##### O pesquisador e supervisor do Núcleo de Articulação Internacional da Embrapa Cerrados, Lineu Rodrigues, foi um dos palestrantes da sessão plenária durante o evento no evento “Água na mineração, agricultura e saúde: o que a ciência tem a dizer a partir de Minas Gerais”. O evento foi realizado na UFMG nos dias 19 e 20 de abril, e Rodrigues destacou o conhecimento e a informação já adquiridos sobre o tema “Água e Agricultura” e o caminho que ainda temos a percorrer.

Doutor em engenharia agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (1999) com estágio de pós-doutorado pela Universidade de Nebraska (EUA), Lincoln, em engenharia de irrigação e manejo de água, Rodrigues foi pesquisador visitante na Universidade da Califórnia, Davis (EUA), no departamento de Recursos da Terra, da Água e do Ar, onde desenvolveu trabalho em modelagem hidrológica de irrigação. Atua em diversos órgãos de consultoria e representa o Brasil na Plataforma de Recursos Hídricos e Tecnologia de Irrigação do Programa de Cooperação para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (Procisur). É membro titular do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), representando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O que sabemos? Que a questão hídrica não está em nenhum plano estratégico do país

Lineu Rodrigues contextualizou sua apresentação, destacando que o Brasil é referência na produção agrícola mundial, sendo o maior produtor mundial de café, cana de açúcar e laranja. A agricultura é responsável por 28% do PIB nacional, 37% dos empregos e por 42% das exportações. Porém, ainda tem que crescer muito. Para corresponder ao crescimento populacional, a produção de alimentos precisará aumentar 70% e dobrar nos países em desenvolvimento.

Produzir alimento demanda água, segundo o palestrante. E não é pouca água: a chamada água azul, proveniente dos rios, que é utilizada pela irrigação, varia, por exemplo, para a cultura do milho plantada em primeiro de janeiro na região do Planalto Central, de 260 mil a 2 milhões de m3 para uma safra, o que daria para abastecer de 9.000 a 71.000 pessoas por dia. “Produção de alimento é um uso nobre da água, mas a definição da melhor forma de utilizar essa água é uma escolha da sociedade”, pontuou Rodrigues. “A decisão é produzir alimento ou outro bem?”

A principal usuária de recursos hídricos é agricultura irrigada – 70%. Algumas bacias hidrográficas têm um percentual maior de uso e outras têm um uso menor. É importante conhecer os usos para definir políticas. Mas que políticas, se a questão hídrica não está em nenhum plano estratégico do país?

Rodrigues alerta que a visão da questão “sem ciência”, na avaliação da sociedade de maneira geral, é de que se há muita água, então está bom. Mas ele diz que não é bem assim: é necessário um olhar diferenciado para cada região, para cada bacia. “Sabemos que 16% dos rios federais estão em estado crítico, com base no balanço hídrico qualiquantitativo, especialmente no Nordeste. O estado de um rio é consequência do que ocorre na bacia hidrográfica como um todo. As atividades que ocorrem nas bacias afetam os rios”, aponta o especialista. Além disso, ele exemplifica com o caso de uma tribo em que as índias têm que andar duas horas por dia para buscar água. “Não basta ter a água, é preciso ter acesso a água.”

A previsão mundial para 2050 é de que vamos precisar de 80% a mais de energia, 60% a mais de alimento e 55% de água. Atualmente, 80 das águas retiradas dos mananciais é utilizada pelo setor agrícola e 15% para produção de energia. “As demandas precisam ser bem geridas, caso contrário põem em risco a oferta hídrica existente”, esclarece o engenheiro agrícola.