar enxergar os desafios e oportunidades com as quais deveremos nos confrontar é uma tarefa árdua e extremamente desafiadora”, diz ele. “Trabalhar nesse desafio dentro de uma equipe multinacional é uma oportunidade única de olhar para frente a partir de diferentes realidades e buscar estabelecer, em um processo dialético, uma conexão que permita enxergar um futuro comum”, acrescenta Sousa.
Pesquisador adjunto do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Márcio Moraes também participou do encontro na Alemanha. Para ele, as discussões sobre o uso de águas urbanas devem ser priorizadas em todas as camadas da sociedade, visto que a percepção dessa importância ainda é bastante incipiente. “Reuniões, científicas ou não, para discussões sobre soluções do uso da água são um passo fundamental para que comecemos a mudar o significado do uso da água. Dessa forma, o projeto Brasil-Alemanha desempenha um papel muito importante para discussões sobre o uso da água, e a publicação do relatório de políticas públicas, gerado durante o encontro, demonstra toda a importância do projeto”, afirma.
A seleção dos candidatos brasileiros que participaram do workshop foi feita por meio de uma chamada pública, divulgada através das páginas e boletins eletrônicos da ABC e da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), bem como de outras instituições de pesquisa. Ao todo, 39 pesquisadores brasileiros se candidataram, tendo sido selecionados 13 jovens doutores, provenientes de diferentes regiões do Brasil.
O workshop foi um desdobramento do simpósio “Water Issues and Ecological Sustainability in Areas of Urbanization”, organizado no Brasil, em 2014, no âmbito da Temporada “Alemanha + Brasil 2013-2014”. Na oportunidade, 27 jovens pesquisadores com menos de 40 anos (11 alemães e 16 brasileiros) debateram, na cidade de São Carlos, a gestão sustentável dos recursos hídricos.
A publicação completa do estudo produzido pelos jovens cientistas, brasileiros e alemães, está disponível para download no link.