Professor de física da USP e Acadêmico, Paulo Artaxo Neto vem se dedicando ao longo de sua carreira científica ao estudo do bioma amazônico. Profundo conhecedor da região e considerado um dos cerca de 3.000 cientistas mais influentes do mundo pela consultoria Thomson Reuters, seu intenso trabalho de pesquisa lhe rendeu um lugar na lista dos vencedores do Prêmio Faz Diferença de 2016, do jornal O Globo em parceria com a Firjan, na categoria Sociedade/Sustentabilidade.
Dos mais de 400 trabalhos de Artaxo publicados, boa parte deles foram dedicados a questões de mudanças climáticas, poluição urbana e outros temas, com enfoque principal na Amazônia.
Formado em física pela USP, é doutor em física atmosférica pela mesma universidade. Em sua atuação profissional, já passou pela NASA, Universidades de Antuérpia, na Bélgica e por Harvard. Além de Acadêmico da ABC, é também membro da Academia de Ciências dos países em desenvolvimento (TWAS) e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.
Artaxo tem diversos trabalhos publicados na revista Nature e na Science. No ano passado, publicou nesta primeira artigo sobre a formação de chuvas na floresta amazônica e, no mesmo ano, foi nomeado presidente do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia, um programa de cooperação internacional, de iniciativa do MCTIC, que estuda o funcionamento do complexo sistema da região. Essas recentes atuações na área foram decisivas para sua nomeação no prêmio.
A premiação é promovida pelo jornal O Globo, com patrocínio da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Os indicados são selecionados pelos jornalistas do Globo por terem se destacado em suas áreas durante o ano e a votação é feita por jornalistas, dirigentes da Firjan, ganhadores do ano passado e o público em geral, que pode votar pela internet.
Ciência tem lugar de destaque na premiação
Além das áreas indicadas pelas editorias do jornal, o Prêmio nomeia todo ano uma ou mais personalidades de destaque no cenário geral do país. Nesta edição, as vencedoras foram duas cientistas: Adriana Melo e Celina Turchi.
Adriana Melo (foto à esquerda) é médica obstetra e pesquisadora. Formada em medicina pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), se especializou em medicina fetal pela UFRJ. No último ano, examinando pacientes na Maternidade Instituto Saúde Elpídio de Almeida e na clínica particular onde trabalha, começou a perceber um crescente número de fetos com problemas de formação. Ela foi a primeira médica a estabelecer a relação da infecção pelo zika com as complicações fetais em gestantes que contraíram o vírus durante a gravidez. Neste momento, o número de casos de microcefalia em Pernambuco já estava na faixa de 60. Adriana enviou amostras de líquido amniótico para a Fiocruz, que detectou, de fato, a relação da microcefalia com a infecção por zika.
O trabalho de Adriana estava intimamente ligado ao de Celina Turchi, também ganhadora do prêmio. Turchi – que foi citada pela Nature como uma das 10 cientistas mais importantes do mundo em 2016 – é formada em medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG), mestre em epidemiologia pela London School of Hygiene & Tropical Medicine/UK e doutora em saúde pública pelo Departamento de Medicina Preventiva da USP. Ela é líder do estudo que confirmou oficialmente que o vírus da zika era o responsável pela microcefalia em fetos de mulheres infectadas durante a gravidez.
Tanto Melo quanto Turchi reforçam a necessidade de um comprometimento maior do sistema de saúde e do de pesquisa com o estudo da zika e de suas consequências. O Instituto de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto (Ipesq), fundado por Adriana em parceria com outros médicos, chegou a fazer uma campanha para arrecadar fundos para o estudo da zika. Já o grupo de Turchi segue analisando as crianças afetadas pelo vírus. Para ela, a microcefalia é apenas uma das consequências e é necessário se aprofundar no estudo de quantas crianças foram afetadas pela síndrome e de que forma.