Vinte jovens estudantes do Amazonas desembarcaram no Rio de Janeiro, no início do mês, para uma experiência inédita: eles farão um curso de férias em diferentes unidades do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CCS/UFRJ), durante pouco mais de um mês. Alunos de graduação do curso de Biotecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), eles são a primeira turma do Programa Aristides Pacheco Leão de Iniciação Científica (PAPL-IC), que foi retomado após dez anos suspenso.
O programa era patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e esteve ativo por 11 anos, mas sofreu uma interrupção em 2005. Foi reativado em agosto do ano passado, por um acordo entre a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O PAPL-IC é destinado ao treinamento de jovens da região amazônica através da concessão de bolsas de estudo pela Capes, em programas de iniciação científica promovidos por instituições convidadas pela ABC. A ideia é que estudantes de graduação dessa região atuem em diferentes grupos de pesquisa em outros Estados do Brasil, promovendo um intercâmbio nacional.
Para a reestreia, a instituição escolhida para recepcionar o grupo foi a UFRJ. Todos os dias, pela manhã, os alunos têm aulas de temas como Terapia Gênica, Biodiversidade, Cromatografia e Química. Também aprendem a operar equipamentos de espectroscopia de massa e ressonância nuclear magnética, que terão disponíveis na UEA. A turma tem, ainda, aulas com pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e visitará a instituição.
De tarde, os estudantes vão para os laboratórios, onde são orientados por professores indicados pela ABC. Ali, eles desenvolvem projetos em áreas que vão desde células-tronco à microbiologia e, ao final do curso, apresentarão uma monografia. Após o término do programa, no dia 12 de fevereiro, terão passado por diversas unidades do Centro de Ciências da Saúde, como o Instituto de Biofísica, de Microbiologia, de Ciências Biomédicas, entre outros.
Aos sábados, os jovens terão uma programação cultural com visitas a museus do Rio de Janeiro, como o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e o Museu Imperial, em Petrópolis. Também conhecerão algumas instituições de pesquisa, entre elas o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos).
“É uma honra a nossa universidade hospedar o lançamento desse programa, que certamente terá desdobramentos”, afirmou o reitor da UFRJ, Carlos Levi, na aula inaugural do PAPL-IC. A diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), onde aconteceu a abertura, Sandra Azevedo, ressaltou que os 20 estudantes estão “fazendo história”: “Toda a comunidade acadêmica queria estar no lugar de vocês. Já recebemos várias reclamações perguntando o porquê de serem vocês e por que na UFRJ”.

Alunos na aula inaugural do PAPL-IC com Jacob Palis, Jorge Guimarães, Wanderley de Souza, Cleinaldo Costa e professores da UFRJ, Uerj e UEA

O presidente da ABC, Jacob Palis, um dos responsáveis pela reativação do programa, destacou que os jovens da UEA terão a oportunidade de estar em contato com cientistas de primeira classe, envolvendo-se em todas as atividades. “Esperamos que, com vocês, esse programa se expanda e vá além da UFRJ. Não se inibam, pois vocês são o futuro da ciência no Brasil.”
O reitor da UEA, Cleinaldo Costa, comemorou o fato de a universidade amazonense ter sido escolhida para reinaugurar o programa. “Esses estudantes sabem a importância disso para a nossa região. Vários deles, no futuro, serão professores da nossa escola e farão o trabalho que estamos fazendo aqui, só que muito melhor.”
O presidente da Capes, o Acadêmico Jorge Guimarães, explicou que o objetivo de reativar o programa com foco na região amazônica é valorizar o norte do país. “Sabemos que a maneira mais fácil de fixar gente na Amazônia é formando gente da Amazônia. As pessoas de fora ficam um tempo e depois vão embora.” Ele ainda parafraseou Jacob Palis, afirmando que “o talento nasce em qualquer lugar”. Guimarães também brincou, dizendo que o programa seria proveitoso porque, nas férias, os jovens estudantes “não teriam muito o que fazer”.
Menos aulas, mais iniciação científica
De acordo com Guimarães, a iniciação científica é uma das melhores formas de integrar os jovens ao sistema brasileiro de ciência e tecnologia. “O Brasil é um país muito criativo. Um dos grandes problemas é o excesso de aulas e pouco treinamento. A iniciação científica quebra isso, pois tira o aluno da sala de aula para fazer ciência.”
Os alunos da UEA estão empolgados para o curso de férias. Lislane Michiles, de 19 anos, disse ter grandes expectativas em relação ao estágio no Rio de Janeiro. “É uma experiência incrível, porque nunca aconteceu nada parecido em nenhuma turma da UEA, que é uma universidade nova”, contou. “Queremos levar esse aprendizado para a nossa região e esperamos que outros possam ter essa oportunidade no futuro.” A jovem, de Itacoatiara, pretende seguir carreira na área da pesquisa e visa a fazer mestrado e doutorado, sem deixar a Amazônia.
Segundo Wanderley de Souza, diretor de Ciências da Vida do Inmetro, membro da ABC e um dos idealizadores do programa, a ideia é expandir o PAPL-IC nos próximos anos, passando a incluir também, estudantes de mestrado e doutorado. “Quero me dedicar nos próximos anos a consolidar a pesquisa biomédica na Amazônia”, afirmou Souza, que está de mudança para Manaus.