Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) vêm se revelando como um importante mecanismo para fazer avançar a pesquisa e a inovação em todas as regiões do Brasil, mas, na Amazônia, eles têm especial importância. Lançado em 2008 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o programa tem o objetivo de articular grupos de pesquisa que atuam na fronteira da ciência em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país.

Atualmente, são 126 institutos, 11 deles dedicados à região Norte. Destes, sete foram apresentados por seus líderes durante o 2º Encontro de Membros Afiliados da ABC desta Regional, realizado no final de agosto, em Belém do Pará. O evento aconteceu no Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável, cujo diretor científico é o Acadêmico José Oswaldo de Siqueira. Também participou das apresentações o Acadêmico João Batista Calixto, professor de farmacologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

Tetsuo Yamane, José Oswaldo de Siqueira, João Batista Calixto,
Philip Fearnside e Noemia Ishikawa

 

Biodiversidade amazônica

O INCT Biodiversidade e Uso da Terra foi apresentado por sua coordenadora, Ima Célia Vieira, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). O instituto, cujo vice-coordenador é o membro afiliado Alexandre Aleixo, tem a missão de gerar informações e abordagens científicas inéditas que compatibilizem os potenciais e necessidades de desenvolvimento econômico, inclusão social e conservação da biodiversidade na Amazônia, com foco no Pará e Maranhão, regiões altamente antropizadas.

Uma das prioridades da rede é a avaliação da suscetibilidade de espécies de destacado interesse para a conservação, como as ameaçadas de extinção e as endêmicas, diante do quadro de mudanças climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Outros objetivos são o estudo e a quantificação dos padrões de transformação da paisagem criados pela conversão de florestas na Amazônia; a medição da perda de biodiversidade associada a diferentes usos da terra; e o desenvolvimento de estratégias produtivas que minimizem os impactos negativos das mudanças de uso da terra.

Além de vários subprojetos desenvolvidos, a rede também tem uma atuação forte em educação para a ciência, com a Escola da Biodiversidade Amazônica, ligada ao INCT. ”Em três anos de atuação, a escola criou oportunidades formais e informais de interação, que estimulou as escolas da Região Metropolitana de Belém a aproveitarem os contextos ambientais nos quais se inserem”, informou Ima Vieira.

Já o INCT Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam), coordenado por William Ernest Magnusson e vice-coordenado pela afiliada Noemia Kazue Ishikawa, tem como objetivo criar e consolidar cadeias de produção baseadas em conhecimentos científicos sólidos, que se iniciam com estudos sobre a biodiversidade. Ele visa gerar, ao final, informações, produtos ou processos importantes para usuários específicos a curto, médio e longo prazo, e atuar como um catalisador para atrair novas fontes de financiamento para a pesquisa em biodiversidade na Amazônia.

O Cenbam trabalha com diversas linhas de pesquisa e tem um projeto de integração das partes para fortalecer a multidisciplinaridade. Entre elas, inclui-se a avaliação de processos ecossistêmicos: ”O Cenbam está focado em atividades que requerem estudos in situ da biodiversidade na Amazônia, e que necessariamente incluem a avaliação de processos ecossistêmicos locais”, comentou Ishikawa. Outra linha, a da bioprospecção, estuda os cogumelos da Amazônia e sua trajetória da floresta à alta culinária brasileira.

A rede também tem um importante papel na formação de recursos humanos, principalmente com a iniciação científica. ”Já foram oito monografias, 67 dissertações de mestrado, dez teses de doutorados, além de 63 cursos com mais de 750 participantes”, comemorou a jovem pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O grupo também tem uma interação proveitosa com a comunidade local e o setor empresarial.

 

Trabalhos multidisciplinares

O INCT de Energia, Ambiente e Biodiversidade (Ceab) foi apresentado por seu vice-coordenador, o Acadêmico Tetsuo Yamane. Afiliado à Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o instituto tem o propósito de compreender e propor alternativas para estabilizar o clima e melhorar as condições ambientais. Essas são questões diretamente relacionadas ao desenvolvimento econômico, política sanitária, qualidade de vida e segurança nacional e internacional. Por isso, atua com um grupo multidisciplinar, em parceria com instituições de países como Estados Unidos, Japão, Malásia e Israel.

Coordenado por José Carlos Verle Rodrigues, esse INCT também atua em várias linhas de pesquisa, como biodiversidade e bioprospecção de microrganismos, genes e biomoléculas de interesse biotecnológico. Nesse área de estudo, os pesquisadores procuram microrganismos aquáticos do Rio Negro com propriedades específicas, além de estudarem a ecologia dos ambientes aquáticos da Amazônia e a ecotoxicologia dos ambientes terrestres, aquáticos e aéreos da região.

Outros projetos estão relacionados às toxinas animais, bem como à criação de uma rede de pesquisa regional nesse tema, e fitofármacos, fitoterápicos e ensaios farmacológicos. A rede também desenvolve atividades de extensão social, com formação de recursos humanos e um curso para tecnólogos em biotecnologia. ”O objetivo é qualificar os jovens amazonenses para formar a base da pirâmide científica humana necessária para o desenvolvimento tecnológico da Amazônia”, destacou Yamane.

Coordenado pelo Acadêmico Philip Martin Fearnside, o INCT dos Serviços Ambientais da Amazônia (Servamb) visa a reduzir as incertezas na quantificação dos serviços ambientais da Amazônia, especialmente com enfoque no carbono e água, e desenvolver ferramentas e cenários capazes de interpretar os custos e benefícios de diferentes políticas públicas em termos destes serviços. A rede atua nos Estados do Acre, Amazonas, Minas Gerais, Pará, Roraima e São Paulo, além de também incluir o Peru e a Bolívia.

Seus pesquisadores trabalham com a modelagem do desmatamento, fazendo coleta de dados sobre o comportamento dos atores em fronteiras de desmatamento, por meio de entrevistas e por sensoriamento remoto, e usando o modelo Agroeco no software Dinamica-Ego. Estudos incluem o efeito de áreas protegidas, incluindo vazamento, e o efeito de migração previsto por rodovias planejadas.

Outras linhas de pesquisa têm como tema as emissões de gases de efeito estufa devido ao desmatamento e outras mudanças do uso da terra; e os incêndios florestais como uma das fontes dessas emissões. ”As emissões de gases de efeito estufa dos reservatórios, por exemplo, se dão de forma totalmente errada”, afirmou Fearnside. Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas no site Amazônia Real, do qual o Acadêmico é colaborador.

Veja também a matéria sobre os outros INCTs apresentados no 2º Encontro Regional de Membros Afiliados da ABC da região Norte.