O segundo dia da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal de São Carlos de 12 a 18 de julho, teve como uma das atrações a conferência da Acadêmica e astrofísica Thaisa Bergmann. Vencedora do For Women in Science 2015, prêmio internacional promovido pela LOréal e UNESCO, a simpática cientista falou sobre os buracos negros supermassivos e atraiu uma multidão de jovens que lotaram a sala da palestra, levando muitas pessoas a sentarem no chão e outras a assistirem pela janela, do lado de fora.
Thaisa Bergmann é professora associada do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e chefe do Grupo de Pesquisa em Astrofísica. Ela pesquisa os processos de alimentação e feedback de buracos negros supermassivos em galáxias. Os buracos negros são objetos, regiões no espaço que acumulam uma quantidade enorme de matéria em um raio pequeno. Sua força gravitacional é tão forte que nada, nem mesmo a luz, pode escapar de ser “engolido” por ele.
A matéria do buraco negro, apesar de maciça, é compacta. “Para formar um buraco negro com a massa da Terra, por exemplo, esta seria compactada em uma bolinha de gude de nove milímetros”, comparou Thaisa. Ela informou que os buracos negros não podem ser vistos diretamente, pois não existem equipamentos que possibilitam isso. Sua atividade é observada a partir da matéria “engolida” por ele, pelas estrelas que orbitam em seu entorno e pelo disco de acreção – disco de poeira e gás formado ao redor dos buracos negros.
Enquanto que os buracos negros têm em torno de dez vezes a massa do Sol, os buracos negros supermassivos, foco dos estudos de Thaisa, têm de milhões a bilhões de vezes a massa solar. “Praticamente toda galáxia tem um buraco negro supermassivo no seu interior”, afirmou a astrofísica. Essa afirmação é possível, hoje, graças à sua descoberta, que a levou a ganhar o prêmio For Women in Science.
Thaisa foi a primeira cientista a observar o disco de acreção em uma galáxia inativa e o seu padrão de movimento. Além disso, a Acadêmica também foi pioneira ao mostrar que gás e poeira poderiam ser absorvidos por buracos negros. Isso possibilitou um entendimento mais claro de como buracos negros se formam nos centros das galáxias e, consequentemente, aproximou a humanidade de compreender a formação do universo. “Quando fiz a descoberta, fiquei alguns dias sem dormir, de tão empolgada”, contou.
A Acadêmica ficou feliz com a enorme quantidade de estudantes em sua palestra. “Fiquei surpresa positivamente com o interesse dos jovens por esse tema. Acho que é justamente por ter um pouco de mistério que esse assunto atrai. É isso que gosto nos jovens, quando eles não entendem sobre alguma coisa, ficam interessados e procuram conhecer.”
Thaisa também comentou o fato de haver poucas mulheres em sua área de atuação. “O prêmio que eu ganhei está relacionado a isso, mas, na verdade a astrofísica está até melhor do que a física, que tem apenas 12% de mulheres, enquanto a astrofísica tem 30%.” Ela contou que era interessada por ciência desde adolescente – gostava de fazer experimentos de biologia e química em um minilaboratório que tinha -, mas depois achou que era só um hobby e que não viraria cientista de fato.
Acabou prestando vestibular para arquitetura por influência de uma prima mais velha. “Comecei o curso, mas quando tive aula de física e passei pelos laboratórios, me acendeu alguma coisa que me fez perceber que arquitetura era a paixão da minha prima, não minha.” Mudou, então, para a física, onde tinha interesse por várias áreas. “Foi aí que um professor me capturou para a astronomia, área pela qual ele era apaixonado.”
Durante a palestra, Thaisa aproveitou para comemorar o fato de a sonda New Horizon ter se aproximado de Plutão naquele mesmo dia. O feito inédito possibilitou a percepção de que o planeta-anão é, na verdade, um pouco maior do que se imaginava. “Seu diâmetro é de 2.400 km, um pouco menor que da Lua”, explicou. Ao final da apresentação, a cientista atendeu, sempre sorrindo, a todos os jovens que queriam tirar uma foto com ela.