Gerhard Fettweis, Eduardo Costa, Henrique Malvar, Gilberto Medeiros e o Acadêmico José Roberto Boisson de Marca, mediador da mesa

Nos últimos anos, as empresas de computação têm trabalhado para que as facilidades da tecnologia não se limitem aos dispositivos. Um fax podia ser uma invenção prática, assim como a secretária eletrônica, mas é muito mais fácil ter tudo isso reunido em um smartphone, por exemplo, e poder levá-lo consigo para onde quiser. Mas a inovação não acaba aí. Empresas atualmente trabalham para que as máquinas se adaptem aos nossos sentidos e necessidades, podendo se integrar ao nosso cotidiano agindo “sozinhas”, ou com comandos simples, como o de voz.

Esse debate foi o tema da sessão “Novas tecnologias”, que abriu o segundo dia de evento da Reunião Magna 2016, realizada entre 4 e 6 de maio no Museu de Amanhã, no centro do Rio de Janeiro, em comemoração aos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências.
Inteligência artificial

O pesquisador brasileiro Henrique Malvar, atual cientista-chefe da Microsoft Research, apresentou algumas das inovações recentes da empresa. “Não estamos mais limitados ao aparelho que temos nas mãos, a tecnologia vai muito além disso, mas é necessário uma nuvem muito grande para agrupar tudo isso”, explicou Malvar, lembrando a necessidade de um banco de dados que agrupe as informações para o uso das tecnologias.
O cientista afirma que a tendência é fabricar “computadores que podem ver, ouvir e compreender”. “Gosto de tocar nesse ponto, pois, provavelmente, nossos netos irão dizer o que significa aprender a mexer em computadores? É só falar com eles”, disse Malvar. “Inteligência artificial e outras tecnologias que estão sendo desenvolvidas farão com que os computadores se adaptem a nós, e não o contrário”, completou.
Malvar apresentou um modelo de investimento utilizado pela Microsoft em que são avaliados projetos concluídos e em desenvolvimento, assim como estabelecidos quais têm uma aplicação definida e quais estão sendo estudados ainda sem um propósito.
Um dos exemplos das pesquisas concluídas, mas ainda sem uma aplicação, é um conjunto de sensores capazes de reproduzir virtualmente todos os movimentos da mão humana. “Para que usaremos isso? Ainda não sabemos. Mas é um estudo concluído e aguarda uma aplicação”, explicou Malvar.
Entre as pesquisas concluídas e já com um aplicação definida, o professor cita as “HoloLens“, óculos de realidade aumentada, capazes de dar informações sobre uma obra de arte, por exemplo, uma fotografia, uma paisagem ou o rosto de uma pessoa, bastando você olhar para ela.
Outro exemplo de tecnologias já em aplicação é a tradução em tempo real do Skype. “Com este software, nós rompemos a barreira do espaço, possibilitando a comunicação entre pessoas em qualquer parte do mundo. Agora, quebraremos a barreira do idioma.”
O pesquisador apresentou um vídeo promocional de uma experiência realizada, simultaneamente, entre uma escola dos Estados Unidos e uma escola do México em que duas garotas se comunicavam utilizando o software de tradução. “O único problema é que a tradução é feita por uma voz padrão, mas já estamos trabalhando para que a voz traduzida seja igual à voz de quem fala”, afirmou Malvar. “Ou seja, em breve vocês poderão ouvir suas próprias vozes falando em qualquer língua que desejarem.”
Internet tátil

Para o pesquisador da 5G Lab, laboratório de inovação da Alemanha, Gerhard Fettweis, o aumento da interação entre dispositivos tecnológicos e usuários é necessário para atender à demanda por informação da internet de todos os computadores e celulares. Segundo o pesquisador, as utilidades virtuais já fazem parte da vida das pessoas e isso só tende a se ampliar.
Para exemplificar, ele mostrou imagens das posses dos papas Bento XVI, em 2005, e de seu sucessor, Francisco, em 2013. Na primeira imagem, boa parte da multidão na Praça São Pedro, em Roma, está de cabeça baixa digitando nos teclados dos celulares. No caso da segunda foto, oito anos depois, os celulares estão levantados e o que se vê é uma infinidade de pontos coloridos, enquanto o público fotografa os acontecimentos na posse do novo Papa.
Segundo Fettweis o próximo passo da tecnologia é a interação real entre o usuário e o dispositivo. Como exemplo ele cita o desenvolvimento de um óculos de realidade aumentada em que, em um estádio de futebol, por exemplo, faz com que o torcedor consiga acompanhar o jogador de sua preferência ou apenas a bola do jogo; outro exemplo são robôs humanoides, que podem interagir com os humanos e até realizar tarefas.
Outra pesquisa em desenvolvimento é a de carros com “olhar de pássaro”, ou seja, veículos que conseguem se movimentar sozinhos no trânsito a partir de uma visão geral da rua, dos outros carros e de possíveis desvios ou casualidades. No campo, essa ferramenta também pode ajudar a evitar a morte de animais escondidos em plantações que não seriam vistos por seres humanos dirigindo tratores, por exemplo.
Os problemas encontrados pela internet tátil são o alcance do wi-fi, necessário para que os dispositivos obtenham os dados da nuvem; o desenvolvimento do hardware e o armazenamento de dados. Para isso o 5G Lab conta com mais de 3 mil cientistas. “O mundo está passando para a internet tátil – e é como se nos deparássemos com um novo mundo”, finalizou Fettweis.
A importância do nano

