O vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para a região de Minas Gerais e Centro-Oeste, Mauro Teixeira, é imunologista. Ele tratou da relação da água com a saúde e a doença, focando nas arboviroses, como zika, dengue, chicungunha e febre amarela, no evento “Água na mineração, agricultura e saúde: o que a ciência tem a dizer a partir de Minas Gerais“, realizado na UFMG nos dias 19 e 20 de abril.
Como médico, o que ele mais observa é o percentual da água no organismo e diz que nós vamos “secando” com a idade. E começou sua abordagem questionando o que é saúde. O pesquisador afirmou que saúde é um ponto de equilíbrio entre a genética, a história de vida, a nutrição, o ambiente, a comunidade e o tempo.
Seu foco de pesquisa está num dos aspectos que interfere muito no balanço entre saúde e doença: as infecções. “Temos que conhecer melhor os poluentes que contaminam a água. Não conhecemos isso bem, há pouca pesquisa”, informa Teixeira. Dentre toda as doenças transmitidas pela água, a pior é certamente a diarreia, que mata especialmente crianças. Mas o maior problema que o Brasil enfrenta hoje são as arboviroses – dengue, zika, chicungunha, febre amarela etc. – e, dentre elas, a dengue é a que tem maior alcance. “Há entre 5 a 10 milhões de pessoas infectadas no país e esse continuará a ser o maior problema por muitos anos”, afirma o especialista. Teixeira explica que a doença ocorre em ciclos: uma epidemia por cidade grande a cada três anos. Em Belo Horizonte, na última epidemia, em 2013, 50 a 60% da população foi infectada.
Do ponto de vista médico, segundo Teixeira, dengue não é uma doença grave, pois é fácil de tratar. A questão é a escala, a quantidade de gente afetada. Chicungunha é dramático pela dor nas articulações e a zika não seria dramática, não fosse a microcefalia. A volta da febre amarela, em seu ponto de vista, foi falta de cuidado, um grande erro no país – a vacina já existe há anos e é eficaz. Mas em comum estas doenças têm o vetor, que é o mosquito Aedes Aegypti.
Como parar o ciclo do Aedes aegypti?
Teixeira explica que o Aedes aegypti ama o ser humano. “A imunização do ser humano tem sido útil para muita coisa, mas para dengue ainda não temos uma vacina eficaz. E se for rápido, demora dez anos. Os imunobiológicos contribuíram para acelerar esses processos de novos produtos de 20 para 10 anos.”
Ele aponta a dificuldade de parar esse ciclo se não conseguirmos imunizar a população. Porque a saída seria controlar o vetor, o que tem se revelado uma tarefa hercúlea. De acordo com dados da Prefeitura de Belo Horizonte, gastam-se 4 milhões por mês com o pagamento de agentes de campo, pesquisadores, veículos e materiais. “E sabe qual é o resultado? Nenhum. Chove, tem mosquito. Não chove, não tem. Precisamos de muito mais ciência para lidar com isso”, ressalta Mauro Teixeira.
Ele diz que a estamos ainda na Idade Média no que diz respeito à compreensão ampla da relação do ser humano com o criadouro do vetor, a água. “A coleta de lixo tem que ser melhorada, nas construções não pode haver poças, o mosquito cresce em 5ml de água.”
Passando da doença para a saúde, Teixeira ressaltou o aumento da expectativa de vida. “As pessoas estão envelhecendo. E querem envelhecer saudáveis”, diz. E para isso, em seu ponto de vista, a engenharia das cidades precisa ser redesenhada, porque ela é ideal para o Aedes. “Nos trópicos, com as temperaturas agradáveis para os mosquitos, vamos ter mosquito o ano todo, especialmente nos ralinhos das casas.”
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