Presentes na cerimônia de posse do Acadêmico Hernan Chaimovich, novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), membros da comunidade científica avaliaram o discurso de posse do novo dirigente e também seus desafios na gestão da “Casa do Cientista”. Segundo eles, Chaimovich tem experiência e capacidade para tocar a instituição, no entanto, será necessário tomar certos cuidados para não escorregar em algumas “cascas de banana”.
Na opinião do presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), Claudio Violato, dois pontos levantados por Chaimovich são essenciais para os desafios que ele terá na gestão do CNPq.
“Um está relacionado ao contínuo aumento da qualidade dos serviços de pesquisa desenvolvidos no Brasil, que é fundamental, em virtude da necessidade de evolução dos seus padrões de qualidade, para contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação para o País. O outro é sobre o desenvolvimento regional do Brasil. Isso se reflete também no universo de C&T que fala em ampliar o apoio aos centros emergentes, a fim de reduzir essas diferenças. O Brasil crescerá ainda mais na medida que diminuam as diferenças de desenvolvimento”, afirmou Violato.
Na visão da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Acadêmica Helena Nader, um dos principais complicadores para a gestão de Chaimovich será o orçamento. Ela lembra dos recorrentes cortes que tanto o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) como o CNPq têm recebido.
“A ciência de alto impacto que está acontecendo no exterior demanda muito dinheiro. Todo mundo fica perguntando aqui no Brasil onde é que estão as publicações na Science e na Nature, mas acho que deveriam fazer um cálculo de quanto é os recursos dos grupos que publicam nestas revistas. Vejam se é R$ 2 mil mensais o que é de costume ser oferecido pelo CNPq”, analisou Nader.
Sobre o discurso de Chaimovich, Nader fez questão de frisar a parte em que o dirigente promete melhorar o impacto da ciência brasileira. Para isso, segundo ela, é necessário ampliar a quantidade de financiamento do setor. “O Hernan é uma pessoa ótima. Muito qualificado para o cargo. Sei que já está buscando alternativas para aumentar os recursos. Mas enquanto não convencermos o governo de que ciência, tecnologia e educação não é gasto e sim investimento, o país não vai mudar”, completou.
PIB
O poder de fogo da CT&I nacional também foi alvo de análise do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis. Segundo ele, o esforço de todo mundo deverá ser pelo aumento do investimento em ciência, tecnologia e inovação para 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Há anos a academia vem defendendo, e considera que isso é muito importante. Não é para se ter dinheiro fácil. É para se ter grandes laboratórios. Para se fazer investimentos mais amplos. Precisamos caminhar nesta direção”, explicou Palis.
Para se tentar chegar a estes números, o presidente da ABC explica que é necessária uma força tarefa, capitaneada pelo chefe do MCTI, ministro Aldo Rebelo, para tentar convencer a presidente Dilma sobre a necessidade de aumentar a verba do setor, hoje avaliada em 1,25% do PIB.
“Sabemos do momento delicado do país, mas educação, ciência e tecnologia não pode esperar. É o caminho para o que país não seja tão dependente da economia internacional, importando alta tecnologia e exportando produtos primários”, concluiu.