
Em noite de gala na Escola Naval, Rio de Janeiro, a ABC diplomou 18 novos membros titulares e correspondentes. O encontro, que reuniu acadêmicos, autoridades, pesquisadores convidados e familiares, foi marcado por discursos em defesa da ciência brasileira e contra os cortes orçamentários que atingem o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e as Fundações de Amparo à Pesquisa (Faps).
A cerimônia contou com a presença do ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab; o comandante interino da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Luiz Guilherme Sá de Gusmão; o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, Acadêmico Américo Fialdini Júnior; o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Abílio Baeta Neves, representando o Ministro da Educação; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcos Cintra; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges; o Secretário do Estado do Rio de Janeiro para Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Pedro Fernandes; e a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Acadêmica Helena Nader.

Ovacionado pela plateia diversas vezes, o cientista ressaltou o desastre premente. “O atual governo revela a sua profunda ignorância e desprezo pela área que mais deveria proteger em tempos de crise. Teremos um país com ajuste fiscal perfeito, mas com a ciência digna de uma República de bananas”, afirmou Nussenzveig. (Confira a íntegra do discurso aqui)
Além de saudar os novos membros, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, ressaltou a missão que cada um deles ganha a partir de agora: a de defender a ciência brasileira. “Entrar na Academia não é apenas honra ao mérito, é trabalho. Nosso dever é mostrar para a sociedade brasileira e para o governo o que a ciência pode fazer pelo Brasil”, afirmou. “A ABC vai se manter defendendo a ciência, contra o obscurantismo da ignorância. Cientistas que somos, estamos acostumados a enfrentar problemas com ousadia. Precisaremos dessas qualidades para rumar a um país socialmente justo”, reforçou Davidovich. (Confira a íntegra do discurso)
Antes de conceder a posse aos recém-chegados, a nova Acadêmica Concepta Pimental falou em nome dos empossados. Irlandesa de origem, mas brasileira de coração, a professora titular da Universidade de Brasília (UnB) e diretora de Relações Internacionais da Capes destacou o papel da mulher na ciência brasileira, ressaltando alguns dos desafios que precisam ser vencidos para que elas tenham maior expressividade. “Nunca tive licença maternidade e amamentei meu filhos durante os intervalos das aulas. Temos que louvar as mulheres batalhadoras que mantêm suas pesquisas sem licença-maternidade. Precisamos de um plano em que mérito e qualidade sejam valorizados. Um plano em que os políticos parem de falar e comecem a agir”, disse Concepta. (Confira a íntegra do discurso)
Presente à solenidade, o ministro do MCTI, Gilberto Kassab se disse solidário e testemunha de como “infelizmente” a ciência brasileira carece de mais recursos. “Não há no pais uma única voz que não lamente pelo recursos que precisam ser continuados. Alocar 2% do orçamento para pesquisa e inovação é uma meta. Todos nós sabemos do momento difícil que passamos e do enfrentamento que precisaremos fazer para que sejam feitas correções e para que os investimentos em pesquisa e inovação sejam retomados”, afirmou Kassab.
Helena Nader recebe a Medalha Henrique Morize

