Participantes da conferência

Nos dias 4 e 5 de novembro, a Academia Brasileira de Ciência (ABC) recebeu a 18ª Conferência da TWAS-ROLAC para Jovens Cientistas, que contou com a participação de 18 pesquisadores sul-americanos e caribenhos para apresentarem seus trabalhos envolvendo biologia associada a outras ciências, além de palestras com cientistas mais experientes.
O presidente da Academia de Ciências da América Latina (ACAL), Cláudio Bifano, destacou a necessidade de fazer os jovens cientistas compreenderem a importância da ciência na política. “É importante introduzir e praticar o que se chama de responsabilidade social dos cientistas, tão logo quanto for possível.”
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Jorge Elias Kalil Filho destacou a importância de realizar um evento voltado para jovens cientistas, que serão as novas lideranças da área científica. “É importante ensinar-lhes como a ciência pode ser importante no desenvolvimento dos países dos quais eles vêm”, disse o professor.
Consciente da sua responsabilidade nas decisões políticas no futuro, o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, Sebastião Pratavieira, de 30 anos, disse considerar o evento importante para que se veja a relevância das pesquisas produzidas na América Latina. “A gente acha que só são importantes as pesquisas realizadas nos Estados Unidos, na Europa, e não. Muita coisa que se faz aqui no Brasil tem relevância. Publicam-se bons artigos em boas revistas”, afirmou.
“Uma outra coisa é com relação a nós termos que educar ainda mais as crianças no ensino fundamental e médio”, disse o físico Pratavieira. “Como o professor Bifano comentou, nós já estamos na academia; precisamos ter mais ainda essa consciência de voltar e falar será que lá na minha região as crianças estão aprendendo bem ciência?”
Claudio Bifano disse, em sua palestra, ser fundamental para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país, a compreensão do valor da ciência pelos cidadãos, e que eles compartilhem desse valor. Um dos maiores benefícios do conhecimento científico, segundo o professor, é o desenvolvimento do senso crítico, “fundamentais para a formação de todas as pessoas, independentemente da sua função na sociedade”, acrescentou o presidente da ACAL.
“Para que muros?”
Durante a palestra de Bifano, o Acadêmico Esper Abrão Cavalheiro falou sobre sua percepção a respeito da educação superior no país. “Nós somos todos muito curiosos até chegarmos na escola. E não vejo nada diferente na universidade ou na pós-graduação. Aprendemos a repetir fórmulas”, criticou. “Na universidade, passamos anos discutindo de que cor pintaremos os muros, mas nunca nos perguntamos para que muros?”
Professor titular do departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, Cavalheiro falou, em entrevista à ABC, sobre um projeto de incorporar a pesquisa de jovens cientistas à grade curricular de escolas de educação básica, dando aos alunos a experiência da ciência aplicada.
“Como o professor Bifano disse muito bem, o ensino deixa de estar centrado na figura do professor, que passa a ser um mediador entre essa curiosidade natural da criança, e o universo que se abre”, salientou Cavalheiro.
O evento
Organizado pelo Escritório Regional para América Latina e Caribe (ROLAC, na sigla em inglês) da Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS), a 18ª Conferência para Jovens Cientistas foi coordenada pelos Acadêmicos Vivaldo Moura Neto, Débora Foguel e Flavia Gomes, também responsáveis pela mediação das mesas de debate e das palestras realizadas.
Coordenador do TWAS-ROLAC, Vivaldo Moura Neto falou da importância de se renovar a forma de fazer e ver a ciência. “Não é, evidentemente, uma observação derradeira da minha parte, mas, depois desses anos todos, eu tenho uma certa impregnação dogmática do que deve ser feito como ciência”, disse o professor, que completará 70 anos no fim de dezembro. “É preciso que os jovens digam há outros caminhos, há outra perspectiva, há outra preocupação. Por exemplo, eles podem mostrar que a ciência deve trabalhar junto com a educação no sentido de dialogar com a sociedade. ”
Moura Neto também destacou a oportunidade proporcionada pelo evento da TWAS-ROLAC de colocar os jovens cientistas do continente em contato.
A pesquisadora cubana Karina García Martinez também falou da importância do intercâmbio entre os cientistas latinos da nova geração. “Geralmente, nós trabalhamos com europeus ou pessoas de fora da América Latina. É importante nos conhecermos para colaborarmos aqui.” Além disso, a física destacou a importância do diálogo entre as ciências, outra proposta do evento. “É melhor estudar processos biológicos, associando o resultado com outras ciências. Isso cria conhecimentos, novos pontos de vista do mesmo fenômeno”, afirmou.
Professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro afiliado da ABC, Flávia Gomes disse acreditar que a entrada de pessoas jovens na área de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) pode ajudar a levar o conhecimento científico para a sociedade e combater o conservadorismo que, segundo ela, ainda existe no meio acadêmico. “Eu acho que é muito importante as pessoas mais jovens, e os mais velhos também, conquistarem mais a comunidade. Hoje foi muito discutido como fazer com que, no ensino médio e básico, as pessoas comecem a se interessar e a ver de fato a importância da ciência para a própria população”, disse a professora. “Quer dizer, como é que o conhecimento gerado na pesquisa científica vai se reverter em benefícios para a sociedade? “, finalizou.