Por suas características especiais, as grandes massas de nuvens que provocam chuvas na Amazônia influenciam o clima de todo o continente, mas até agora a ciência não sabia explicar como elas se formam e como se desenvolvem. Um novo estudo, publicado nesta terça-feira, 25, na revista Nature, acaba de acrescentar a peça que faltava no quebra-cabeças.

De acordo com um dos autores do estudo, o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), havia 25 anos que os cientistas tentavam descobrir como se formavam as partículas que permitem a formação das nuvens de chuva na região amazônica.


“Para que as nuvens de chuva se formem, é preciso que existam partículas em suspensão – os aerossóis – que servem como núcleo para a formação das gotas. Mas há 25 anos temos medido a distribuição dessas partículas sobre a floresta e elas não existiam em quantidade suficiente para permitir tantas chuvas. As contas não fechavam. Era um grande mistério”, disse Artaxo ao Estado.

A própria chuva, segundo Artaxo, “lava” os aerossóis no ar sobre a floresta, tornando teoricamente impossível a formação de novas nuvens. “Descobrimos que as partículas que permitem a chuva estavam se formando, sim, mas não onde pensávamos: elas se formam na alta atmosfera, a cerca de 15 quilômetros da superfície”, disse.

De acordo com o cientista, o processo começa quando os gases orgânicos voláteis que são emitidos pela floresta são levados à alta atmosfera pelas correntes ascendentes que existem dentro das nuvens. “Naquela altitude, encontramos nanopartículas que têm de 1 a 10 nanômetros de diâmetro. Com a baixa pressão e os 55 graus negativos da alta atmosfera, essas nanopartículas se fundem aos compostos orgânicos que vieram da floresta e formam partículas 10 vezes maiores”, disse.

As correntes descendentes das nuvens, então, fazem com que as novas partículas, formadas nas alturas, desçam até a floresta. “Esse mecanismo repõe os aerossóis que haviam sido eliminados pelas chuvas – e assim permite a formação de novas nuvens”, explicou o cientista.

Segundo Artaxo, a descoberta só foi possível graças à utilização de um avião científico a jato, da Alemanha, equipado com sensores de alta tecnologia e capaz de voar a até 18 quilômetros de altitude. “Antes, só tínhamos medidas feitas por aviões convencionais, que coletam dados a até quatro quilômetros”, disse. Segundo ele, os estudos com o avião fazem parte do projeto internacional Green Ocean Amazon (GOAmazon), que tem o objetivo de mapear as emissões urbanas na química da atmosfera da floresta. “O objetivo do projeto é outro, mas acabamos desvendando esse importante mecanismo.”