A noite de terça-feira, 21 de outubro, foi especial para sete pesquisadoras brasileiras de destaque. Elas foram laureadas com a nona edição do Prêmio L’Oréal-ABC-Unesco Para Mulheres na Ciência, que reconhece o trabalho de jovens doutoras de áreas científicas com uma bolsa-auxílio em reais equivalente a 20 mil dólares, com o objetivo de estimular a participação das mulheres na ciência. A cerimônia da premiação aconteceu no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Ana Shirley Ferreira, Letícia Palhares, Ary Mergulhão, Maria Carolina Rodrigues, Carolina Horta, Didier Tisserand, Patricia Brocardo, Ludhmila Hajjar, Manuella Kaster e Jacob Palis
Realizado desde 2006 no Brasil, o prêmio é promovido pela L’Oréal em parceria com a Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), responsável pelo júri que seleciona as cientistas laureadas e é presidido pelo presidente da ABC, Jacob Palis. Já foram homenageadas 61 pesquisadoras brasileiras.
A edição brasileira é uma versão regional do primeiro programa dedicado a mulheres no mundo, o L’Oréal-Unesco For Women in Science, que reconhece pesquisadoras renomadas de todos os continentes. Em 16 edições do prêmio internacional, duas das agraciadas foram posteriormente vencedoras do Prêmio Nobel, além de cinco brasileiras, todas elas Acadêmicas: Mayana Zatz (Genética – USP), em 2001; Lucia Previato (Microbiologia – UFRJ), em 2004; Belita Koiller (Fí­sica – UFRJ), em 2005; Beatriz Barbuy (Astrofísica – USP), em 2009; e Márcia Barbosa (Física – UFRGS), em 2013.
A cerimônia de premiação deste ano anunciou uma novidade: o lançamento do programa international Rising Talents, que tem o objetivo de impulsionar a carreira de jovens e promissoras cientistas de todas as regiões até se tornarem profissionais de talento reconhecido internacionalmente. Serão 15 cientistas eleitas por ano, em todo o mundo, para receber uma bolsa de 15 mil euros.
Para concorrer à  primeira edição do programa, foi indicada a química Carolina Horta, uma das vencedoras do prêmio Para Mulheres na Ciência de 2014. Além disso, os países também indicam um nome para disputar uma vaga no júri, e a escolhida brasileira foi a Acadêmica Maria Domingues Vargas, também química.
Outra novidade é a realização de mesas-redondas sobre o papel das mulheres na ciência, com a participação de vencedoras do prêmio regional e internacional, estudantes, representantes da mídia especializada e de instituições parceiras. O primeiro desses eventos ocorreu no mesmo dia da cerimônia, pela manhã. Clique aqui para ler a matéria sobre o debate.
“Sou feminista. A ciência precisa da mulher”, afirmou Jacob Palis, durante a cerimônia. Ele se mostrou orgulhoso do fato de o índice de mulheres entre os membros titulares da ABC, de 12%, ser mais alto do que o de algumas das Academias de Ciências mais importantes do mundo, mas ressaltou que “ainda estamos longe do ideal”.
Ary Mergulhão, coordenador de Ciências Naturais da Unesco no Brasil, lembrou que, há quase dez anos, se formam mais doutoras que doutores no país, mas, apesar dos números serem igualitários, as conquistas ainda não o são. “Para mudar isso, é necessária a participação da mídia, dos governos e das empresas, que devem dar espaço para as mulheres cientistas.”
O presidente da L’Oréal Brasil, Didier Tisserand, comemorou o fato de o programa Para Mulheres na Ciência ter completado 16 anos em nível internacional e nove anos em nível nacional, e de já ter distribuído mais de R$ 3 milhares em prêmios para as cientistas brasileiras. Ele também destacou que 75% do time de pesquisa da L’Oréal são mulheres. “Moda é bom, mas a ciência é ainda melhor”, comentou.
A Acadêmica Maria Vargas falou em nome dos jurados sobre a difícil tarefa de selecionar apenas sete jovens talentos: “Tivemos mais de 300 trabalhos inscritos. As escolhidas não apenas ganham maior visibilidade para seus trabalhos e são valorizadas como cientistas, mas também tem a responsabilidade de serem líderes e fazerem ciência de qualidade, pois somos poucas no topo das pesquisas e das empresas”.
Ela lamentou que, entre os bolsistas nível 1A do CNPq, apenas 24% são mulheres, quase o mesmo que 12 anos atrás. “Que vocês sejam inspirações em suas instituições”, disse às premiadas.
A médica Maria Carolina Rodrigues fez um discurso representando as sete laureadas. Ela comentou a importância do prêmio nessa fase inicial de suas carreiras. “Vimos que é possível superar os obstáculos. Esperamos que essa vitória estimule outras como nós, afinal, o mundo precisa da ciência e a ciência precisa de mulheres.”
Confira os perfis das laureadas do Prêmio L’Oréal-ABC-Unesco Para Mulheres na Ciência 2014:
Patricia Brocardo (UFSC) – Efeitos do Álcool durante a gestação