Leia artigo de opinião publicado em 17/4 no jornal O Globo de autoria de Wanderley de Souza, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, professor titular da UFRJ e diretor da Finep:

“Há hoje um consenso sobre o papel que as universidades desempenham na estruturação da Ciência e da Cultura de um país. Afinal, hoje elas constituem o centro germinador do pensamento contemporâneo usufruindo de ampla liberdade para discussão de todos os temas que preocupam a sociedade. Constitui ainda o lócus de formação de recursos humanos em praticamente todas as áreas do conhecimento.

Praticamente todos os países têm investido recursos significativos na estruturação e manutenção de suas universidades. Enganam-se aqueles que acham que em alguns países a manutenção das universidades de excelência é fruto do pagamento de anuidades pelos alunos. Mesmo as principais universidades privadas americanas têm sua atividade de pesquisa, responsável pela maior parte de suas despesas, pagas com recursos das agências nacionais de fomento (National Science Foundation, National Institutes of Health, Department of Energy, Department of Agriculture, Department of Defense) e por fundações privadas (Howard Hughes Medical Institute, Bill and Melinda Gates, Gordon and Betty Moore Foundation, M.J. Murdock Charitable Trust, Simons Foundation, entre outras).

Em praticamente todos os países algumas universidades se destacam e realizam esforços consideráveis para se colocarem entre as cem mais importantes do mundo, identificadas anualmente por um conjunto de critérios, entre os quais destacamos:

(a) a sua produção acadêmica quantitativa e qualitativa;
(b) a excelência de seus professores, muitas vezes membros das principais academias e detentores de prêmios importantes;
(c) a qualidade dos alunos formados;
(d) o percentual de alunos e professores oriundos de outros países etc.

Recentemente tive a oportunidade de integrar uma missão brasileira que acompanhou o esforço de seis das mais importantes universidades suecas (Linkhoping, Lund, Upsala, Chamers, Stockhom e o Royal Technological Institute) de ampliarem sua internacionalização, incentivando sua cooperação com as melhores instituições de China, Coreia do Sul, Cingapura, Indonésia e Brasil.

No Brasil, no entanto, quase nada tem sido feito no sentido de ampliar a internacionalização das nossas universidades, mesmo as mais bem situadas no ranking mundial. Os programas governamentais continuam disponibilizando seus recursos usando como critério principal o tamanho da instituição. Nenhum esforço concentrado existe no sentido de estimular a existência de pelo menos dez universidades brasileiras entre as cem melhores do mundo. Nenhuma coloca como meta objetiva alcançar este objetivo. Nenhuma dispõe de mecanismos de atração de bons alunos e professores do exterior, o que exige a existência de cursos de graduação e de pós-graduação ministrados em inglês.

Entre os institutos especializados de pesquisa tal esforço já se faz presente e menciono aqui o caso do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), localizado no Rio de Janeiro. É fundamental que medidas sejam tomadas no sentido de estimular, mas nunca obrigar, no sentido de que algumas das nossas principais universidades sigam este caminho, pelo menos em alguns dos seus institutos e faculdades de reconhecida excelência.

Pelos últimos rankings internacionais publicados, instituições como as três universidades estaduais de São Paulo (USP, Unicamp e Unesp) e as federais UFRJ, Unifesp, UFMG, UFRS, UFABC, UFSC, UFPR, UFViçosa, UF Lavras, UFF e UFPE têm condições de iniciar um programa de médio prazo de internacionalização, colocando a universidade brasileira em um novo patamar. Há ainda boas universidades estaduais no Paraná, na Bahia e no Rio de Janeiro que também poderiam ser incentivadas pelos respectivos governos estaduais a seguirem o mesmo caminho, desde que decidam ampliar os investimentos.”