O recém-inaugurado Museu do Amanhã é uma das maiores atrações deste verão carioca. No fim de semana de abertura, em dezembro do ano passado, 25 mil pessoas circularam pelo interior da nave ancorada na Praça Mauá. Para isso, há muita tecnologia aplicada. Em toda a exposição principal não há quadros, esculturas ou instalações, apenas monitores de computadores. Centenas deles, exibindo terabytes de conteúdo multimídia constantemente atualizado. No lugar dos tradicionais guias, cartões com chips de identificação por radiofrequência se conectam a uma assistente digital que dá dicas aos visitantes. E tudo é controlado por um sistema central, batizado com o nome sugestivo de “cérebro”.
“Cada tela do museu é um computador conectado ao cérebro”, explica Arleston Rodrigues Gonçalves, coordenador de sistemas da Radix, empresa responsável pelo desenvolvimento do sistema. “É por ele que os conteúdos são atualizados, o fluxo de visitantes é monitorado e a exposição é ligada e desligada.”
O “cérebro” é composto por seis máquinas, que totalizam poder computacional de 26 núcleos e 268 GB de memória RAM e controlam os 126 computadores da exposição. Para se ter uma ideia do porte, um computador pessoal mediano tem dois núcleos e 4 GB de RAM. Apesar de o servidor ficar trancado em uma sala gelada, longe da vista dos visitantes, a interação com o sistema se dá a partir da compra do bilhete e não se encerra na saída do museu. Na entrada, todos recebem um cartão, que serve para interação do visitante com o “cérebro”, e são convidados a registrar o nome e o endereço de e-mail.
A partir daí, as visitas se tornam personalizadas, bastando aproximar o cartão das telas. Por radiofrequência, cada computador da exposição identifica o visitante e transfere essa informação para o “cérebro”. A interação se dá pela Íris, uma assistente virtual que lembra o Siri, do iPhone. Por meio de um algoritmo, ela grava todo o conteúdo já visto e, pela análise dos assuntos de interesse de cada visitante, dá dicas do que a pessoa deve ver em seguida.
“Por ser um museu do futuro, a gente quis dar uma ideia de inteligência artificial”, diz Daniel Morena, diretor de Tecnologia da 32Bits, empresa que criou a Íris.
Após a saída, os visitantes recebem por e-mail informações sobre quais áreas do museu foram exploradas e são convidados a retornar. Numa segunda visita, basta informar o endereço de e-mail do primeiro cadastro para dar continuidade ao passeio. Como num jogo, as pessoas são incentivadas a concluir 100% das cinco áreas da exposição principal: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós.
“A ideia do cartão é muito interessante. Facilita bastante a visita”, disse o estudante Guilherme Lengruber.
Controle dos visitantes
Além da interação com os usuários, os cartões facilitam a administração do museu. Eric Ribeiro, gerente de TI do Museu do Amanhã, explica que a tecnologia permite monitorar, em tempo real, quantos visitantes, de diferentes perfis – estudantes, idosos, servidores públicos e outros -, estão no museu. Mais que isso, é possível saber exatamente qual foi a última atividade realizada por cada um deles.
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“A partir do primeiro registro, os visitantes recebem um resumo genérico sobre a visita dele. Nós estamos querendo montar um relatório mais completo, dizendo tudo aquilo que ainda não foi visto”, afirma Ribeiro.
E, por ser um museu do amanhã, o conteúdo está em constante atualização, procedimento também facilitado pelo “cérebro”. Dados como níveis de consumo e poluição são atualizados em tempo real, de forma automatizada.
“O museu tem a proposta de mostrar aos visitantes cenários futuros possíveis. Exercitar o entendimento de que certas ações têm consequências. Como a cada dia o hoje é diferente, então a cada dia temos de construir cenários novos de amanhã”, explica Luiz Alberto Oliveira, curador do Museu do Amanhã. “O acervo do museu precisa ter atualização constante, para não ser o museu do ontem. Diferentemente de outros museus, que são feitos para preservar, o Museu do Amanhã tem de renovar.”