Uma das mais graves complicações da diabetes agora está prestes a ser evitada e combatida. Pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) e do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio) e membros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb), todos da da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostram como a doença afeta o coração e conseguem reverter todo o processo com duas promissoras drogas. Os achados foram publicados na edição de outubro da revista Nature Communications.

Os problemas cardíacos originam 65% das mortes decorrentes da diabetes. O distúrbio mais comum nestes casos é a taquicardia (uma desregulação no ritmo dos batimentos). Este trabalho, coordenado pelo Prof. Emiliano Medei, do Instituto de Biofísica da UFRJ e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências no período 2011-2015, confirma que o aumento de glicose no sangue provoca uma inflamação específica, que afeta diretamente o coração.

A equipe responsável pelo estudo: Marcelo Torres Bozza, Camila Hochman, Fabiano Dutra, Gustavo Monnerat-Cahli, Claudia Paiva, Emiliano Medei, Luiz Vasconcellos, Adriana Bastos Carvalho e Antonio Campos de Carvalho. Crédito: Divulgação

Para investigar esse processo, os pesquisadores provocaram diabetes em camundongos comuns e em mutantes incapazes de produzir um tipo específico inflamação, relacionada a produção da substância IL1-beta. Ambos tiveram aumentos semelhantes de glicose no sangue, porém apenas os que inflamavam normalmente tiveram a frequência cardíaca alterada. Além disso, os mutantes (que não produzem IL1-beta) sofrem muito menos arritmias, mesmo quando estão sob efeito de cafeína ou dobutamina, que promovem taquicardia.

Os pesquisadores encontraram uma grande quantidade de IL1-beta depositada no corpo e especialmente no coração dos camundongos diabéticos comuns. Observaram também que ela sozinha já altera as funções cardíacas, quando administrada em ratos saudáveis (sem diabetes), ou em células cardíacas humanas.

A boa notícia é que o grupo também testou, com sucesso, duas drogas que inibem especificamente esse processo inflamatório: MCC-950 e anakinra. A primeira bloqueia a produção de IL1-beta, enquanto a segunda impede que ela se deposite nas células do corpo, sendo que a anakinra já é usada em terapias padrão de pacientes com doenças autoimunes e linfomas. A equipe logrou inclusive reverter as alterações cardíacas de camundongos diabéticos.

“Vale ressaltar que a inflamação é uma importante ferramenta para combater infecções e que geralmente acaba quando o intruso é eliminado. No caso da diabetes, porém, não há infecção. A hiperglicemia persistente estimula o sistema imunológico a produzir uma inflamação constante, com grande produção de IL1-beta – que descobrimos ser o link entre as arritmias e a diabetes”, explica Medei. “No entanto, acredito que as novas ferramentas terapêuticas que propusemos neste trabalho são muito promissoras”, comemora.