O Google anunciou nesta segunda-feira (1º) um programa de custeio de projetos acadêmicos em ciências da computação que dará US$ 750 mensais (cerca de R$ 2.350) para mestrandos e US$ 1.200 (R$ 3.750) para doutorandos dos 20 processos selecionados durante três anos.
Segundo Berthier Ribeiro-Neto, coordenador do centro de pesquisa do Google em Belo Horizonte e um dos idealizadores da iniciativa, o interesse da empresa em dar o incentivo é buscar soluções para problemas reais da internet hoje e descobrir possíveis funcionários para a empresa.
“Não há qualquer condicionante que ligue os projetos escolhidos ao Google”, afirma. “A Fapesp também faz esse papel [de fomento acadêmico], a Capes, o CNPq. Isso não impede que o Google ofereça um estímulo adicional.”
“Demos um salto no volume de produção acadêmica nos últimos 50 anos, mas precisamos agora de um salto qualitativo.”
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Professor Edmundo Silva, da UFRJ (ao centro) e os alunos Gaspare Bruno e Bruno Rafaeli
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação participará do evento de anúncio, que será feito na capital mineira, com a presença do ministro Aldo Rebelo.
Os professores-orientadores responsáveis também recebem, mas um valor um pouco menor (US$ 675 e US$ 750, cerca de R$ 2.350 e R$ 2.100, respectivamente, para mestrado e para doutorado).
Para Ribeiro-Neto, projetos que terão mais chance de ser aprovados devem ter abordagem diferente para enfrentar questões existentes ligadas à internet. “A web está passando por uma mudança revolucionária, como na parcela de usuários que só conhece o celular, nunca usou um computador. Seu comportamento é diferente, e buscamos entendê-lo.”
Áreas como internet das coisas, tecnologia de cidades inteligentes e convergência nas plataformas de entretenimento (como plataformas de smart TV) foram menos estudadas, e portanto projetos relacionados a elas podem ter mais chance de seleção, diz o professor. (outras dicas podem ser nesta página de ajuda)
Serão exclusivamente aceitas pesquisas de instituições latino-americanas. A ideia é que o professor-orientador encaminhe a proposta ao Google por meio do site g.co/ResearchAwardsLatinAmerica até o dia 6 de julho.
A empresa tem um oferecimento semelhante nos EUA por meio de sua divisão Google for Education.
Piloto
A companhia americana já vem financiando alguns projetos como um teste para o programa que anunciou nesta segunda.
Um deles é o da membro afiliada da ABC professora Jussara Marques de Almeida, também da UFMG, que tenta descobrir os fatores que causam a “viralidade” (popularização rápida de conteúdo na internet) de um vídeo no YouTube monitorando o engajamento de internautas com o filme durante um período curto.
“Quando fomos contemplados com o financiamento, já tínhamos chance de tirar o projeto do papel, mas é inegável que ele foi fundamental para levá-lo adiante”, diz. “O financiamento de uma empresa do porte da do Google atesta a relevância da pesquisa.”
Segundo Almeida, a análise de milhares de vídeos e seu sucesso permitiu a criação de modelos de previsão. O projeto foi premiado durante uma conferência de aprendizado de máquinas em Nancy (França) no ano passado.
Outro projeto participante é o do professor e Acadêmico Edmundo de Souza e Silva, da UFRJ, cuja proposta é criar um sistema de monitoramento por sensores de alunos do Cederj, plataforma de educação a distância das universidades públicas fluminenses.
“Você nunca sabe se um aluno está prestando atenção a uma aula virtual, e portanto não tem informações sobre quais partes estão menos ou mais interessantes e o que deveria ser mudado”, diz.
Os sensores captariam movimentos das pálpebras e das pupilas para observar desatenção, por exemplo, para modificar o “fluxo” de uma aula (ordem das suas partes, por exemplo) de maneira automática. “Não tem a ver com punição. A ideia é melhorar a experiência do aluno ao assistir à videoaula.”
Outros sensores que poderiam ser empregados num eventual produto final -todos baratos e disponíveis, segundo Souza e Silva- são de bioimpedância e até um de eletroencefalograma.