“Este título de membro afiliado da ABC significa que estou no caminho certo. Pretendo atuar junto a Academia como representante e divulgador da ciência no Brasil”, afirma Ezequiel Rodrigues Barbosa, eleito para o período 2017-2021. Nascido em Janaúba, uma cidade do norte de Minas Gerais, no ano de 1978, morou até os sete anos numa cidadezinha ainda menor, próxima de Janaúba, chamada Porteirinha. Dos três filhos, era o do meio. A caçula era menina. Antes de entrar para a escola, aprendia coisas básicas de matemática, como soma e multiplicação, vendo o irmão mais velho estudando em casa.

Curiosidade na base de tudo

A mãe era empregada doméstica e o pai trabalhava numa refinaria de óleo. Com o falecimento do pai, por conta de um AVC, a família mudou-se para Janaúba, enfrentando um período difícil, com muitas mudanças de casa. Nesse período, Ezequiel nunca conseguiu ficar mais de um semestre na mesma escola. Aos dez anos, ingressou na 5ª série da Escola Estadual Professor Alcides de Carvalho, em Montes Claros, onde estudou até finalizar o ensino médio.

Sempre curioso, observava o comportamento das pessoas, a diferença entre os animais, a variedade de plantas e bichos, o trem que passava na porta de uma das casas em que morou, tudo o encantava. Descobriu bem cedo o prazer da contemplação. “Acho que meu interesse em ciências se iniciou aí. Mas me envolvi mais profundamente com a matemática por influência das histórias que ouvia, especialmente de um professor, sobre Albert Einstein”, recorda Ezequiel.

A escolha e o desenvolvimento da carreira

Além de jogar muito futebol, sempre gostou de matemática e ciências na escola. Ainda assim, pretendia ser advogado, embora seu interesse por palavras não fosse tão intenso quanto a atração pelos números. Mergulhou nos estudos para entrar para a faculdade. Naquela época, o vestibular era composto de todas as matérias e ele tinha que estudar de tudo. Mas, um dia, sua mãe lhe disse: “Por que você quer ser advogado, se vive estudando matemática e física e só lê coisas sobre ciências?” Foi aí que Ezequiel decidiu entrar para o curso de matemática.

Fez a graduação na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes, MG), onde conheceu o professor Antônio Rosivaldo Gonçalves, que se tornou seu orientador na iniciação científica (IC). Foi quando teve um contato mais sério com os procedimentos de pesquisa. “A paixão do prof. Rosivaldo pela matemática e o modo como ele me conduziu durante minha iniciação científica estimularam meu envolvimento com a matemática. E quando ele me enviou para um curso de verão em análise complexa na UFMG [Universidade Federal de Minas Gerai] eu decidi me tornar pesquisador”, recorda Ezequiel Barbosa.

Seu orientador no mestrado e doutorado, realizado na UFMG, foi o professor Marcos Montenegro. Ele o introduziu na geometria diferencial e equações diferenciais parciais, áreas de pesquisa a que Barbosa se dedica ainda hoje. Em seguida, fez dois estágios de pós-doutorado: um pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp, 2008-2009) e outro pelo Imperial College London, no Reino Unido (2013-2014).

Simplicidade e complexidade: a beleza da matemática

Atualmente, Barbosa é professor adjunto IV da UFMG. Ele se interessa por problemas de geometria que podem ser tratados com técnicas de análise. “Por exemplo, o problema de encontrar uma métrica Riemanniana – um problema de geometria – numa variedade diferenciável tal que a curvatura escalar seja uma função suave, já dada inicialmente, pode ser abordado estudando-se a existência de solução suave e positiva para uma certa equação diferencial parcial – uma técnica de análise.” Barbosa ressalta que há muitas aplicações para essa linha de pesquisa, como, por exemplo, em Teoria de Relatividade Geral.

Parece complexo, mas para Barbosa, não é. O que lhe encanta na ciência é exatamente o quanto as coisas podem ser simples e ao mesmo tempo tão complexas. “Na matemática, especificamente, muitos problemas complexos possuem soluções simples, que mais parecem obras de arte.” E falando em arte, Barbosa aprecia diversas de suas formas. Gosta de filmes, porque “lhe dão oportunidade de viver outras vidas”. E a música, ao seu ver, “é matemática num estado diferente”. E, é claro, continua apreciando a arte do futebol. “Tenho dois filhos e me dedico a eles, entre outras coisas jogando e assistindo futebol. Me interesso também por religiões e sobre a crença ou não-crença em Deus”, conclui, com uma questão complexa, o matemático.