A Fundação Conrado Wessel (FCW) realizou na segunda-feira, dia 15, na Sala São Paulo, a cerimônia de premiação dos vencedores da 13ª edição do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura. Entre os agraciados estão o presidente de honra da SBPC e Acadêmico, José Goldemberg, o cardiologista Protásio Lemos Luz e a atriz Fernanda Montenegro, além dos fotógrafos Gabriel Monteiro, André Hauck e João Castilho.
Defensor da energia limpa e crítico dos combustíveis fósseis, o físico José Goldemberg se disse surpreso com a homenagem. “É uma satisfação muito grande porque está sendo reconhecido o papel progressista que tiveram organizações como a SBPC e as pessoas que passaram por ela, como presidentes, como foi meu caso, ou como membros da diretoria, que enfrentaram situações difíceis no passado. O fato de eles estarem nos premiando agora tem um significado especial”, observou.
Além de presidir a SBPC, Goldemberg já foi reitor da Universidade de São Paulo, secretário do Meio Ambiente de São Paulo e ministro da Educação. Em 1995 recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2007 entrou para a lista dos 13 heróis mundiais do meio ambiente da revista Time e, em 2008, venceu o Prêmio Planeta Azul, considerado o Nobel da área de meio ambiente. Em seu discurso na cerimônia da FCW, Goldemberg ressaltou a importância do desenvolvimento sustentável, que, segundo ele, significa sobrevivência e progresso.
“Meu trabalho nas últimas décadas tem sido de demonstrar, na área de energia, que existem fontes alternativas. São elas que permitirão no futuro atender às necessidades de energia de toda a humanidade, ricos e pobres, sem comprometer o meio ambiente”, disse.
O pesquisador não poderia deixar de destacar, ainda, a resolução dos países do G7 que se comprometeram, em encontro no último dia 8 de junho, a abandonar paulatinamente os combustíveis fósseis. “O que era visto com reserva por muitos, passa a ser a política oficial. Deixamos de ser os cavaleiros do Apocalipse para sermos os pioneiros da modernidade”, pontuou.
O novo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o climatologista Carlos Nobre, conta que Goldemberg foi um dos primeiros cientistas brasileiros que, nos anos 70, começou a estudar seriamente a questão do bioetanol e sua viabilidade, em uma época que ninguém falava em combustíveis alternativos.
“Ele vem falando dessa questão da sustentabilidade quando ainda nem se falava esse nome, da importância de encontrar um caminho do meio para o desenvolvimento, que permita que a sociedade cresça, mas sem afetar o ambiente. É muito justo que agora no Brasil ele receba esse que é o mais importante prêmio brasileiro da ciência”, diz.
Uma boa causa
O discurso de aceitação do prêmio FCW do cardiologista Protásio Luz Lemos, na categoria Medicina, foi dedicado aos estudantes e jovens médicos. “Não tratem apenas doenças. Conquistem, consolem e iluminem os corações angustiados”, disse.
Lemos participou, na década de 1970, nos Estados Unidos, dos estudos que mudaram a conduta frente ao infarto do miocárdio, com técnicas de intervenção sobre o músculo utilizadas até hoje. Em 1976, ao retornar dos Estados Unidos, após cinco anos de pesquisa, implantou no Instituto do Coração (Incor) o primeiro laboratório de pesquisa experimental do miocárdio. O médico dedicou-se também a pesquisar arteriosclerose e as relações entre vasos e cérebro em indivíduos que fazem exercício e os que bebem vinho tinto. Seus trabalhos foram publicados em mais de 150 artigos em periódicos internacionais e seu livro Endotélio e Doenças Cardiovasculares ganhou o Prêmio Jabuti na Área de Ciências Naturais e da Saúde, em 2004.
Mesmo aposentado, o cardiologista continua se dedicando aos seus estudos no Incor, diariamente, agora de forma voluntária. Vai porque tem paixão pelo estudo, pela medicina e pelas pessoas que atende. Aos seus alunos, ensina que para clinicar é preciso gostar de gente, sem discriminar, porque a doença é igual para todos. “Nem sempre é possível vencer, mas é sempre possível lutar por uma boa causa. E a medicina é uma boa causa”, aconselha.
Desejo de ver além
De estudantes a plateia, o não diferenciar dos públicos foi também abordado pela vencedora da categoria Cultura, a atriz que dispensa apresentações, Fernanda Montenegro. “Refletindo sobre a minha carreira, e o caminho que me trouxe até aqui, cheguei à conclusão de que o que me guiou nesses quase 70 anos de vida pública foi a não diferença nenhuma diante das plateias que enfrentamos pela vida”, declarou.
Emocionada, Fernanda contou que esta é a primeira vez que recebe uma homenagem levando o nome cultura. E que a notícia do prêmio a levou a revisitar a sua trajetória. Caminho que, nas palavras do coordenador cultural da FCW, o linguista Carlos Vogt, que entregou o troféu à atriz, é “a saga de sua multiplicação”.
Na conclusão dela, o mais importante foi fazer com que sua arte chegasse aos que não teriam acesso, buscando uma dramaturgia respeitável e responsável: “Tenho como norma jamais desmerecer a sensibilidade, a percepção de um espectador popular, respeitando o desejo desse ser humano de ver além”.
Continuidade
A presidente da SBPC, a Acadêmica Helena Nader, que entregou o troféu de melhor trabalho fotográfico, disse que é emocionante ver a continuidade do evento, que a cada ano, premia a excelência nas diferentes áreas do Brasil. “Quando eu vejo o que a Fundação está fazendo pela educação, pela ciência, pelas artes no país, eu vejo um raio de luz. O país passa por uma situação cada vez mais complicada, com corte de recursos, e ter uma fundação privada que acredita no próprio país é um alento”, comenta.
Considerado um dos mais prestigiados no País, o prêmio homenageia cientistas, médicos e artistas reconhecidos por suas trajetórias profissionais e contribuições de seus trabalhos à sociedade. Desde sua primeira edição, em 2002, a FCW já teve 43 agraciados na categoria Arte, 30 em Ciência, 12 em Medicina e 15 em Cultura, totalizando 100 premiados nesses treze anos. “O objetivo é reconhecer os talentos nacionais. Muitos deles normalmente não são reconhecidos pela nossa sociedade. E são todos pessoas de primeira linha, nomes indiscutíveis”, destaca o diretor-presidente da Fundação, o Acadêmico Américo Fialdini Júnior.
Para a Acadêmica Regina Pekelmann Markus, biomédica e secretária-geral da SBPC, a fundação “consolida o reconhecimento das atividades científicas e culturais do Brasil”. Segundo ela, a escolha da Sala São Paulo, um espaço privilegiado da cidade, juntamente com a premiação ao professor Goldemberg, ao professor Protásio, à atriz Fernanda Montenegro e o prêmio aos fotógrafos, mostra o quanto a Fundação reconhece a importância desse evento para o País. “É um prêmio que tem a característica de valorizar o que o povo precisa: a imagem, o saber, o cuidar e o criar”, diz.