O presidente da Finep Inovação e Pesquisa, Glauco Arbix, esteve na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na terça-feira, 5 de agosto, para debater com Acadêmicos as Plataformas do Conhecimento. O novo programa do Governo Federal tem o objetivo de promover setores estratégicos e alavancar o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. A iniciativa já havia sido tema discussão na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e outras instituições.
O presidente da ABC, Jacob Palis, com o presidente da Finep, Glauco Arbix
O PNPC [Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento] pretende promover até 20 plataformas nos próximos dez anos. No encontro na ABC, Arbix apresentou as áreas de dez dessas plataformas, que foram definidas na primeira reunião do comitê técnico. Os temas são: avião verde; biofármacos; vacinas; biocombustíveis e bioquímicos a partir da cana-de-açúcar; nanomateriais para as indústrias de petróleo e gás e energia; reator multipropósito; Projeto Sirius; satélites; equipamentos ópticos aplicados à saúde e tecnologias de manufatura avançada (TMA).
O convidado informou, no entanto, que esses temas já foram reduzidos a seis, porque alguns, como vacinas e biofármacos, foram fundidos.
“Essa é uma proposta de governo que foi formulada com a participação de todas as agências de ciência, tecnologia e inovação e da comunidade científica”, afirmou Arbix, destacando que 256 especialistas foram consultados para a elaboração do PNPC. “Há necessidade de elevar o patamar e o impacto de CT&I no Brasil, e as plataformas do conhecimento são uma parte dessa ação. A ABC pode ser o lugar por excelência para se discutir como aumentar esse padrão.”
Isso porque os indicadores atuais revelam que aumentamos a produção de artigos científicos no Brasil, mas não o seu impacto. Além disso, projeções mostram que, se mantivermos a taxa de crescimento atual, apenas em 2035 alcançaremos a média de artigos por milhão de habitantes dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A Coréia do Sul, que já esteve equiparada com o Brasil, atingiu esse patamar em 2012.
Glauco Arbix ressaltou que as Plataformas do Conhecimento não impedirão a continuidade das políticas anteriores de incentivo à ciência e inovação, como os Institutos Nacionais de Ciência e tecnologia (INCTs), o Programa de Infraestrutura da Finep (Proinfra), o Edital Universal e o Ciência sem Fronteiras (CsF).
As Plataformas do Conhecimento, conforme expressa o artigo 2º do Decreto 8.269/2014, serão “a empresa, o consórcio ou a entidade privada sem fins lucrativos que reúna agentes públicos e privados que atuem em conjunto para obter resultados concretos para a solução de problema técnico específico ou obtenção de produto ou processo inovador de elevado risco tecnológico, com metas e prazos definidos”.
Elas devem ser integradas por equipes de pesquisadores vinculadas a instituições de pesquisa científica e tecnológica, além de empresas nacionais. A intenção é associar inteligência e lideranças científicas e tecnológicas para garantir gestão e cooperação, reunir os melhores profissionais e atrair cérebros do exterior, assegurar recursos e viabilizar pesquisa de fronteira por dez anos. As plataformas serão avaliadas por seus resultados, geração de conhecimento, produtos e processos de relevância para a ciência e para a vida social e econômica do país (patentes, vacinas, enzimas, materiais etc).
Debate com os Acadêmicos
A apresentação gerou questionamentos por parte dos Acadêmicos que participaram do encontro. Foram eles: Elisa Reis, Jerson Lima, Evando Mirra, Luiz Davidovich, Jailson Bittencourt, Elíbio Rech, Luiz Pinguelli, Renato Cotta, Carlos Morel, Edmundo de Souza e Silva e Débora Foguel.
Para Davidovich, uma das principais perguntas é de onde virão os recursos para as Plataformas do Conhecimento, já que o decreto não detalha esse aspecto. Já Pinguelli afirmou que a universidade tem papel crucial nessa iniciativa, pois é responsável pela formação de recursos humanos, mas acrescentou que a “visão pecaminosa” que se tem da relação entre a academia e a empresa é uma amarra que deve ser quebrada.
Elisa Reis opinou que a ousadia é imprescindível, mas é necessário um esforço concentrado, pois, se cada um trabalhar sozinho, não se chegará a lugar algum. Jerson Lima complementou que a parceria com as fundações de amparo à pesquisa (FAPs) não pode ser esquecida.
Glauco Arbix enfatizou que nem ele, nem o governo têm respostas para todas as perguntas. “Na questão das universidades, por exemplo, eu acho que elas podem participar da iniciativa, mas não podem ser a base. A cultura, a tradição são fatores que dificultam. Vai ser complicado se não mudar toda a estrutura da universidade.”