A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) é uma Organização Social que nasceu em 2013, a partir da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e começou a operar em 2014. Ela tem a missão de contribuir para o desenvolvimento da inovação na indústria brasileira, através do fortalecimento de sua colaboração com institutos de pesquisas e universidades. A Embrapii foi tema de uma apresentação de seu diretor-presidente, o Acadêmico Jorge Guimarães, na 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O tradicional evento aconteceu em julho, na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Porto Seguro.

Jorge Guimarães lembrou que, entre 2008 e 2009, quando era presidente da Capes, pediu à Sociedade Brasileira de Física que fizesse um estudo sobre as contribuições dessa área. Uma das sugestões do texto era a criação de uma Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A partir daí, a ideia foi desenvolvida com o apoio da SBPC e do Movimento Empresarial pela Inovação (MEI).

Por que uma Embrapii?

Guimarães fez uma introdução, comentando que foi há pouco mais de 60 anos, com a criação da Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que o Brasil começou a formação dos dados da sua ciência. “”Ela é jovem, mas tem muito sucesso, apesar das críticas. Imagina se não tivéssemos formado quadros na área do zika vírus, o que teria acontecido? Nossos cientistas se debruçaram sobre esse tema e, em poucos meses, publicaram nas melhores revistas e lideram no mundo inteiro boa parte dos conhecimentos sobre o assunto.””

Ele informou que a Embrapii seleciona e financia centros e grupos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) com capacidade técnica para resolver demandas das empresas por meio de soluções tecnológicas, com ênfase na inovação. Usa-se como base o histórico de atendimento das empresas, a capacidade técnica reconhecida e focada em temática específica, infraestrutura qualificada – recursos humanos e equipamentos, experiência na gestão técnica e financeira de projetos, foco tecnológico, entre outros.

Guimarães mostrou um gráfico publicado na revista Science em 2013, com dados do Banco Mundial e outras fontes. Enquanto países como Israel investem mais de 4% do PIB em PD&I e tem mais de 8 mil cientistas e engenheiros por milhão de habitantes, o Brasil investe 1,2% do PIB e tem cerca de 700 cientistas por milhão de habitantes. Está atrás dos países de ponta: Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca, Japão, Coreia do Sul, Finlândia e outros. A China já atingiu 2% do PIB, mas ainda tem poucos cientistas.

No Brasil, 40% desses investimentos vêm de empresas e 60% do governo, sendo que boa parte desses 40% advém da Petrobras, uma empresa estatal. Nos países desenvolvidos, o setor empresarial é o que mais investe nessa área. “”É uma questão séria. Precisamos ao menos inverter essa porcentagem, e o ideal seria 1,2% do PIB de investimento governamental, 1,8% de empresas. A Embrapii surge nesse contexto.””

Os principais objetivos da Embrapii são promover a inovação na indústria (diminuir risco e custo), agilidade e flexibilidade na contratação e execução dos projetos, fluxo contínuo para contratação de projetos, atender a demanda das empresas por inovação, fomentar a colaboração entre empresas e institutos de ciência e tecnologia e aumentar investimentos em PD&I pelas empresas.

Unidades Embrapii

Para que uma instituição se torne uma Unidade Embrapii, é necessário ter infraestrutura física e pessoal qualificado que permita o desenvolvimento de projetos de PD&I inovadores e de alto valor agregado; foco em demandas de empresas; prospecção proativa de projetos; mapeamento de potenciais clientes; gestão profissional de projetos; usar recursos da Embrapii como forma de compartilhar com empresas o risco inerente em projetos inovadores; ter excelência reconhecida em sua área de atuação (foco); demonstrar experiência em executar projetos com empresas; apresentar Plano de Ação para seis anos.

A instituição não será aceita como Unidade Embrapii quando usa os recursos como “”adicional de pesquisa””, não tem foco, aceita projetos em áreas nas quais não possui competência e a atividade é centrada em prestação de pesquisas – tem que ser focada em PD&I. Além disso, a Embrapii não apoia pesquisa básica, não concede recursos para equipamentos, bolsas de formação nem apoia eventos científicos.

A Embrapii tem parcerias em andamento com BNDES, Finep, Consecti, Confap, Ministério da Saúde, Sebrae, Senai, Banco do Nordeste, CNPq e Capes – esta última para contratação de pós-doutores para as unidades. “”Agora estão voltando 600 engenheiros do Ciência Sem Fronteiras com mestrado profissional das melhores universidades americanas””, informou Guimarães.

A Embrapii não é um órgão do governo, mas uma empresa privada com 20 pessoas. Tem um Conselho de Administração, Conselho Fiscal, Comitê de Avaliação do Contrato de Gestão (CACG) e Diretoria. Um terço dos seus recursos são Embrapii – não reembolsáveis e de fluxo contínuo. Dois terços são de empresas industriais + Unidades Embrapii – oriundos da FINEP ou BNDES.

As Unidades Embrapii que foram piloto são o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, na área de materiais de alto desempenho; Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no Rio de Janeiro, na área de tecnologia química industrial; e a Instituição Científica e Tecnológica (ICT) Senai/Cimatec, em Salvador, na área de manufatura integrada. Em seguida, vieram outras Unidades, como o Senai Polímeros (RS), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (SP) e a Coppe-UFRJ.

Algumas empresas que fazem parte do sistema Embrapii são a Embraer, Natura, Vale, Petrobras, Votorantim, BG Group, Braskem, GE Oil & Gas, Theraskin, Embraco e Intel. Jorge Guimarães comentou, no entanto, que ainda faltam representantes do setor farmacêutico. O aporte das empresas corresponde a 47% dos recursos dos projetos.

Ao todo, foram 10 milhões de reais em projetos contratados em 2014 e 116 milhões em 2015. “”Com crise e tudo””, comemorou o diretor-presidente. Ele informou que 36% dos projetos são da área de eletroeletrônica e informática, 14% em metalurgia, e 9% em metalomecânica. Após a apresentação, o Acadêmico Álvaro Prata, secretário de Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) se disse entusiasmado. “”Esse é o Brasil que dá certo. É o modelo Capes, que recebe propostas, avalia e fomenta bons projetos.””