Desde que a epidemia de zika se tornou um problema nacional, em 2015, diversas iniciativas surgiram rapidamente com o objetivo de se descobrir mais sobre o vírus e enfrentá-lo. Uma delas foi o edital para a pesquisa sobre zika, dengue e chicungunha, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) em dezembro do ano passado. O diretor científico da Faperj e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jerson Lima, falou sobre o programa durante o Simpósio Internacional sobre Zika, realizado em novembro pela ABC, Academia Nacional de Medicina (ANM) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Jerson Lima, Wilson Savino e Maria Elisabeth Lopes Moreira

Ele contou que, em setembro de 2015, a Fundação já vinha acompanhando os casos de zika e sua relação com a microcefalia e começou a pensar em como articular um programa que pudesse ser complementar a ações a nível federal. “A Faperj tem um papel fundamental no apoio a ciência e tecnologia, principalmente voltada a questões regionais. Além de atender, no Rio de Janeiro, em torno de 20% da produção científica e tecnológica do país, ela busca fazer a interconexão com a sociedade”, explicou Lima.

O Rio de Janeiro é a segunda maior economia do Brasil, e a Faperj tem um papel importante no incentivo à pesquisa, investindo na produção científica e formação de pesquisadores. O estado tem quatro universidades entre as 20 melhores do Brasil, é sede de 20 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e teve um aumento de produção científica de quase 70% entre 2006 e 2014. O Rio publicou 35% dos artigos sobre zika no Brasil e 4,4% em relação ao mundo. A Fundação tem o orçamento de 2% da arrecadação líquida do estado, o que corresponde a cerca de R$ 440 bilhões – com a crise, houve uma diminuição de 10%.

O Edital Faperj nº 18.2015 – Programa de Pesquisa em Zika, Chicungunha e Dengue no estado do Rio de Janeiro constituiu seis redes para estudar microcefalia, parte clínica e epidemiológica, novas estratégias moleculares de controle, entre outras áreas. Ao todo, são 325 pesquisadores de diferentes instituições do estado. A rede que reúne o maior número de cientistas, 111, é a que desenvolve pesquisa sobre a microcefalia associada à infecção pelo vírus zika, em uma abordagem transdisciplinar.

A coordenação geral do programa é de Amílcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a vice-coordenação é do Acadêmico Wilson Savino, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O montante inicial é de R$ 10 milhões, e os recursos são usados para bolsas, taxa de bancada, custeio de equipamentos etc. “Nesse combate ao zika houve uma mudança de paradigma, em que o foco do trabalho passou a ser a resposta para a sociedade e não o trabalho do cientista”, comentou Savino.

“Se a constatação da relação entre zika e microcefalia tivesse tido um delay de quatro meses, ou seja, se o anúncio fosse feito em fevereiro ou março em vez de novembro, provavelmente não teríamos tido Jogos Olímpicos, frente à situação de calamidade”, afirmou Jerson Lima. “A comunidade científica tem feito um trabalho de qualidade. A pesquisa é muito barata para a gente curar e prevenir essas doenças.”

Ainda há muito o que se descobrir sobre as consequências da infecção por zika e, por isso, o investimento na pesquisa é fundamental. A média pediatra Maria Elisabeth Lopes Moreira, do Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz, deu um exemplo: “Estamos vendo que 42% das crianças que nasceram com perímetro encefálico normal, sem alterações de calcificação ou outras, tem alguma questão envolvendo seu neurodesenvolvimento no primeiro ano de vida. Crianças que, a priori, são normais, mas que foram expostas ao vírus da zika e estão apresentando alterações comportamentais. O investimento nessas crianças é importante.”