Monica Levy Andersen nasceu na cidade de Anápolis, no estado de Goiás. Aos três anos, mudou-se para a Venezuela, pois o pai foi transferido para uma fábrica de cimento naquele país. Lá nasceu sua irmã e a família então se mudou para Cracóvia, na Polônia, onde passaram um ano.
De lá decidiram instalar-se na Dinamarca, país natal de seu pai, onde Monica entrou para a escola, no ensino fundamental. Em casa, ela era alfabetizada em português pela mãe, que havia sido professora. Após alguns anos, voltaram para o Brasil e viveram em várias cidades, até que se instalaram definitivamente em São Paulo, cidade onde a Acadêmica reside até hoje. Essas constantes mudanças proporcionaram à Monica a oportunidade de conhecer diferentes culturas e idiomas.
Na convivência familiar, Monica ouvia seu tio biólogo contar as maravilhas da biologia, com suas células e órgãos formando sistemas perfeitamente funcionais, bem como as patologias que podem acometer órgãos anteriormente sadios. Desde então, fiz minha escolha de carreira e cursou ciências biológicas no campus Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – a mesma cursada pelo seu tio Sérgio Levy.
A dúvida sobre o caminho a seguir após a faculdade dissipou-se na primeira aula de fisiologia ministrada pelo professor Katsumasa Hoshino, que a convidou em seguida para realizar um estágio em seu laboratório. Durante o andamento da disciplina, Monica conta que teve uma aula inesquecível, em uma fria manhã de sábado, cujo tema “sono” viria, no futuro, a nortear sua vida profissional. Sua admiração pelo mestre, cientista de integridade e idealismo extraordinários, nas palavras de Monica, foi fundamental para despertar a paixão que ela nutre pela ciência e guiar até os dias atuais seus passos científicos. “Criamos um forte laço de amizade e tenho no estimado professor Hoshino meu exemplo do que é ser um cientista e a certeza de que fazer ciência depende muito mais da paixão pelo método científico do que de infraestrutura ou equipamentos disponíveis”, declara a Acadêmica.
No segundo ano da faculdade, após poucos meses de estágio sob orientação do professor Hoshino, Monica Andersen foi contemplada com uma bolsa de iniciação científica (IC) do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nesse período, participou do seu primeiro congresso científico, com apresentação de trabalho na forma de pôster. “Ali ficou claro que minha trajetória profissional seria pautada pela apaixonante vida acadêmica.”
Para dar continuidade à investigação do tema “sono”, que vinha estudando, o professor Hoshino indicou à Monica o Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde ela iria trabalhar com um dos maiores especialistas nessa área: o professor Sergio Tufik.
Com a sólida formação obtida pela graduação na Unesp/Botucatu e interessada em pesquisa, iniciar o mestrado foi um passo natural em sua caminhada acadêmica. “Durante a realização dos experimentos, contei com a valiosa ajuda do Acadêmico César Timo-Iaria, que havia sido orientador do professor Hoshino, era pioneiro nos estudos de sono no país e emérito fisiologista. Devo a ele um aprendizado abrangente sobre os campos mais diversos da ciência, da Grécia Antiga aos dias atuais”, agradece Monica Andersen.
A paixão amadurecida pela ciência, a maravilhosa experiência do mestrado e o prazeroso convívio diário com o professor Sergio Tufik naturalmente impulsionaram Andersen a continuar no mundo acadêmico. “Sergio é uma pessoa excepcionalmente vibrante, entusiasta e de rara bondade, que desde o primeiro momento orientou, confiou e incentivou cada uma de minhas decisões e ideias, proporcionando uma orientação humana e profissional”, elogia a Acadêmica. Além disso, ela atribui a Tufik a ideia do projeto de doutorado, realizado também na Unifesp, que transformou-se em linha de pesquisa. Andersen fez um estágio de pós-doutorado na Divisão de Neurofarmacologia e Doenças Neurológicas do Yerkes National Primate Research Center, na Universidade Emory, nos Estados Unidos. Atualmente é professora da disciplina de Medicina e Biologia do Sono do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.
Ela vem conduzindo pesquisas sobre o sono nos últimos 20 anos e sua produção científica tem contribuído para o entendimento do controle da função erétil e de fatores, como a privação de sono, que modificam sua manifestação, bem como para o desenvolvimento de possíveis evidências neuro-hormonais envolvidas nesse processo tão complexo. Paralelamente, os projetos enfocando os efeitos da privação de sono na função reprodutiva têm demonstrado relevantes alterações centrais e periféricas em ratos, com possíveis repercussões em seres humanos.
Entre outras coisas, Monica Andersen é revisora de mais de 80 revistas estrangeiras e faz parte do Corpo Editorial de outras, além de ser editora-chefe da Sleep Science. Em 2007, foi uma das vencedoras do Prêmio Para Mulheres na Ciência concedido pela LOréal-Unesco-ABC. Publicou mais de 240 artigos em periódicos científicos internacionais, e é autora de três livros e 20 capítulos. Em seus livros, Andersen busca contribuir para a disseminação do conhecimento sobre ética, manipulação de animais de experimentação e condutas gerais de laboratório, de forma a fortalecer a consciência da importância do animal como objeto de estudo, oferecendo orientação e assistência na condução de pesquisas ou ensino.
Sua opção pela dedicação em tempo integral à atividade acadêmica tem pautado e seus ideais científicos. Para Andersen, o título de membro afiliado da ABC representa, mais do que o reconhecimento de sua carreira, a comprovação de que o prazer pelo trabalho aperfeiçoa seu resultado. “Estou convicta de ter exercido com paixão até aqui todas as atribuições da vida acadêmica, e creio estar apta a assumir o compromisso honroso e gratificante de representar a Unifesp como membro afiliado da ABC.”