Se a educação, sozinha, não pode transformara sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” Hoje, 15 de outubro, dia dedicado aos professores, a frase do educador Paulo Freire é, ao mesmo tempo, uma homenagem aos mestres e um convite à reflexão. Na reportagem, seis mestres de um total de 67,5 mil no Distrito Federal comentam sobre o ofício de ensinar, as dificuldades e as inspirações para seguir em frente na profissão, geralmente mal remunerada.

Os educadores Célio da Cunha, 71 anos, e Carlos Benedito Pereira da Rocha, 69, têm em comum a vasta experiência no ensino. O primeiros e aposentou, mas continua nas salas de aula. O segundo tem somente mais um ano antes da aposentadoria compulsória como professor do Estado. ”Ainda não sei o que vou fazer. Talvez trabalhar como voluntário com alunos com dificuldade de aprendizado”, planeja Carlos. A motivação para continuar? ”O gosto pela escola. Conheço muitos professores reclamando das condições de trabalho, das turmas grandes, da falta de estruturadas instituições. Mas vejo poucos com projetos para sair. A maioria ama o que faz”, acredita.

Inspirado na adolescência por um professor de filosofia, o mestre Célio, de pós-graduação da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Católica, encanta jovens e adultos por onde passa. Na biblioteca de casa, guarda cartas de ex-alunos. A homenagem mais recente foi há dois anos, no encerramento das aulas de uma turma de mestrado. ”Eles entregaram uma caixa bonita, toda enfeitada. Até pensei que fosse chocolate. Quando abri, encontrei cartas escritas de próprio punho. Você precisa ver que coisa linda. Cada uma com letra diferente, comum estilo”, conta.

Ao avaliar o que mudou na educação ao longo dos anos, Célio conta que o passar do tempo proporcionou uma lenta evolução em direção ao verdadeiro papel de um professor. ”É o (papel) de ajudar os seus alunos, não somente nos processos de aquisição organizada do conhecimento como também em relação à ética e à cidadania. Ética, cidadania e educação constituem um trinômio fundamental para a profissão docente”, defende.

 

Idealismo

Independentemente do sexo, da idade, do estilo e da origem, o idealismo parece mover quem dedica a vida ao ensino ou quem começa a trilhar esse caminho. O jeito despojado e o vocabulário descolado são algumas das ferramentas do professor Ramon Silva Ferreira, 35 anos, 10 deles dedicados à profissão. O sonho da mãe de ser educadora – ela vendia balinhas em frente ao colégio onde ele estudava – e o encontro com Claristina, a inesquecível professora de geografia, o inspiraram a escolher o ofício. E a frase ”educar é transformar palavras em atitudes”, ouvida tantas vezes da boca de Claristina, virou um lema na vida de Ramon. Cabe a ele detalhar aos alunos de uma escola de Ceilândia os mistérios das forças centrípeta e centrífuga. ”Não pretendo criar especialistas em física, mas também não quero empurrar a matéria com a barriga”, afirma.

Aos 36 anos, o professor Gabriel Fernandes tem dias movimentados. Ele acumula dois empregos e arranja tempo para fazer trabalho voluntário. Na quadra de esportes do Colégio Mackenzie, onde ensina educação física na parte da manhã, ele ensina handebol para comunidades carentes, à noite. ”A profissão é sofrida, tem muito trabalho e pouco reconhecimento. Mas, quando um aluno sorri e te dá um abraço, parece que todo o esforço valeu a pena.

”Ensinar a tolerância e a solidariedade é meta perseguida por Daniele Leite de Souza, 34 anos. Desde 2008, ela leciona na rede pública.Cercada por alunos da Escola Classe do Núcleo Bandeirante, ela está atenta ao bullying. ”A escola é o lugar certo para mostrar que as diferenças são normais. Promover trabalhos e discussões sobre o tema ajudam a diminuir o bullying e as brigas entre as crianças.

 

”A lógica da matemática, o terror de muita gente por aí, é como música para o professor do Departamento de Matemática da UnB e membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências Diego Marques, 30 anos. ”Eu tento incentivar mais os meus alunos e repassara paixão que eu sinto pela matemática. Percebo que muitos se encantam com a disciplina quando são ensinados de uma perspectiva mais ampla”, conclui.