A medalha foi entregue à Helena pelas mãos do presidente da academia, Luiz Davidovich, que destacou a “impressionante atuação da cientista à frente da SBPC”. “Helena tem defendido pautas da comunidade científica junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, pondo o dedo na ferida em questões que são essenciais ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia do país. Com sua parceria, a ABC e SBPC têm reagido quase diariamente com documentos pela defesa da ciência, tecnologia e inovação”, disse Davidovich.
Bastante emocionada, Helena fez agradecimentos à Academia pela homenagem prestada, à sua família e, em especial, aos seus professores. “Agradeço à escola pública que me formou. Se não tivesse tido os professores que tive na minha vida e a universidade que me abriu os braços e onde vivo até hoje, eu não teria chegado aonde estou”, afirmou.
A Medalha Henrique Morize foi criada em 2014 com o propósito de homenagear indivíduos ou instituições que realizem ou tenham realizado contribuições expressivas para a Academia Brasileira de Ciências, bem como para o desenvolvimento da ciência brasileira. Os agraciados são selecionados pela Diretoria da ABC. Em sua primeira edição, em 2014, foi oferecida ao Acadêmico e então presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães e, em 2016, foi designada ao diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel (FCW), o membro colaborador da ABC, Américo Fialdini Jr..
Prêmio Almirante Álvaro Alberto vai para pesquisador da Fiocruz
Neste ano, a maior honraria na área de ciência, tecnologia e inovação, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, foi entregue a um pesquisador da área de Ciências da Vida, o parasitologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Samuel Goldenberg. O membro da ABC dedica-se aos estudos sobre diferenciação de Trypanosoma cruzi – o protozoário agente da doença de Chagas -, regulação da expressão gênica em parasitos, genômica funcional e desenvolvimento de insumos para diagnóstico. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto é uma parceria entre o MCTIC,o CNPq, a Fundação Conrado Wessel e a Marinha do Brasil.
Samuel Goldenberg. O membro da ABC dedica-se aos estudos sobre diferenciação de Trypanosoma cruzi – o protozoário agente da doença de Chagas -, regulação da expressão gênica em parasitos, genômica funcional e desenvolvimento de insumos para diagnóstico. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto é uma parceria entre o MCTIC,o CNPq, a Fundação Conrado Wessel e a Marinha do Brasil.

“Em sua carreira, o professor Samuel Goldenberg tem contribuído para a criação de parcerias com instituições inglesas. “Temos, sim, pessoal capacitado para fazer ciência, tecnologia e inovação. Se convencermos os políticos e a sociedade, conseguiremos levar o país a se tornar uma potência social e econômica”, acrescentou ele.
Para Goldenberg, a premiação foi uma grata surpresa e o resultado do trabalho de excelência que a Fiocruz tem realizado desde a sua fundação. “Atuo há 35 anos na Fiocruz e garanto que ela proporcionou as condições necessárias para que eu fosse escolhido para esse prêmio. A Fiocruz nos ensina a importância dos valores democráticos e de trabalhar nesse grande programa que é o SUS [Sistema Único de Saúde]”, afirmou.
Goldenberg também ressaltou o apoio recebido pelo CNPq, desde 1971, quando ainda fazia iniciação científica. “Sempre contei com o apoio financeiro à pesquisa por meio do CNPq. Esse é um exemplo da importância do Conselho. Temo a ameaça a esse patrimônio construído nesses 66 anos de existência do CNPq. A ciência brasileira está seriamente ameaçada pelos cortes orçamentários e pela falta de políticas que mantenham a infraestrutura dos institutos de pesquisa. Nossos resultados perdem impacto quantitativo e qualitativo com essa situação. Estamos perdendo também investimentos em educação, além de sermos abatidos pelos impactos nefastos da fuga de cérebros. Ciência não é gasto, é investimento, como diz Helena Nader”, criticou o pesquisador. (Confira a íntegra do discurso)
Pesquisadores eméritos são empossados pelo CNPq
Também foram agraciados os dez ganhadores do título de Pesquisador Emérito, homenagem do CNPq àqueles que contribuem para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Os pesquisadores eméritos são Fábio de Melo Sene (USP); Ingedore Grunfeld Villaça Koch (Unicamp); Jorge de Lucas Junior (Unesp); Jorge Luiz Gross (UFRS); Luiz Carlos Bresser Pereira (FGV-SP); Othon Henry Leonardos (UnB); Ricardo de Araújo Kalid (UFSB); Sandoval Carneiro Junior (ITV); Ângelo Barbosa Monteiro Machado e Jose Arthur Giannotti (USP). A Menção Especial de Agradecimento do CNPq foi entregue ao deputado Sebastião Sibá Machado Oliveira.