Sede da Academia Austríaca de Ciências, em Viena
Entre os dias 18 e 21 de novembro, a Academia de Ciências da Áustria (OeAW), em Viena, recebeu a 26ª Reunião Geral da Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS), que contou com a participação de mais de 300 convidados entre pesquisadores, políticos e educadores de mais de 50 países, desenvolvidos, subdesenvolvidos e emergentes, para debater sobre como a ciência, a educação e a tecnologia podem avançar, de maneira sustentável, em setores como agricultura, produção de energia e planejamento urbano.
O evento foi realizado em parceria com os Ministérios da Ciência, Pesquisa e Economia; Transporte, Inovação e Tecnologia e Relações Exteriores da Áustria, além da Prefeitura e do Departamento de Cultura da cidade de Viena; da Fundação Hannes Androsch e da Federação das Indústrias Austríacas.
Pela primeira vez em 30 anos, a Reunião Geral da TWAS foi sediada em um país desenvolvido. Isso não acontecia desde 1986, quando o evento ocorreu, pela segunda vez, em Trieste, na Itália, cidade onde a Academia foi fundada em 1983 por um seleto grupo de cientistas liderados por Abdus Salam, físico paquistanês vencedor do Prêmio Nobel. A primeira conferência realizada fora de Trieste aconteceu em Pequim, China, em 1987.
Para o diretor executivo da TWAS, Romain Murenzi, a reunião acontece em um momento essencial para o desenvolvimento sustentável mundial. “Os desafios que estamos enfrentando – como segurança alimentar, mudanças climáticas e problemas relacionados à educação – são momentâneos. As novas Metas para o Desenvolvimento Sustentável (SDG – sigla em inglês que designa o plano de metas globais estabelecidas pela ONU para os próximos 15 anos) forneceram um mapa de soluções, e nós [da TWAS] acreditamos que nosso encontro em Viena fará contribuições relevantes para compreender as metas e como alcançá-las.
Jacob Palis recebe a medalha Abdus Salam
Entre as comemorações realizadas nos cinco dias de evento, uma delas foi a entrega da Medalha Abdus Salam a Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente da TWAS. Em uma sala repleta de amigos feitos durante sua gestão na liderança da entidade, Palis recordou com afeto sua relação com Salam – ganhador do Prêmio Nobel e fundador da TWAS – e de seu trabalho em defesa da ciência no mundo em desenvolvimento.
“Talvez”, disse ele, “eu tenha recebido essa honra tão especial por conta da minha grande paixão pela TWAS, projetada por seu fundador Abdus Salam para continuar a construção da ciência em todo o mundo, com foco nos países em desenvolvimento e em benefício de suas sociedades.” A medalha Abdus Salam só foi outorgada nove vezes em 30 anos e Palis é o segundo brasileiro a recebê-la: o primeiro foi o ex-presidente da ABC e ministro de Ciência e Tecnologia José Israel Vargas, no ano 2000.
Jacob Palis é membro da TWAS desde 1991, atuou como secretário-geral de 2001 a 2006 e foi presidente da organização de 2007 a 2012. Nesses cinco anos de presidência, a Academia teve um crescimento significativo, desde a abertura de cinco escritórios regionais até o aumento expressivo de fundos destinados à instituição, que permitiram um número muito maior de bolsas para pesquisa. O atual presidente da TWAS, Bai Chunli, ressaltou que o cientista brasileiro contribuiu imensamente para o desenvolvimento de uma nova geração de cientistas vindos de países em desenvolvimento.
A medalha foi entregue a Palis pelo químico indiano C.N.R. Rao, membro correspondente da ABC, que precedeu o matemático brasileiro na presidência da organização. Rao recordou em seu discurso que Palis sempre foi uma presença vibrante na Academia. Desde 2007, preside a Academia Brasileira de Ciências, numa gestão marcada pela descentralização, valorização da ciência nas diversas regiões do Brasil e criação da jovem Academia.
Nascido em Uberaba (MG), filho de um libanês e uma síria, doutorou-se em matemática pela Universidade da Califórnia em Barkeley (EUA) no ano de 1968, quando voltou ao Brasil para trabalhar como pesquisador no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), onde mais tarde viria a se tornar diretor, de 1993 a 2003.
Instituída em 1995, a Medalha Abdus Salam é um dos mais prestigiados prêmios da Academia e homenageia o físico paquistanês fundador do Centro Internacional de Teórica Física (ICPT), que hoje leva seu nome, e da própria TWAS, em 1983.
“Eu ouvi falar de Salam pela primeira vez como o fundador do Centro Internacional de Teórica Física, criado pelo governo italiano em 1964, em Trieste, por volta de 20 anos antes da TWAS e igualmente voltada para o sonho de expandir a boa ciência no mundo em desenvolvimento”, recorda Palis, afirmando que os encontros proporcionados pelo centro de física foram essenciais para a criação da TWAS. “Para os cientistas do primeiro mundo, ir ao ICTP era um passo importante para replicar a visão de Salam em seus países. Em Trieste, compartilhando as mesmas visões, eles se engajavam, confirmavam a fé no que faziam e a importância do trabalho que estavam realizando”, resumiu.
