A sessão cujo título era o tema escolhido para a Reunião Magna comemorativa dos 99 anos da Academia Brasileira de Ciências foi iniciada com uma homenagem ao Acadêmico Jorge Almeida Guimarães, que naquele dia – 7 de maio de 2015 – encerrava seu mandato de onze anos à frente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação (MEC). O presidente da ABC, Jacob Palis, entregou um diploma de agradecimento pela década dedicada à ciência brasileira a Guimarães, que foi demoradamente aplaudido, de pé, pelo público que lotava o auditório da ABC.
Em seguida, Guimarães deu início à palestra, situando o Brasil no cenário internacional: 7º lugar no Produto Interno Bruto (PIB) per capita e 13º na produção científica, o que demonstra uma grande defasagem. Para que o Brasil atinja o 10º lugar na produção científica em 2024, que seria uma meta do governo, precisaria ultrapassar a Coreia, Austrália e Índia, o que parece muito difícil. Porém, Guimarães rememora que nos anos 70 o Brasil mandava estudantes para o exterior estudar agricultura, exploração de petróleo e desenho de aeronaves. Hoje, o país é líder mundial nesses três campos, entre outros – como odontologia, celulose, controle biológico de insetos, extração de petróleo em águas profundas, automação bancária e outros. Ou seja: o que parece difícil, não é impossível.
Financiamento de pesquisa é alicerce do desenvolvimento
Guimarães – que é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de Doutor Honoris Causa da Universidade de Nottingham – destacou que educação, ciência e tecnologia são os principais componentes de um processo que subsidia o desenvolvimento tecnológico, constituindo as bases para a inovação empresarial, o progresso e o vigor econômico das nações.
Ele ressaltou que todos os países, independente do seu estágio de desenvolvimento, vêm buscando participar do processo de geração de conhecimento e ocupar uma posição no ranking mundial da ciência.
Guimarães mostrou gráficos indicativos de uma grande dispersão na produção científica mundial, quer seja em relação aos campos de pesquisa, quer seja em relação à produção de cada país. No entanto, dos 226 países que desenvolvem atividades destinadas à geração de novos conhecimentos científicos – de acordo com a base de dados Web of Science (Thomson Reuters) – apenas 24 contribuem, cada um, com pelo menos 1% da produção científica mundial. Juntos, respondem por 84,1% do total mundial de artigos científicos publicados no período 2009-2013.
Mas a quantidade de artigos publicados por um indivíduo, instituição ou país nem sempre é sinônimo de qualidade. O palestrante alertou para o fato de que o fator de impacto (FI) – que é o componente qualitativo – independe do tamanho da comunidade científica de um país, por exemplo. Israel, Áustria, Escócia, Irlanda, Bélgica, os países nórdicos e outros com relativamente baixa produção quantitativa têm elevados índices no FI e no padrão de vida. “Esses são exemplos da dicotomia quantitativo-qualitativo”, ressaltou Guimarães. “Isso introduz o conceito de inovação científica”, afirmou, apontando ainda a significativa influência da co-autoria internacional no impacto das publicações, pelo aumento das citações.
O valor da ciência no Brasil
Focando no Brasil, Guimarães remeteu-se a algumas das metas do Plano Nacional de Educação que refletem o valor dado à ciência no país. Entre elas está elevar, até 2024, a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores em efetivo exercício para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores. Envolve, ainda, formar em nível de pós-graduação 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência do Plano, e garantir a todos os profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
Em relação à educação superior, Guimarães apresentou um estudo encomendado pelo ex-ministro Paim referente às universidades brasileiras mais próximas de um nível de internacionalização. Ele explicou que as melhores universidades do mundo são pequenas e que, em sua avaliação, não seria possível promover a internacionalização das universidades brasileiras como um todo.
Listando os cursos de pós-graduação pontuados em nível 6 e 7 na avaliação da Capes, porém, Guimarães mostrou que seria possível fazer uma internacionalização setorizada. Na USP, por exemplo, 25% dos cursos têm padrão internacional. Para realizar esse processo, no entanto, algumas mudanças significativas teriam que ser executadas de imediato, como atrair professores do exterior sem que eles tenham que fazer provas de português, eliminar os entraves da importação de materiais e insumos de pesquisa e outras.
Para encerrar, Guimarães apresentou um último gráfico que mostrava o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) investido pelos diferentes países em ciência e tecnologia (C&T). Esse número vai até 4,5 % (Israel) e o gráfico deixa claro que quem investe menos de 2% não atinge o padrão dos países desenvolvidos.
O presidente da ABC, Jacob Palis, agradeceu ao palestrante e reiterou sua fala, dizendo que a ABC defende, desde o primeiro governo Lula, o direcionamento desses 2% do PIB para ciência e tecnologia. No entanto, esse índice nunca passou de 1,2% e, no momento, está abaixo de 1% – em torno de 0,9%. “Esse é um ponto de honra a ser conquistado”, afirmou Palis. “É difícil, mas temos de lutar por ele, porque com menos que isso ficaremos eternamente patinando. ”
Encerrando a sessão e a homenagem a Jorge Guimarães, o vice-presidente da ABC João Fernando Gomes de Oliveira comentou o intenso aprendizado que teve nos onze anos em que conviveu com o homenageado em Brasília. “Não sei quantas vezes o Jorge pediu demissão da Capes. Para ele, a missão sempre foi mais importante do que a posição. É disso que precisamos, pois quem faz o contrário presta um desserviço à ciência brasileira.”
Salve, Jorge.