Cientistas e engenheiros dedicam grande parte do tempo naquilo que usualmente chamamos de trabalho experimental. Mas quais as razões para realizarem experimentos? Os avanços científicos e tecnológicos se baseiam fortemente no suporte que os experimentos podem fornecer. Novas e velhas teorias são colocadas em teste através de experimentos. A importância do trabalho experimental é inquestionável. Porém, o foco desse breve artigo está num outro ponto relacionado aos experimentos. Quero discutir aqui a importância crucial dos experimentos e demonstrações realizados nos laboratórios didáticos.
A demonstração experimental é uma das mais poderosas ferramentas que o professor de ciências pode utilizar. O velho ditado “ver para crer” aqui faz todo o sentido . O experimento e a demonstração fazem com que o aluno compreenda os abstratos conceitos envolvidos no ensino das ciências em geral. Quando os estudantes veem como os fenômenos acontecem de fato, as análises anteriores e posteriores fazem mais sentido.
Muitos profissionais da educação argumentam que se perde muito tempo realizando experimentos e que esse tempo é fundamental para cumprimento do conteúdo escolar. De fato, o tempo de preparo e execução dos experimentos podem inicialmente parecer uma desvantagem em relação ao tempo de aula e a grande quantidade de conceitos a serem trabalhados na área de ciências. Contudo, o tempo envolvido na demonstração experimental é, em sua essência, uma vantagem, já que possibilita ao aluno uma visão mais significativa e consistente dos conceitos. Assim sendo, o andamento do curso acaba se tornando, sim, mais rápido e mais eficiente.
Já no laboratório didático, o aluno tem a oportunidade de adquirir conhecimento, habilidades e conceitos através da investigação do “mundo real”. O Laboratório de Ciências é imprescindível para que o aluno possa desenvolver sua compreensão dos conceitos científicos, suas habilidades de investigação científica e uma real percepção do que é a Ciência. Além disso, é um ambiente de aprendizagem único, um cenário no qual os alunos podem trabalhar de forma colaborativa e recíproca na investigação dos fenômenos científicos.
Infelizmente, o Laboratório como parte integral do currículo escolar não é realidade na grande maioria das escolas de nosso país. No ensino público, por exemplo, a prática experimental quase não existe. E quando existe aparece apenas nos cursos técnicos. O problema é que nesses cursos a visão do trabalho experimental é quase sempre focada na técnica voltada ao mercado de trabalho e geralmente desvinculada dos fundamentais conceitos científicos. Apesar do consenso entre os educadores acerca da importância e da relevância dos laboratórios didáticos, eles frequentemente são relegados, colocados em segundo plano.
Em pesquisa realizada com alunos do curso de Licenciatura em Física da Unesp Bauru, 100% afirmou ter tido apenas aulas teóricas no Ensino Médio. Ao serem questionados sobre as razões pelas quais eles acreditavam não ter tido aulas experimentais esse alunos responderam: por falta de qualificação do professor (6%); por falta de espaço adequado (39%); por falta de equipamentos (67%) e 11% disseram que a escola possuía local com equipamentos mas esse espaço não era utilizado. Essa pesquisa foi realizada por Nádia e Carlos Grandini.
Certamente, isso contribui para o distanciamento dos jovens quanto às carreiras científicas. É claro que o baixo investimento do Brasil em Ciência e a baixa valorização profissional também contribuem. Tanto que o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, demonstrando enorme preocupação sobre essa questão afirmou: “Não reconhecer que a ciência é o motor do futuro demonstra descaso com a sociedade, um analfabetismo científico que custará caro à nação.”
Lembro que aprendi a valorizar e a amar a Ciência ainda no Ensino Fundamental, onde minhas aulas eram no laboratório da saudosa EEPSG Ernesto Monte sob a orientação do grande Professor Canova.
Refletindo sobre essas incríveis aulas pude perceber que a importância e o grande valor da ciência experimental reside na necessidade do aluno em vivenciar, concretamente, os aspectos teóricos do conteúdo escolar. Essa é uma das mais eficientes formas de tornar o ensino realmente significativo para nossos alunos.
Definitivamente, precisamos valorizar a prática experimental, impedindo assim que nosso sistema educacional acabe com a curiosidade, com a vontade de investigar e com a criatividade de toda uma geração logo no início de sua vida escolar.