Nascido em Paragominas, cidade no interior do Pará, Newton Barbosa é um dos novos membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – Regional Norte para o período 2015-2019.
Filho mais velho de uma professora e de um engenheiro agrônomo, Barbosa percebeu logo cedo o privilégio de ter um pai com curso superior e de, justamente por isso, contar com uma biblioteca em casa. O pesquisador diz que durante a infância passava horas em companhia dos livros, saindo apenas para jogar bola. “Pois aí não dá para competir, né?”, brinca o físico.
Quando criança gostava de jogos de tabuleiro e futebol. Na escola, suas matérias preferidas eram física, química, biologia e matemática. Conta que começou a detestar idiomas pela forma como eram ensinados, obrigando-se os alunos a decorarem regras gramaticais.
O interesse pela ciência surgiu graças a seu pai, apaixonado pela engenharia agronômica, por ciências e pelo pensamento. “Sua postura racional diante de qualquer problema e a forma como os abordava tiveram sobre mim influência decisiva”, recorda. E também foi determinante para suas irmãs, que cursaram medicina e administração de empresas.
Assim, Barbosa decidiu muito cedo ser pesquisador e trabalhar com ciências naturais. Na hora de prestar o vestibular, ficou em dúvida entre física e química. Acabou optando pela primeira, mas acredita que qualquer uma das duas o teriam satisfeito como profissional.
Entre química e física, preferiu todas
Barbosa se matriculou na Universidade Federal do Pará (UFPA), mas no segundo ano se transferiu para a Universidade Federal do Ceará (UFC), onde fez a iniciação científica e teve contato com a pesquisa experimental sob orientação do professor Francisco Erivan de Abreu Melo.
Além do professor Erivan, Barbosa destaca a importância do professor Ilde Guedes da Silva, com quem aprendeu a importância de uma boa fundamentação em física e do domínio da linguagem matemática nas atividades de pesquisa.
Realizou o mestrado e o doutorado na Universidade de São Paulo (USP) sob orientação do professor Sergio Carlos Zilio. Nessa época, diz ter visto que a física de matéria mole estimula a interdisciplinaridade, o que lhe possibilitou ter contato com profissionais de outras áreas como química, biologia, farmácia, odontologia e medicina.
Aplicação das ciências básicas
Newton Barbosa se dedica atualmente ao estudo da estrutura eletrônica e cinética de processos moleculares, buscando compreender o comportamento das moléculas em diferentes situações. “Basicamente empregamos luz para estimulá-las e observamos suas respostas por meio de uma série de processos, como emissão, absorção e espalhamento”, explica o físico.
Esses experimentos possibilitam aplicações como o desenvolvimento de medicamento para tratamento do câncer, displays, células solares e comunicações ópticas. “Daí a importância da física e da química no meu trabalho pois sem o conhecimento das leis básicas dessas duas ciências irmãs seria impossível entendermos o comportamento da matéria”, afirma.
Viajando no tempo com a ciência
Newton Barbosa se diz um homem encantado pela ciência, a qual define como uma atividade humana que proporciona liberdade. “Ela permite que um menino lá de Paragominas converse com pessoas como Pasteur, Curie, Lavoisier, Newton e, ao tentar entender o que essas pessoas fizeram, seja transportado para um mundo de infinitas possibilidades”, divaga. “É claro que quando se cresce, se aprende que esse mundo não é perfeito”, diz o físico. “Mas é fácil verificar que o problema não é da ciência em si, mas do homem que ainda não evoluiu a ponto de extrair o que a ciência tem a oferecer de melhor”, opina.
Em sua área, Barbosa diz que o maior encanto é ver os conceitos básicos da ciência aplicados e conseguir resultados práticos como, por exemplo, ao observar o comportamento das moléculas, descobrir a possibilidade de desenvolver um tratamento contra o câncer.
Newton Barbosa afirma que o título de membro afiliado da ABC é a maior honraria que já recebeu e sente como se lhe fosse confiada a responsabilidade de ser um representante da ciência brasileira na região Norte, área com menor densidade de pesquisadores, embora corresponda a mais da metade do território nacional. “Ao trabalhar para desenvolver a ciência nesta região, contribuo diretamente para o fortalecimento da ABC, que tem como uma de suas missões o desenvolvimento científico do Brasil”, afirma Barbosa.
“Ser pesquisador no Brasil não é tarefa fácil e na região Norte as coisas ficam um pouco piores”, diz o pesquisador. Barbosa reconhece que o país já se desenvolveu na área da pesquisa, podendo oferecer uma formação de nível internacional dentro do país, mas diz que ainda precisa melhorar. “Tenho orgulho de ser do Norte e de ser cientista e sou feliz por isso. Espero que minha filha e, no futuro, meus netos, sintam essa mesma felicidade”, deseja o professor.