Veja o discurso completo de Jacob Palis aqui.
Artur Avila é premiado
Em cerimônia especial durante a Reunião Geral da TWAS, no dia 18 de novembro, o matemático brasileiro e Acadêmico Artur Avila foi nomeado vencedor do Prêmio TWAS-Lenovo de Ciência de 2015 por sua pesquisa resolvendo mistérios matemáticos como: “por que o caos emerge da simplicidade? “
A pesquisa de Avila ajudou a resolver alguns dos principais dilemas da matemática e conscientizar o mundo sobre a qualidade da pesquisa realizada no Brasil. O cientista ganhou a medalha Fields em 2014 e o prêmio da TWAS para Matemáticos em 2013.
“Artur Avila é, certamente, um talento excepcional da matemática”, disse o presidente da TWAS, Bai Chunli. “Mas ele também é um símbolo notável da criatividade que encontramos entre os jovens pesquisadores no mundo em desenvolvimento. Nós da TWAS estamos orgulhosos de nosso contato com esse estudioso e acreditamos que ele terá mais muitos anos de realizações importantes. “
Aos 36 anos, Avila é um dos mais proeminentes solucionadores de problemas matemáticos. Entre suas maiores realizações está um trabalho em sistemas dinâmicos – um ramo da matemática que estuda comportamentos complexos e aparentemente caóticos que podem surgir ao longo do tempo a partir de sistemas simples. Graças ao seu trabalho, matemáticos
têm provas para descrever, por exemplo, como uma população de organismo irá crescer ou retroceder com o tempo.
têm provas para descrever, por exemplo, como uma população de organismo irá crescer ou retroceder com o tempo.
Quando Avila tinha 13 anos, um professor percebeu seu potencial e o incentivou a participar da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), na qual venceu a medalha de ouro dois anos depois. Na ocasião, o estudante teve contato com os pesquisadores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se inspirou a, um dia, juntar-se a eles como matemático. Atualmente, Artur Avila divide sua pesquisa entre o Impa, no Rio de Janeiro e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) na França, onde é diretor de pesquisa.
Primeiro brasileiro a ganhar a medalha Fields, distinção mais significativa entre os profissionais da matemática, o trabalho de Artur Avila é puramente conceitual, mas isso não impede o alcance de suas descobertas em vários campos da pesquisa. “Descobertas na forma básica podem ser usadas posteriormente com aplicações matemáticas ou em vários outros campos como química e engenharia”, disse o cientista.
“Vários matemáticos, particularmente os que se dedicam ao mesmo tipo de pesquisa que eu, não têm aplicações em mente”, explicou Avila. “Mesmo as pesquisas em sua forma mais pura têm consequências. Tudo está conectado no mundo da matemática. “
O Prêmio TWAS-Lenovo foca na pesquisa básica e inclui a entrega de U$100 mil ao vencedor. Os temas variam a cada ano. Em 2016, a disciplina contemplada será a química.
Empossados brasileiros eleitos em 2014
Dos 46 novos membros eleitos para a TWAS em 2014, durante a 25ª Assembleia Geral, realizada em Mascate, capital do Sultanato de Omã, no mês de outubro, cinco eram brasileiros. Eles tomaram posse em 2015, na reunião de Viena. São eles Fernando de Queiroz Cunha (USP), Marcos Pimenta (UFMG), Maria Fatima Grossi de Sá (Embrapa), Oswaldo Luiz Alves (Unicamp – ausente na foto) e Rodrigo Corrêa-Oliveira (FiocruzMG).
Jacob Palis, Maria de Fátima Grossi (Embrapa), Marcos Pimenta (UFMG), Rodrigo
Corrêa-Oliveira (Fiocruz), Fernando Cunha (USP), Rafael Guido (USP-São Carlos),
Flávia Ribeiro Gomes (UFRJ), Marcelo Farina (UFSC)
Corrêa-Oliveira (Fiocruz), Fernando Cunha (USP), Rafael Guido (USP-São Carlos),
Flávia Ribeiro Gomes (UFRJ), Marcelo Farina (UFSC)
Os membros afiliados da ABC Rafael Guido (USP-São Carlos), Flávia Ribeiro Gomes (UFRJ) e Marcelo Farina (UFSC) também foram empossados como membros afiliados da TWAS, por um período de cinco anos, de 2015 a 2019.
Acadêmicos são nomeados membros da TWAS
Todo ano, nas Reuniões Gerais da TWAS, são escolhidos os novos membros da Academia e, em 2015, de 44 eleitos, três são brasileiros e membros da Academia Brasileira de Ciências.
Na área de Biologia Estrutural, Celular ou Molecular foi eleita a pesquisadora Débora Foguel, professora titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, no Centro de Ciência e Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A professora Virgínia Sampaio Teixeira Ciminelli foi eleita na área de Ciências da Engenharia e é professora do Departamento de Metalurgia e Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologias em Recursos Minerais, Água e Biodiversidade de Belo Horizonte (MG).
E o terceiro pesquisador brasileiro foi o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas de São Paulo, Jacques Lepine, na área de Ciências Astronômicas, Espaciais e Terrestres.