O amor e a facilidade em aprender matemática foram fatores essenciais para que, hoje,o búlgaro Boyan Slavchev Sirakov se tornasse um dos novos membros afiliados da ABC eleitos para o período de 2015-2019.
Nascido em Sofia, Bulgária, Sirakov teve uma infância feliz na capital e na pequena aldeia em que seus avós moravam, lugar onde costumava brincar na natureza. Era uma criança que aprendia tudo de forma rápida. Aos três anos, já era capaz de ler, escrever e fazer contas simples. “Sinto-me grato à minha avó, que cuidava de mim diariamente,e que era uma pedagoga excepcional”, fala, emocionado. A avó de Sirakov faleceu quando ele tinha apenas seis anos.
Por sua facilidade em assimilar rapidamente o conteúdo, os pais de Sirakov acharam que ele precisaria de um programa especial de escolaridade. Com autorização especial do Ministério da Educação Búlgaro, o menino prodígio estudava com professores particulares em casa e realizava os exames obrigatórios em uma escola de sua escolha,a fim de validar o que aprendeu.
O futuro matemático não tinha um horário extenso de aulas como nas escolas brasileiras, assim, usava o tempo livre para fazer outras atividades. Entre dez e 15 anos, Sirakov jogava vôlei e xadrez, inclusive para participar de competições, mas teve de abandonar esses esportes quando o treinamento se tornou incompatível com os estudos universitários.
“Eu terminei o ensino médio mais cedo do que o habitual. Entrei na Universidade de Sofia com 14 anos. A idade normal para entrar em qualquer curso de graduação era de 18 anos”, relembra.
Sirakov sempre almejou estudar matemática, pois era sua disciplina favorita, e sua mãe ensinava-lhe os cálculos com muita paixão e maestria. O cientista vem de uma linhagem de professores e, seguindo o exemplo dos pais e avós, optou pela carreira acadêmica.
No quarto ano do curso de graduação na Universidade de Sofia, ele foi fazer um intercâmbio em Paris, pela rede europeia Erasmus. “Foi durante a viagem que conheci o meu futuro conselheiro, o doutor Henri Berestycki”, comenta.
Sirakov fez mestrado em equações diferenciais parciais pela Universidade de Sofia, na Bulgária, e pela Universidade francesa Paris-Sud, onde também fez outro mestrado,em computação científica. Completou mais um mestrado, dessa vez em finanças, pela Universidade Paris Dauphine, também na França.
Aos 20 anos, mudou-se definitivamente para Paris para cursar o doutorado na Universidade Pierre et Marie Curie. “Conheci pesquisadores brasileiros durante esse período, e foi então que começaram algumas colaborações”, conta. Sua primeira visita ao Brasil foi em 2001, à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), através da Rede Franco-Brasileira de Matemática. “Eu imediatamente me apaixonei pelo Brasil e comecei a aprender português. Nos anos que se seguiram, eu visitava a Unicamp e a Universidade de São Paulo em São Carlos pelo menos uma vez por ano. Em 2012,decidi me mudar para o Brasil”, resume sua trajetória.
Atualmente, Boyan Sirakov é professor do Departamento de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Sua linha de pesquisa concentra-se na área das equações diferenciais parciais (EDP). Em geral, uma EDP é uma relação matemática entre uma função de várias variáveis e suas derivadas parciais.Tais relações são presentes em todos os campos da física, química, biologia, finanças e outras ciências. “Por exemplo, a equação de Schrodinger, que descreve o movimento de uma partícula sujeita a uma força externa, é uma EDP”, explica. “Várias reações químicas podem ser descritas por EDPs. A modelização das evoluções de populações na biologia é feita por EDPs. Elas também são usadas na engenharia petrolífera, para medir propriedades de poços através de observações da pressão no poço, ou nas finanças, por analistas que tentam predizer os preços de ações.”
Parte da pesquisa do jovem afiliado é teórica e se concentra no estudo das propriedades matemáticas de soluções de EDPs, mas há também uma parcela do estudo que consiste em colaborar com a indústria onde EDPs têm aplicações.
Além do trabalho, Sirakov gosta de ler, ver filmes clássicos, jogar xadrez, sair com os amigos e assistir aos jogos do esporte que é a paixão do brasileiro – e sua: futebol.
Para o matemático, ser um membro afiliado da ABC é um “reconhecimento único”.Ele pretende, em nome da comunidade matemática brasileira, participar ativamente de todos os eventos organizados pela ABC e aproveitar a oportunidade para conhecer jovens estudantes e trabalhar com autoridades do mundo científico brasileiro para a divulgação da ciência no país.