Estimular a multidisciplinaridade nas pesquisas da área biomédica e fortalecer a representação dessa comunidade dentro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), de modo que ela possa influenciar na política científica do país.
Eduardo Moacyr Krieger faz conferência de abertura na 30ª Reunião da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE). Crédito: Agência Fapesp
Com esses dois objetivos foi criada há 30 anos a Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), cujo primeiro presidente foi o médico Eduardo Moacyr Krieger.
Em uma conferência proferida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no dia 9 de setembro, durante a abertura da 30ª Reunião Anual da FeSBE, Krieger – que atualmente é vice-presidente da FAPESP – afirmou que já no ano de 1985 estava claro que, sem a integração de diferentes disciplinas, seria impossível produzir ciência de qualidade.
“Se naquela época isso era algo desejável, hoje é mandatório”, afirmou o médico.
Com essa missão nasceu a FeSBE, que inicialmente reuniu as sociedades brasileiras de Biofísica, Bioquímica, Fisiologia, Farmacologia e Terapêutica Experimental e Investigação Clínica. Atualmente, também fazem parte as sociedades de Biologia Celular, Imunologia, Neurociências e Comportamento, além da Brazilian Research Association in Vision (Bravo).
“A ideia era integrar esforços e facilitar a troca de ideia entre os cientistas”, relatou Krieger.
Segundo o médico, o modelo tradicional de universidades divididas em departamentos, nos quais as diferentes disciplinas não interagem entre si, está sendo fortemente questionado em todo o mundo. Os médicos cada vez mais necessitam trabalhar dentro de equipes multidisciplinares e isso requer uma formação com esse caráter.
“Algumas universidades americanas estão diminuindo o número de cursos de pós-graduação e concentrando disciplinas variadas em um único programa, para que o aluno tenha diferentes vivências. Não se pretende diminuir a importância das disciplinas, mas acentuar que a pesquisa deve ser multidisciplinar.”
De acordo com Krieger, a FAPESP tem privilegiado o financiamento à pesquisa multidisciplinar por meio de Projetos Temáticos justamente por reunir diferentes competências.
“As agências de fomento, de maneira geral, devem exigir cada vez mais que os projetos de pesquisa sejam integrados”, disse.
Krieger mencionou ainda algumas áreas de pesquisa que têm ganhado destaque nos últimos anos e que são extremamente dependentes da interação de cientistas de diferentes áreas, como Biologia de Sistemas (que pretende integrar toda a informação biológica, estudando os mecanismos celulares como um todo, e assim tenta perceber o funcionamento dos diferentes sistemas em simultâneo), Medicina Translacional (que busca acelerar a transferência de resultados de pesquisa básica para pesquisas clínicas) e Medicina de Precisão (busca de biomarcadores que possibilitem tratamento individualizado e eficaz, além da medicina preventiva).
A integração das disciplinas, disse Krieger, também favorece parcerias entre as universidades e o setor privado. “A pesquisa se tornou tão cara e tão complexa por ser multidisciplinar que as indústrias dificilmente conseguem fazer sozinhas. No passado existiam equipes grandes fazendo ciência básica, mas hoje estão convencidas de que é importante firmar parcerias com universidades e buscam aquelas com condições de fazer pesquisa de vanguarda”, afirmou.
Também destacou que a FeSBE deve contar com disciplinas fortes para promover uma multidisciplinaridade eficiente e que a pesquisa de maior qualidade pretendida pelas diferentes disciplinas só será alcançada pela multidisciplinaridade fornecida pela FeSBE. O atual presidente da FeSBE, Walter Araújo Zin (Universidade Federal do Rio de Janeiro), também participou da cerimônia de abertura da 30ª Reunião Anual, ao lado dos ex-presidentes Dora Fix Ventura (USP) e Gerhard Malnic (USP). Também fizeram parte da mesa o vice-diretor da FMUSP, Tarcisio Eloy Pessoa de Barros Filho, e a secretária geral da FeSBE, Luciana Venturini Rossoni (USP).