Filho de pai serralheiro e de mãe costureira, o menino Wagner Seixas da Silva, nascido e criado no subúrbio carioca trilhou o caminho da ciência graças à curiosidade de desmontar coisas e ao estranho hábito de criar formigas em latas. Foi com muita dedicação e apoio de colegas e professores que chegou até Harvard, onde fez o pós-doutorado. Ele conta que sua relação com a ciência começou ainda nas feiras de escola, no ensino fundamental. Seu primeiro e laborioso projeto envolvia a produção de hidrogênio, com auxílio apenas de aparas de alumínio e soda cáustica.
Dos pequenos experimentos na escola ele seguiu para os laboratórios do curso de biotecnologia da Escola Técnica Federal de Química, hoje Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), até chegar à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi por meio de um curso de férias que Wagner conheceu o mestre e padrinho científico Leopoldo de Meis. “As três semanas em que os cursos aconteceram foram decisivas para minha opção de carreira. Percebi que estava no caminho certo e que cada descoberta aguçava minha curiosidade em fazer ciência. O curso baseava-se no método de redescoberta utilizando o método científico. Desfrutei de três semanas maravilhosas”, relembra Wagner.
O médico, pesquisador e professor titular do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, Leopoldo de Meis, falecido em 2014, era quem coordenava as aulas de férias. Em pouco tempo de Meis viu em Wagner um cientista em potencial. “Semanas após a conclusão dos cursos recebi em casa uma carta convite para participar do processo seletivo de bolsas para alunos do ensino médio e de baixa renda no programa do Departamento de Bioquímica Médica”, conta ele.
Com apenas 17 anos, Wagner já trabalhava em um projeto sobre metabolismo energético de sementes de milho ao lado do então doutorando Antonio Galina Filho, hoje professor do IBqM. “Um ano após meu ingresso no laboratório, vibrei muito com o envio do meu primeiro resumo a ser apresentado na reunião da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), em Caxambu”, diz Wagner, entusiasmado.
Incentivado pelos amigos do laboratório e familiares, o jovem pesquisador prestou o vestibular. Mas, para a tristeza de todos, não conseguiu a aprovação. “Minha formação era insatisfatória no que se referia às disciplinas de física, história e geografia. Vi meus sonhos ameaçados”, lembra Wagner.”Durante uma festinha do laboratório, comemorando meu aniversário, o professor Leopoldo chegou com uma boa notícia: o projeto de incentivo para alunos de baixa renda, atual Programa Jovens Talentos, custearia um curso pré-vestibular para mim”. Wagner agarrou a oportunidade e iniciou, imediatamente os estudos, concomitante com o oitavo período da escola técnica.
Precisava ainda apresentar seu relatório de estágio para receber o diploma de Técnico em Biotecnologia. Durante o primeiro semestre de 1996, concluía a Escola Técnica à noite, pela manhã fazia o pré-vestibular e durante todas as tardes ia para o laboratório. No final daquele semestre, apresentou o relatório de estágio onde constava o primeiro trabalho que já havia sido submetido para uma revista científica internacional e indexada”, relata o Acadêmico.
No final do mesmo ano, Wagner prestou vestibular e, desta vez, fui aprovado para três faculdades, inclusive para a UFRJ, a que mais desejava. Lá, o cientista se formou em biologia e fez seu ingresso direto no doutorado em química biológica. “Defendi minha tese de doutorado com oito artigos aceitos para publicação e outros dois em fase final de elaboração. Cinco dias após a minha defesa, iniciei meu pós-doutoramento no Brigham and Womens Hospital/Harvard Institutes of Medicine nos EUA, sob supervisão do professor Antonio Carlos Bianco”, diz.
Hoje professor adjunto do IBqM/UFRJ, Wagner dedica-se às áreas de bioquímica/bioenergética/endocrinologia, e seu principal foco de interesse tem ênfase em metabolismo mitocondrial, diabetes e ação dos hormônios tireoidianos. Para ele, a ciência o encanta por possibilitar a investigação do desconhecido, do novo. “A possibilidade de criar hipóteses e testá-las experimentalmente, de forma a entender algo maior e mais complexo, é realmente fascinante”. Para ele, a afiliação à ABC é uma grande honra e um incentivo para continuar realizando o trabalho de pesquisa.