Gustavo Henrique Frigieri Vilela teve uma infância “bem gostosa”, segundo ele, na cidade de Araraquara, no interior do estado de São Paulo. Filho único, foi criado pela mãe, os avós maternos e a tia. “Meu avô era eletricista e minha tia secretária, os dois eram responsáveis por manter a casa. Minha mãe dedicou toda sua vida para a minha criação. Minha família se esforçou muito para que nada me faltasse, mesmo que para isto tivessem que abrir mão de várias coisas”, reconhece o Acadêmico.
O menino brincava muito – gostava de esportes e jogos eletrônicos -, mas também tinha apoio para realizar atividades que eram incomuns na época: ganhou seu primeiro computador aos nove anos. Autodidata em programação,
No colégio, sempre gostou de ciências, história e matemática. Meu primeiro contato com a ciência foi com computação, mais especificamente com programação. “Acabei sendo autodidata e buscava informações em livros e revistas, o que despertou meu interesse e habilidade em pesquisar informações que julgava interessantes”, conta Gustavo. Ele fez seu primeiro software para ajudar o avô a acompanhar o sorteio de bingos que ocorriam na TV local.
Primeiro da família a cursar uma universidade, o processo de escolha da carreira lhe provocou dúvidas, uma vez que gostava de assuntos relacionados à saúde e também de ciências da computação. Prestou vestibular então para ciências farmacêuticas numa universidade e para ciências da computação em outra, esperando uma ajudinha do destino no desfecho da situação. Mas a ajuda não veio: Gustavo passou nas duas e não teve como fugir da escolha, optando pelo curso de Farmácia/Bioquímica na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Araraquara.
No primeiro ano de graduação, Gustavo procurou um estágio de iniciação científica em biologia molecular. “Senti logo nos primeiros meses de aula que pesquisa era o campo que mais me interessava na faculdade e fui logo aceito no laboratório do professor Sandro Valentini. Tive contato pela primeira vez com assuntos multidisciplinares, o que foi decisivo para minha carreira acadêmica”, conta o cientista.
Gustavo Vilela pulou o mestrado e foi direto para o doutorado em física biomolecular, no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP). “Eu tive a honra de ter como orientador o Acadêmico Sérgio Mascarenhas, um exemplo de pesquisador e gestor científico e, com certeza, a maior influência em minha vida profissional”, ressalta.
No doutorado, Vilela travou contato com pesquisadores de diversas universidades do Brasil e exterior, o que auxiliou no desenvolvimento de sua tese e aumentou sua rede de interações profissionais. Seu trabalho visa desenvolver e colocar no mercado equipamentos médicos, em especial monitores minimamente invasivos e não invasivos para monitorar a pressão intracraniana (PIC).
“A PIC é a pressão existente no interior do crânio e seu monitoramento é muito importante em casos de traumatismos cranianos, AVCs (derrames), hidrocefalia, entre outros. Atualmente todos os equipamentos existentes no mercado são invasivos, ou seja, há a necessidade de perfurar o crânio do paciente e inserir o sensor no sistema nervoso central, o que acarreta diversos riscos ao paciente e encarece o procedimento”, explica o pesquisador. O objetivo do grupo que Vilela integra é oferecer aos pacientes novos métodos, mais seguros e acessíveis aos sistemas públicos de saúde.
Vilela fez um estágio de pós-doutorado no Departamento de Física e Informática do Instituto de Física de São Carlos e também na empresa Sapra S.A., onde teve a possibilidade de agregar conhecimentos de gestão de projetos, boas práticas de fabricação e registro de equipamentos médicos em órgãos regulatórios no Brasil e no exterior.
O cientista diz que o que o motiva a levantar cada segunda-feira é a busca pelo novo, pelo desconhecido, assim como a união de forças com o objetivo de atingir uma meta comum, muitas vezes unindo pesquisadores de diversas nacionalidades. “Na minha área, instrumentação médica e neurociências, o número de perguntas que ainda precisam ser respondidas é muito grande e a possibilidade de poder colaborar com o avanço do conhecimento é o estímulo para o pesquisador”, afirma Vilela.
E ele adora ler. “Leio todos os tipos de livros, que são meus companheiros nas noites de insônia”, conta. E também é apaixonado por tecnologia. “Descobrir novos equipamentos e funcionalidades deixam meus dias mais leves.” Mas Gustavo Vilela considera que seu maior prazer é viajar. “Adoro conhecer novos lugares, descobrir as histórias e culturas de cada povo. Tento levar uma vida leve, focando em um objetivo por vez para que não perca o caminho.”
O título de membro afiliado da ABC foi um divisor de águas em sua vida. Para Vilela, a eleição confirmou sua certeza de estar trilhando o caminho correto. “Eu pretendo colaborar com a ABC estimulando os jovens a fazer ciência, divulgando sua importância e mostrando que, com perseverança e dedicação, é possível fazer ciência no Brasil.”