Nils Edvin Asp Neto teve uma infância feliz, mas um pouco conturbada, em função da separação de seus pais quando tinha sete anos. Ele era o irmão do meio de três. Diante da nova situação familiar, os meninos passaram parte da infância numa cidade grande – Porto Alegre, no Rio Grande do Sul – e parte no interior, na cidade de Osório, o que Nils considera que contribuiu significativamente para a formação da sua personalidade.

O menino gostava de montar e desmontar coisas com os irmãos, de pescar e brincar na rua, de pegar, de esconder e com seus cachorros. Nas férias, adorava o mar. Na escola, suas matérias prediletas eram ciências e geografia. Nils tinha um interesse nato por ciência, sempre buscando entender o porquê das coisas e como elas funcionam. ”Meu pai também me influenciou muito, pois trabalhava como técnico em um laboratório de pesquisa”, conta o Acadêmico.

Sua opção por fazer pesquisa foi anterior ao ingresso na universidade: em meados do ensino médio, Nils já estava decidido a ser ‘cientista’. Só faltava definir a área, por conta dos seus múltiplos interesses – como engenharias, todas as áreas das ciências naturais e medicina – e a dificuldade de acesso à informação sobre as carreiras, pois ainda não havia internet. Mas o que prevaleceu foi sua paixão pelo mar e o litoral, e Nils Asp escolheu ser oceanógrafo, conseguindo assim aliar seus interesses por geologia, física, química e biologia.

Embora tão acertada, sua escolha provocou estranhamento na família, pois a carreira era incomum no início dos anos 90 e era preconceituosamente associada a um estereótipo de ”surfista hippie”. Saiu de casa então, aos 17 anos, para cursar oceanologia em Rio Grande, na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a mais de 300 km de onde residia com a família. Nils conta que por conta dessa situação teve muita liberdade, mas também muita responsabilidade logo cedo. E levou o curso muito a sério. A partir do início do segundo ano começou a iniciação científica – e isso porque no primeiro ano ninguém o aceitou como orientando! Nesse período, aos 19 anos, perdeu sua mãe. Mas após a fase de abalo emocional, ele avalia que amadureceu, cresceu e ficou ainda mais forte para enfrentar os desafios.

Em Rio Grande, dividiu casa com colegas que se tornaram são grandes amigos até hoje, e alguns também parceiros importantes de pesquisa, como Argeu Vanz, Eduardo Siegle e Paulo Salomon. Ao final da graduação, optou pelo mestrado em geologia marinha pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). ”Foi um período academicamente tranquilo, mas marcado por relações pessoais conturbadas e pelo nascimento de minha filha mais velha, Lulu”, conta Asp.

Terminado o mestrado, Asp decidiu fazer doutorado em geologia costeira pela Universidade de Kiel (Christian-Albrechts Universität), na Alemanha. ”Era um grande desafio, pela carência de bolsas e oportunidades. Mas fui com a cara e a coragem”, relata o pesquisador. O casamento não resistiu à sua ida para o exterior, e o início do doutorado foi marcado por outra forte crise emocional. ”Mas, superada a crise, foi tudo ótimo e muito construtivo pessoal e pessoalmente. Quase desisti de retornar ao Brasil na época, tamanha foi minha integração por lá”, relembra. Dos quase cinco anos que passou na Alemanha, ficaram boas lembranças e fortes influências de seu coorientador Klaus Ricklefs e dos colegas Burkhard Meier, Wolfgang Voigt, Heiner Fabian, Britta Egge, entre outros.

Ao voltar, Asp fez um estágio de pós-doutorado em geomorfologia costeira, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina. Em seguida, tornou-se professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde atua desde 2005 nos cursos de graduação em engenharia de pesca, oceanografia, biologia e ciências naturais, além da pós-graduação em biologia ambiental, da qual é coordenador. Trabalha ainda em colaboração com diversos pesquisadores e instituições do Brasil, Alemanha e Estados Unidos em diversos projetos, que têm resultado em diversas publicações em periódicos nacionais e internacionais e dezenas de trabalhos em eventos.

Nils Asp estuda a formação e as modificações físicas que as áreas costeiras sofrem, principalmente em função das ondas, das marés, da força dos rios e do clima, de maneira geral. ”Estudamos processos de diversas escalas de tamanho e tempo, desde horas até anos, décadas e milênios. Tudo isso para entender, por exemplo, desde quando existe determinada praia ou estuário, quando, como e porque ele pode desaparecer, quais são as modificações que sofreram estes ambientes e como eles podem se modificar daqui pra frente, assim como quais modificações podem afetar as pessoas e quais mudanças nos ambientes podem ser causadas pelas pessoas também”, explica.

Morando num sítio, Asp faz trabalhos de marcenaria e aproveita a convivência com a mulher, os três filhos, os cachorros, familiares e amigos. Gosta de viajar, de ficção científica, de música e de literatura, especialmente do ‘realismo fantástico’ de Garcia Márquez e Saramago. O trabalho em ciência, para ele, é uma escolha apaixonada e um tanto altruísta que os cientistas fazem, justamente para revelar os mistérios da natureza para a humanidade.

Além do encantamento com o processo de entendimento da natureza, Asp se diz especialmente fascinado, na sua área, ”com a imensidão dos oceanos e seus mecanismos naturais de autorregulação e adaptação às condições, assim como seu poder, sua capacidade de influenciar ou mesmo controlar vários aspectos da Terra e da vida que nela habita”, declara o cientista.

A eleição para membro afiliado da ABC o fez sentir como se a sociedade em si o reconhecesse agora como cientista, de fato e de direito. Nils Asp espera poder contribuir expressivamente para o desenvolvimento científico do Brasil e, especialmente, da região amazônica.