Entre 27 e 29 de julho, aconteceu o 3º Encontro Nacional de Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. A categoria de membros afiliados foi criada em 2007 pelo então presidente da ABC, Jacob Palis, para reconhecer o trabalho de jovens cientistas de até 40 anos. Eles integram a Academia por um período de cinco anos, participando de diversas atividades, organizando os Encontros Nacionais e mantendo contato com os membros titulares.

Cerca de 80 membros afiliados participaram do encontro, que costuma ser bianual. A mesa de abertura reuniu o presidente da ABC, Luiz Davidovich, a pró-reitora de pesquisa da UFMG, Adelina dos Reis, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o Acadêmico Paulo Sergio Beirão, e os representantes do comitê científico do evento, Lisiane Porciúncula (UFRGS), Bruno Duarte Gomes (UFPA) e André Báfica (UFSC).

André Báfica, Paulo Sergio Beirão, Luiz Davidovich, Adelina dos Reis, Lisiane Porciúncula e Bruno Duarte Gomes

O físico Luiz Davidovich, que assumiu a Presidência da ABC em maio, disse ser uma grande satisfação participar do primeiro Encontro Nacional nesta função e lembrou que, por causa dos jovens cientistas, a imagem da Academia de hoje é muito diferente da de alguns anos. “Estamos construindo planos para vocês. É muito importante que os membros afiliados passem a participar dos grupos de estudo e contribuam para os projetos de políticas públicas.”

Davidovich mencionou que a ABC está criando um novo grupo de estudos com um propósito ambicioso, de propor um projeto de ciência para o Brasil, que será o tema da próxima Reunião Magna. “Gostaria muito que os membros afiliados participassem com suas ideias e fizessem parte desse percurso.”

A pró-reitora Adelina dos Reis, bióloga, afirmou ser uma honra para a UFMG sediar o 3º Encontro Nacional de Membros Afiliados. “Achamos muito importante o papel da ABC e essa categoria dá uma nova dimensão para a Academia e para a ciência”, comentou. “Não fazemos pesquisa para nós mesmos, e sim para o país, visando esclarecer o que é desconhecido até o momento. Nesse sentido, é importante envolver politicamente os jovens, em vez de ficar trancado em laboratório produzindo papers.”

Adelina ressaltou que os jovens pesquisadores têm um papel importante no cenário nacional e internacional. “Vocês foram instruídos com dinheiro público, estão fazendo pesquisa com dinheiro público, então têm um compromisso com a nação que os acolheu e deu suporte para que sejam formados. Onde vocês estiverem, pensem que o dinheiro público dos brasileiros é o que deu origem.” Ela disse esperar que, dos cientistas ali reunidos, saiam novos líderes que vão impulsionar a pesquisa nacional.

O bioquímico e Acadêmico Paulo Beirão destacou que, na perspectiva de uma instituição de fomento, um dos desafios é apoiar os jovens cientistas. “Temos 5 mil doutores contratados, que são o futuro da ciência brasileira. Num ambiente com dificuldade de financiamento, as agências têm essa dificuldade de como lidar com a situação e não comprometer o que já existe.”

Ele aproveitou para criticar o Projeto de Lei Escola Sem Partido, tramitando no Congresso. “Galileu seria condenado, porque estaria ensinando temas que seriam contrários às convicções das pessoas. É uma ameaça à ciência e educação, à formação das pessoas.” Ainda assim, Beirão pediu que, apesar de todas as dificuldades, os afiliados não desanimem. “Não vamos desistir de construir um país onde a ciência e tecnologia sejam um sustentáculo para o desenvolvimento econômico e social.”

A neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Lisiane Porciúncula, que participou dos três Encontros Nacionais de Membros Afiliados, declarou aos colegas que esta não apenas é uma oportunidade de conhecer outros cientistas de várias regiões do país, mas também de discutir questões importantes, como no caso da sessão que ela iria coordenar, sobre o sistema de publicação atual. “Esse sistema é desafiado, nesse momento, por um problema mundial, que envolve a reprodutividade e confiabilidade, e vamos discutir e compartilhar experiências com outras áreas que já utilizam outras vias de publicação que não a de revisão por pares.”

Neurocientista da Universidade Federal do Pará (UFPA), Bruno Duarte Gomes, em seu último ano como membro afiliado, afirmou que a palavra que resume sua experiência na Academia é “união”. “Formamos um único corpo a favor da ciência brasileira. Os temas a serem discutidos são intensamente importantes, não importa se estamos em tempos de crise, se temos políticas de estado de CT&I ou não.” Gomes foi o coordenador da primeira sessão do evento, sobre o impacto da ciência brasileira.

O médico imunologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) André Báfica acrescentou que o encontro prometia ser proveitoso e enriquecido com várias discussões sólidas. “No dia em que fiz a proposta da minha sessão, sobre independência e autonomia dos jovens cientistas, até pensei em desistir. Ela fala sobre o que é ser um jovem líder das nossas instituições, para que cada um em seus microambientes possa tomar atitudes em posições de liderança.”