O problema do hardware, comentado pelo professor Fettweis, foi aprofundado na palestra de Gilberto Medeiros, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Medeiros destacou os recentes desenvolvimentos em nanotecnologia, com o propósito de reduzir cada vez mais o tamanho dos dispositivos, aumentando a capacidade de armazenar informações.
Todos os dados que constam na internet – nossas fotos em redes sociais, os vídeos das plataformas streaming, os bancos de dados de GPS – estão armazenados em algum lugar. Se o propósito das empresas é ampliar a capacidade dos dispositivos de reconhecer dados, eles precisarão coletar e armazenar mais informações ainda.
“Como conseguiremos armazenar quantidades maiores de informação? Quais são os limites para isso?”, questiona Medeiros, propondo em seguida algumas alternativas.
Atualmente, fala-se em Zeta Bytes para tratar da demanda de armazenamento de dados para o futuro. 1 ZByte corresponde a 10 trilhões de Tera Bytes. A estimativa da Internacional Data Corporation (IDC) é que sejam necessários 40 ZBytes para armazenar toda a informação online em 2020.
Até 2005, o transistor havia sid
o uma das maiores revoluções no mundo da eletrônica, justamente pela possibilidade de reduzir o tamanho dos aparelhos, mas essa tecnologia se estagnou. “A necessidade é maior e ultrapassa o que se tem atualmente de estrutura física”, explicou Medeiros. “O problema não é perder informações inúteis, mas há muitas informações confidenciais nas plataformas online que podem estar desprotegidas”, afirmou.

Por esse motivo, está em andamento um estudo para que nem todas as informações sejam armazenadas igualmente, mas que os dispositivos se adaptem a cada necessidade. “À medida que as coisas diminuem, a distância entre as disciplinas fica menor. O profissional precisa ter conhecimento em todas essas áreas e todos os campos podem colaborar para desenvolver essa pesquisa”, completou Medeiros.
Cidades inteligentes

A partir do mesmo princípio, porém com um enfoque diferente, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e diretor do Laboratório Acadêmico para Cidades mais Humanas, Inteligente e Sustentáveis (LabCHIS) Eduardo Costa falou sobre linhas de pesquisas que buscam integrar a tecnologia para tornar os centros urbanos melhores para as pessoas. “Precisamos pensar o que queremos para a população das cidades e quais as tecnologias necessárias para melhorar a vida nesses espaços”, disse o pesquisador.
Atualmente, segundo Costa, 40% da população mundial vive em centros urbanos. Número bastante distinto dos 10% de 1900, quando a população global era bem menor. Mas a tendência é que isso se reduza. Estima-se que até 2050 a porcentagem de pessoas nas cidades será de 25%. “A vida nas grandes cidades está piorando”, disse o professor. “A média de velocidade na Linha Vermelha em horário de pico é de 12 Km/h. Isso é o mesmo que as carroças faziam no século passado”, brincou.
Para exemplificar os diferentes conceitos de cidades, o professor citou Paris, onde os bairros foram pensados para que as pessoas morassem, trabalhassem e se divertissem. Diferente do Rio de Janeiro, onde se tem um centro, quase completamente comercial, e bairros como o Recreio dos Bandeirantes, onde há quase exclusivamente moradias, o que exige locomoções maiores e, consequentemente, mais trânsito e transportes públicos mais cheios.
Mas para que iniciativas desse tipo sejam aplicadas em diferentes lugares, Eduardo Costa lembra que é necessária uma mudança de mentalidade. “Ninguém se pergunta o preço da construção de uma ponte, mas há alternativas para essas construções, como as barcas que vão do Rio a Niterói”, exemplificou.