Há seis mil anos A.C., astrônomos e matemáticos gregos registravam eclipses, cometas, órbitas de Vênus e fases da lua, como na Babilônia e na China antiga, com propósitos astrológicos. A astronomia foi a primeira ciência a desenvolver fundamentos geométricos observacionais, importantes para criar um padrão de credibilidade e uma clara relação entre instrumentação e matemática. É a mais antiga das ciências, portanto, no sentido taxonômico.


Astrônomos na literatura de Júlio Verne

Num contexto mais amplo, a astronomia é considerada um laboratório de física em condições extremas, como densidades, temperaturas e pressão. Impulsiona a física teórica e a tecnologia, tem laços com a química, matemática, biologia, engenharia e forte impacto cultural.

Em sua palestra na Reunião Magna 2015 da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no dia 6 de maio, a astrônoma da Universidade de São Paulo e diretora da ABC Beatriz Barbuy destacou que, em vários aspectos, a astronomia é o motor da física. Muitos dos grandes físicos da história trabalharam nessa área, como Galileu, Newton, Einstein, e, entre os brasileiros, os Acadêmicos César Lattes, Jayme Tiomno e Mario Schemberg. Os objetos de estudo da astronomia – como fusão nuclear, partículas elementares, unificação das forças, ondas gravitacionais e energia escura, entre outros – já deram à astrofísica 19 Prêmios Nobel.
Astrônomos fizeram descobertas e deesenvolveram inventos e técnicas de grande utilidade para a sociedade. Giacconi, em 1959, projetou o primeiro imageador de Raios-X, utilizado desde então em escaneamento de seguranca em aeroportos. Mais tarde, projetou e construiu o primeiro satélite de Raios-X para detectar objetos no espaço – e ganhou o Prêmio Nobel por ter detectado, pela primeira vez, objetos em Raio-X.
Barbuy mostrou ainda os detectores CMOS [sigla para “metal oxide semiconductors”], que substituiram os CCDs [da expressão em inglês “charge-coupled device”, ou dispositivo de cargas acopladas] para uso em satélites espaciais, projetados para o satélite Cassini, enviado a Saturno. “Eles foram projetados com o objetivo de serem muito mais leves e gastarem muito menos energia que os CCDs. Estes detectores são usados nos telefones celulares, com os quais são feitos vídeos e fotos”, ressaltou a pesquisadora.

Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA)

Em função das grandes turbulências no espaço, os aparelhos astronômicos têm que ser muito estáveis, e a tecnologia desenvolvida para esse fim foi aproveitada para procedimentos em oftalmologia. Estudos nessa área da ciência também trouxeram grandes melhorias para sensores infravermelhos, com aplicações em segurança, visão noturna, controle industrial, identificação de pessoas infectadas numa multidão, imagens definidas pela temperatura etc. A área de cálculo de órbitas foi e é mandatória para cálculo de de órbitas de satélites e utilizada normalmente para telecomunicações.

Entre os objetivos prioritários da astronomia atual está medir em que ritmo está ocorrendo a expansão do universo. Para tanto, os cientistas procuram entender do que se trata essa aceleração. Dentre outras abordagens, isso é feito através da Pesquisa sobre a Energia Escura, um projeto de pesquisa internacional que envolve laboratórios e cientistas de diversos países, inclusive o Brasil.
Outro objetivo é a procura de planetas extrasolares – já foram encontrados 1924 deles. Beatriz relatou que o número de planetas encontrados aumentou muito nos últimos anos, graças ao satélite Kepler. Este tornou-se inoperante em 2013, mas as buscas continuaram, através de telescópios em solo – alguns dedicados a isso, como um no Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês). “Há, ainda, novos satélites projetados, como o Plato e o Tess”, conta a Acadêmica. Essa área, segundo a especialista, desperta grande interesse da mídia. “O valor econômico da nossa ciência é difícil de mostrar, mas há um grande impacto indireto, como indicado pelos exemplos dados acima”, explicou Barbuy.

Em educação, o destaque da astronomia entre as ciências duras é notável. É a ciência que melhor qualifica o estudante para qualquer outra área, porque é muito variada. O aluno aprende física, geologia, biologia, química, sistema solar, astrofísica, instrumentação, desenvolve o pensamento crítico, métodos de pesquisa, capacidade de observação cientifica. E a astronomia atua na fronteira do conhecimento e das capacidades tecnológicas. “A divulgação científica através da astronomia é fácil”, destacou Barbuy, “porque é uma ciência que desperta muita curiosidade. Um exemplo: o blog de astronomia é o segundo mais acessado da Folha de S.Paulo. O primeiro é o de fofocas de TV.”