Nascido em Belém do Pará, Jerônimo Lameira Silva tem duas irmãs e é o filho mais novo de uma funcionária pública e um motorista. Os primeiros anos na escola foram complicados para o menino, que não se interessava muito pelos assuntos da sala de aula: preferia brincar com carrinhos, bonecos de guerra, jogar bola e assistir TV do que pensar em matemática, português ou ciências.

Ao perceber que o filho não estava indo muito bem na escola, seus pais passaram a revisar com ele toda a matéria vista durante o dia em sala de aula. Isto acontecia após o jantar e a ”tortura” se estendia ao longo de muitas noites… Aquelas revisões o ajudaram a ”sobreviver” aos primeiros anos da escola. Nos últimos anos do ensino fundamental, tomou gosto pelo estudo, passou a ter prazer em estudar sozinho e aprendeu a dividir o tempo entre as atividades da escola e o lazer.
 
Descobrindo e encaminhando as ”vocações”

O interesse de Jerônimo pela química surgiu no ensino médio no Colégio Salesiano do Carmo de Ananindeua, período em que foi bastante incentivado pela professora Ruth da Silva Costa, que lhe emprestava diversos livros de química e o encorajava a explicar alguns tópicos da área para os colegas de turma.

No primeiro ano do ensino médio, começou a tocar contra baixo numa banda chamada ”Os Insociáveis” que tocava música de autoria própria, incluindo rock e reggae. Ganhou duas vezes o concurso de música do Colégio Salesiano do Carmo. Durante o período de inscrição no vestibular, Jerônimo ainda pensou em fazer música, mas optou pela química por sentir mais segurança na área. Saiu dos ”Insociáveis” no último ano do ensino médio para se preparar para o vestibular.

Foi aprovado em primeiro lugar no curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Pará (UFPA) no ano de 2001. Durante a graduação, Jerônimo montou outra banda de garagem com alguns amigos, chamada de ”Karma Comum”. Dividia o tempo estudando as matérias do curso e ensaiando rock e reggae com os amigos.

Nesse período, ele descobriu que, além do ensino de química, poderia trabalhar em pesquisa. Seu interesse por química teórica e computacional surgiu durante a iniciação científica, que realizou a partir do segundo ano de graduação, sob a orientação do professor Cláudio Nahum Alves. ”A iniciação científica foi o que praticamente definiu meu futuro como professor e pesquisador”, observa Jerônimo lameira. Durante a IC, participou de congressos em sua área de pesquisa, interagiu com alunos de mestrado e doutorado da área e consolidou seu interesse pela pesquisa na área de química teórica e computacional. Concorreu por uma vaga de mestrado no Programa de Pós-graduação em Química da UFPA e seguiu trabalhando com Cláudio na área de química teórica e computacional, dando continuidade no doutorado.

Seu orientador, então, o incentivou a fazer um estágio de um ano na Universitat Jaume I (UJI) na Espanha, onde trabalhou com os professores Vicent Moliner, Iñaki Tuñón e Sérgio Martí, no grupo de química teórica da UJI. Para Lameira, esse foi um dos pontos chaves em sua carreira. ”O período que passei no exterior ampliou minha visão de ciência e acrescentou uma grande experiência em minha vida acadêmica”, avalia. Concluiu o doutorado em 2008 na UFPA, sob a orientação de Nahum e coorientação de Moliner. Após o doutorado, tornou-se professor e pesquisador da Faculdade de Biotecnologia da UFPA, casou-se em 2009 e atualmente tem um filho.
 
Sua linha de pesquisa

Lameira desenvolve pesquisa na área de química computacional e também usa ferramentas da área de bioinformática. ”Acho fascinante a possibilidade de realizar pesquisa usando apenas o computador como ferramenta. No computador, posso visualizar a estrutura de moléculas obtidas a partir de dados experimentais, modificá-las ou até mesmo usar a imaginação e desenhar uma molécula inédita”, relata Lameira. Ele acrescenta que pode, ainda, estudar uma reação enzimática e propor desenhos de inibidores com base em análogos ao estado de transição.

O Acadêmico acredita que os resultados obtidos através de sua pesquisa podem contribuir para o desenho de novos inibidores de alvos terapêuticos e, consequentemente, para o planejamento de novos medicamentos contra diferentes doenças – tais como câncer, AIDS, malária, entre outras.

De maneira geral, Lameira acredita que a curiosidade e o prazer em descobrir são as principais engrenagens que movem a ciência e motivam os pesquisadores a trabalhar duro para obter os resultados. Para ele, quando o cientista entende uma equação, um experimento, uma teoria ou lê um artigo, ele pode adquirir certo conhecimento. ”Mas quando você propõe uma teoria, uma equação, ou escreve um artigo você está gerando conhecimento – e é justamente isto que me encanta na ciência”, afirma. Neste sentido, ele diz que a música é muito parecida com a ciência e também exige longos períodos de estudo e prática. ”Para compor uma obra musical, é preciso aprender o que foi feito antes, seguir um estilo, ter um compositor ou grupo como referência, se especializar num instrumento, saber as escalas musicais etc. Na ciência, a ideia é a mesma”, afirma.
 
Entrando na ABC

Para Jerônimo Lameira, desenvolver pesquisa representa um grande desafio e exige muita dedicação. ”E, na maioria das vezes, se recebe mais críticas do que ‘tapinhas nas costas’”, diz o Acadêmico. Por este motivo, ter sido eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências representa mais um estímulo para sentar diante do computador e desenvolver suas pesquisas.

”Foi uma grande satisfação ter sido eleito membro da ABC e espero contribuir dando ideias e participando das discussões nos encontros da Academia”, declara Lameira. Até o final de 2014, o pesquisador estará realizando estágio de pós-doutorado na University of Southern California (USC), nos Estados Unidos, com o professor Arieh Warshel – ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2013.