No século sexto, o papa Gregório Magno instituiu os sete pecados capitais. Após o primeiro, a gula, seguem-se avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça.
Ele se inspirou nas ideias do monge Evágrio do Ponto, que definiu as principais doenças espirituais do homem.
Passaram-se 15 séculos e essas doenças se espalharam pelo Oriente e o Ocidente e transformaram-se na pandemia que ameaça a própria existência da espécie humana.
Recentemente, o papa Francisco, que já havia nos surpreendido em ser o intermediário do reatamento das relações entre Cuba e Estados Unidos, fez um surpreendente pronunciamento na Cúria Romana, listando quinze doenças que acometem não apenas a Cúria, mas a todas as instituições e os seres humanos do planeta.
A primeira doença seria a de se sentir imortal ou indispensável. Em sua inspirada sabedoria o papa recomendou a visita a um cemitério para testemunhar o nome de pessoas que talvez acreditassem que eram imortais.
Na segunda se referiu ao excesso de trabalho e lembrou que Jesus convidou seus discípulos à descansarem um pouco porque descuidar do repouso leva ao estresse e à agitação.
A terceira se relaciona com a fossilização mental e espiritual que acometem aqueles que se escondem atrás de pilhas de papel.
Na quarta o sintoma principal é o excesso de planejamento sem abrir as portas para a liberdade e flexibilidade.
A quinta doença é manifestada pela má coordenação, sem a comunhão de todos e sem o espírito de equipe.
A sexta, que provavelmente foi a que teve maior repercussão na mídia é a doença de Alzheimer espiritual que se manifesta por uma redução progressiva das faculdades espirituais.
A sétima é a doença da rivalidade e da vaidade, já denunciadas desde o século sexto.
A oitava é a doença da esquizofrenia existencial que acomete os que abandonam o serviço pastoral e se limitam às tarefas burocráticas, perdendo o contato com a realidade e as pessoas.
A nona é a doença da fofoca onde se perde a coragem de dizer as coisas abertamente.
A décima é a de divinizar os chefes, onde se cortejam os superiores procurando os caminhos do carreirismo e oportunismo.
A décima primeira é a doença da indiferença com os outros onde o individualismo abafa a sinceridade e o calor das relações humanas.
A décima segunda é a doença da cara de enterro, que finge melancolia em vez de uma boa dose de humor saudável.
A décima terceira é a doença da acumulação, já denunciada como avareza nos sete pecados capitais.
A décima quarta é a doença dos círculos fechados, que induz as pessoas a fazerem parte de uma panelinha.
E finalmente a décima quinta é a doença do prazer mundano e do exibicionismo onde as pessoas são capazes de caluniar, difamar e desacreditar os demais para se exibirem e se mostrarem mais capazes do que os demais.
As palavras do papa Francisco devem não só orientar a Igreja Católica visando uma transformação que nos conduza a um mundo mais civilizado, como a todos os seres humanos do planeta.
Lutar para enfraquecer os sete pecados capitais e as quinze doenças denunciadas pelo Pontífice é dever de todos os homens e mulheres de bem.
A vacina para todas essas doenças é a educação no sentido amplo.
Não somente preparar nossos jovens para o mundo do trabalho, com aptidões linguísticas e matemáticas, mas principalmente moldando a personalidade das futuras gerações com virtudes tais como, solidariedade, bondade, fraternidade, honestidade, caridade, respeito e ética.
Por intermédio da educação voltada para o cultivo de nosso eu interior poderíamos aprimorar nossos sentimentos, nossas emoções e a nossa sensibilidade e naturalidade, tão frequente nas crianças, e que os adultos vão perdendo ao criar falsos valores, defesas e máscaras que os afastam do amor em sua essência mais pura.
Ela deve ser iniciada nos primeiros seis anos de vida, conhecido como a “primeira infância”. Segundo James Heckman, prêmio Nobel de Economia de 2000, a educação na primeira infância constitui o melhor investimento social existente; e quanto mais baixa a idade do investimento educacional recebido, mais alto será o retorno para o indivíduo e a sociedade.
Que as mensagens do papa Francisco ecoem por todo planeta induzindo profundas transformações no convívio humano para que possamos ter a esperança de uma sociedade justa, feliz e sem guerras.
Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular da Academia Brasileira de Ciências