Daniel de Aquino Ximenes, Carolina Coutinho, Jacob Palis e Carlos Augusto de Azevedo

 

Você conhece o termo “STEM Education”? A sigla em inglês, que agrupa as disciplinas relacionadas às ciências, tecnologia, engenharia e matemática, é usada para designar uma nova forma de ensinar as ciências exatas, ou duras, como também são chamadas.

Buscando se aproximar dos temas ligados à educação básica no Brasil e no mundo, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou, entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro, o evento “Desafios da EducaçãoTécnico-Científica no Ensino Médio”, realizado em parceria com a BG Brasil, em que foram apresentadas palestras de diversos pesquisadores, tendo como tema principal a educação básica.

Entre os temas tratados estiveram os desafios e as perspectivas, nacionais e internacionais, da Educação STEM; os investimentos e projetos de várias instituições que buscam oferecer uma melhor formação aos professores do ensino básico e como outras áreas da ciência podem colaborar para solucionar os problemas enfrentados hoje pelo ensino.

O neurocientista Roberto Lent relatou que após uma visita a Xangai, na China, percebeu que os seus estudos poderiam ser associados à educação. Hoje, entre outros temas, ele analisa a influência de videogames de ação no aprendizado. “Eu sempre aprendi a lidar com o conceito de neuroplasticidade ligado à saúde, mas notei que esse trabalho tinha tudo a ver com educação”,relatou o cientista.

Hoje, Lent organiza um censo, a partir de dados da plataforma Lattes, para formar grupos voltados para educação. “Há muitos pesquisadores que não sabem que o seu trabalho pode impactar positivamente na educação”, afirmou.

Cerimônia de abertura

Antes de iniciar o evento, os participantes foram cumprimentados pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis; pela coordenadora de Investimento Social da BG Brasil, Carolina Coutinho; pelo chefe de gabinete do Ministério de Ciências, Tecnologia & Inovação (MCTI), Carlos Augusto de Azevedo e pelo coordenador geral de Valorização de Magistério da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Daniel de Aquino Ximenes.

Palis declarou o enorme prazer que é para a Academia receber um evento sobre educação – um “instrumento de primeira importância para o avanço da sociedade em todos os aspectos”.

“Esse empenho pela educação aqui na Academia é antigo e agora toma nova força com o apoio do BG Group”, disse o presidente da ABC. “Nós temos a presença aqui de colegas da Austrália, Estados Unidos, China, México – enfim, uma participação intensa de pesquisadores, educadores – o que mostra o interesse global no ensino das disciplinas STEM. “

Representando o presidente da Capes, Carlos Nobre, Daniel Ximenes disse que a educação no Brasil enfrenta vários desafios e, para solucioná-los, será necessária a colaboração dos pesquisadores. “Cerca de 20%dos jovens brasileiros não estão no ensino médio e, entre os adolescentes de 15 a 17 anos, a porcentagem é de 55%”, informou Ximenes. “Então o problema se arrasta pelo ensino fundamental e os jovens não chegam ao ensino médio na idade correta ou desistem no meio do caminho. “

Formação de professores

Daniel de Aquino Ximenes também mostrou dados indicativos de que 80% dos ingressantes em cursos de licenciatura em matemática não concluem o curso. Em física, a taxa de desistência é de 67% e de 71% em química. “A nossa expectativa é que as reflexões sejam úteis ao que interessa fundamentalmente, que é o impacto disso nas políticas públicas de educação e que possamos ter instrumentos de qualidade para lidar com as questões em nosso país”, disse o coordenador da Capes.

Carlos Augusto de Azevedo, hoje chefe de gabinete do MCTI, lembrou de quando, na década de 1970, trabalhou com educação em Niterói, no Rio de Janeiro. “A situação não era nada boa e, com o tempo, foi piorando. Eu me lembro que nós fazíamos uma conta na década de 1970 e faltavam 10 mil professores de física. Na primeira década do século 21, segundo o último levantamento feito pelo professor Jorge Guimarães, ex-presidente da Capes, faltavam 100 mil; então o problema foi se agravando com o tempo”, afirmou.

Azevedo manifestou imensa satisfação em ver esse problema levado para a Academia Brasileira de Ciências, “que é onde se pensa a ciência no país”. “Acredito que com isso vai começar a haver uma maior reflexão e ações que vão levar a mudanças nesse quadro”, concluiu.